Cap.8: Mudança de Direção

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Nem em todo fim termina a historia.

(Vitor Pantaleão)

Depois de alguns metros andando Marcelo caiu, e em um susto eu o segurei.

_Eu não disse que você estava muito fraco?! Não sei como você ainda conseguiu enfrentar Agares.

_Eu não estava brincando quando disse que ficaríamos juntos até a morte.

Ele se levantou, e disse que estava bem, que aquilo não tinha sido nada, mas eu sabia que ele não estava e no fundo eu sei que ele sabia.

Andávamos devagar por causa dele, e tínhamos fragmentos de conversas, já que a cada palavra ele dava um profundo suspiro.

A cada minuto ele parecia mais fraco, a cada segundo eu tinha a impressão de que o Rúach Ha Kodesh dele estava ficando mais sem brilho, mas ele não parecia se importar com aquilo. Ele mantinha os olhos firmes a frente, eu não sabia o porque que ele estava fazendo aquilo, ele parecia ter um objetivo, e não parecia ser chegar na terceira dimensão, já que ele mais que ninguém deveria saber que naquele estado ele não chegaria a lugar nenhum. E então o Marcelo deu uma baixa risada.

_Qual a graça mano?

_Estou me lembrando daquela garota que você pagou o maior mico, não acredito que você fez aquilo.

_Você me empurrou na frente dela. O que queria que eu fizesse?

_Calma mano, vai ter outras pra você arriscar. Só me promete que não vai mais fazer aquilo.

_Prometo garanhão, não vou mais decepcionar o senhor mestre, quando me casar, você vai ser o padrinho.

Ele deu um leve sorriso e eu dei três tapinhas nas costas dele, e continuamos o nosso caminho. Depois de poucos minutos de silêncio ele retrucou.

_Não posso dizer que aceito.

_Não aceita?

_Ser seu padrinho.

_Mas... porque?

_Nada... só não aceito.

Aquilo me soou rude da parte dele, afinal, falar aquilo sem motivo era desnecessário.

_Sabe, eu passei muito tempo pensando sobre meu pai, sobre o como ou o porque ele havia morrido. Na minha cabeça eu fui o culpado.

_Mas como você iria ser o culpado?

_Não sei... eu sempre pensava que eu poderia ter feito algo, se eu fosse mais forte... quem sabe poderia ter segurado a corda... não sei... mas eu não fiz nada, eu só fiquei parado, olhando ele cair, imóvel.

_Cara, a culpa não foi sua...

_É o que todos dizem, sempre disseram, mas ninguém nunca me convenceu. Palavras são somente folhas, e eu imagino o vento como situações... as folhas se movem para onde o vento estiver soprando não é?

Eu comecei a conhecer um lado do Marcelo que eu não conhecia, um lado que se escondia atrás daqueles vários sorrisos.

_É...

Eu não consegui argumentar sobre aquilo, não achei nenhuma palavra.

_E desde que vi meu pai morrer na minha frente e eu não fiz nada, eu prometi, que nunca mais ficaria parado se eu visse alguém que eu amasse em perigo.

Aquilo até explicou bastante coisa, mas ainda tinha uma coisa. Até que...

_Por isso no abismo, quando aquelas criaturas apareceram... ver elas escalando aquele abismo e eu na beira, foi como se meu pai estivesse subindo... eu não sei... foi algo que pra ser sincero eu nem sei explicar direito, foi como se meu pai estivesse vindo me cobrar.

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