Capítulo 4

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Acordei em pânico, enquanto me debatia sobre o colchão fino. O ar já não era o suficiente, ele me faltava. Após mais alguns segundos de pânico pude notar minhas mãos envoltas sobre meu pescoço fazendo tamanha força. Me sentei rapidamente arfando. Assim que minha respiração voltava ao normal aos poucos, senti lágrimas que antes eu não havia percebido, escorrendo pelo meu rosto. Ainda era noite e o silêncio predominava cada pedaço daquele lugar, o que era perturbador demais. Já faziam dias que eu estava presa ali, e por mais que não fossem muitos parecia que havia se passado uma eternidade.

Depois de minutos, que pareceram horas cedi e deitei, sentindo o pouco conforto daquela cama. Os pesadelos aumentavam cada vez mais, mas o mais estranho era o que havia me assombrado nesta noite, ele não era igual aos outros que me visitavam durante as únicas horas de descanso que eu deveria ter. Os únicos momentos de sossego que me sobravam. Esse, de todos era diferente e o mais agonizante. Mas eu não sabia explicar ao certo o porquê disso. Senti meu corpo relaxar, comecei a me  sentir mais confortável do que o normal, os meus olhos começaram aos poucos a pesar e o cansaço começou a travar uma intensa batalha com minha vontade de mantê-los abertos, de me manter alerta, por mais que o medo de enxergar algo me dominasse. Por que eu sabia, sabia que se me permitisse essa entrega eu entraria em um mundo repleto dos piores monstros. Aquele mundo que era a escapatória para todas as pessoas, um mundo cheio de sonhos. Ele não me pertencia. Comecei a ceder cada vez mais, inevitavelmente e assim que minhas pálpebras se fecharam, o vazio e a completa escuridão tomou conta.

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Sentir o pouco vento bater no meu rosto, era algo que agora eu apreciava e muito. Afinal, passar quase um mês na solitária e ainda me manter sã era algo que estava superando as minhas expectativas e me orgulhava disso. Mas parecia que meu psicológico era cada vez mais afetado pelos estranhos pesadelos que me assombravam. A memória da noite anterior me vem a mente e balanço a cabeça levemente para afastar as imagens.

Ouço passos ao meu lado e ao me virar, vejo o tão conhecido enfermeiro apenas me olhando e trato de desviar o olhar rápido. Respiro fundo o seguindo até o refeitório um tanto acabado, antes que ele fale algo e ao chegar lá, me perco olhando os outros com sua própria insanidade.

Sento em uma mesa e continuo observando-os. Em um canto perto da porta do pequeno cômodo, noto que aquele Doutor arrogante, nos ronda. Talvez em busca de algum erro nosso, em busca de alguma desculpa para que fizesse da nossa vida um inferno, que fizesse daquela nossa experiência pior do que poderia ser. Eu estava tão distraída, que nem notei quando alguém se sentou ao meu lado.

-Esse lugar é entediante, não?- Ela perguntou e deu uma mordida em uma maçã. A olhei e pude notar uma leve cicatriz em sua bochecha e me perguntei o que ela havia feito para estar ali. Ela não era muito mais velha que eu e seus olhos verdes me revelaram, que um dia foram brilhantes de tanta felicidade que carregava, por mais opacos que hoje se faziam. Seus cabelos eram loiros e medianos. Ela era bonita. Senti uma pequena onda de tristeza percorrer meu ser, não só por ela ou por mim, mas por todos que estavam ali. Provavelmente por que ninguém os queria por perto. Todos nós éramos mais parecidos do que eu imaginava. Após encara-la, virei me novamente para frente. Não queria falar. Não podia. Essa era a triste realidade que eu carregava em meus ombros.

Tudo estava tão calmo, talvez ela tivesse razão. O tédio se sobressaia para quem tinha o sonho de ter uma vida de verdade. Escutei ela soltar uma risada fraca.

-Você é importante demais pra se meter com a plebe?- perguntou ela, enquanto me encarava.-

Não tive coragem de olha-la e quando estava prestes a me levantar e sair dali. Gritos começaram a ecoar pelo refeitório. Olhei para a direção da confusão e vi uma garota morena alterada, enquanto falava coisas para o doutor e apontava o dedo na sua cara. Sua expressão era de medo, por mais que ele tentasse disfarçar com o ódio e repulsa. Eu sabia o que aconteceria a ela. Me levantei e comecei a me aproximar dos dois, mas então alguém segurou meu pulso com força. Quando me virei para encarar o responsável, um garoto me encarava com determinação.

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