1. Intenso

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- Quantos filmes você já gravou? - A voz anasalada começava a incomodar Jack, que não entendia o sentido da pergunta.

- Isso é relevante? - Ele questionou com alguma irritação na voz.

- Jack... - A mulher do outro lado da linha suplicou.

- Não posso dizer. - Ele admitiu. - Sequer faço ideia. Não conto este tipo de coisa.

Era verdade. Jack O'Connell aprendera muito rapidamente para que serviria na vida. Aparência exótica, corpo desenvolvido precocemente graças à paixão por esportes, dança e uma genética exageradamente boa. Logo que concluira o ensino médio, um olheiro de agência fotográfica o abordara. O rapaz havia conquistado três bolsas em universidades, graças aos esportes, mas as cifras mencionadas pelo agenciador e as facilidades oferecidas para conquistá-las falaram muito mais alto. O trabalho não era "fácil" como costumam dizer os conservadores. Transar com três, quatro, às vezes cinco, mulheres diferentes por dia era extremamente extenuante. Muitas vezes era exigido que fizesse sexo por horas seguidas, repetidas vezes, sem considerar que seu corpo pudesse não querer ser forçado a tanto. Era um trabalho pesado, e Jack julgava-se merecedor de seu escandaloso salário.

- Como você monta seu portfólio?

- Eu não monto. - Admitiu mais uma vez e remexeu-se desconfortavelmente na poltrona. - Eles me procuram, fazem a proposta, eu vou lá e mostro minhas ferramentas de trabalho, se é que me entende.

A mulher do outro lado pigarreou e O'Connell teve certeza de que ela conhecia muito bem suas ferramentas de trabalho.

- Pra quê estamos tendo essa conversa? - Ele quis saber.

- Você está parado, Jack. Precisa estar na indústria. - Ela instruiu.

- Eu não quero falar com você. - Ele desabafou. - Peça para outro me ligar, o Justin talvez.

- Fui designada para te assessorar, porque a agência concluiu que você é hostil. - Ela explicou. - Sou especialista em tratar clientes hostis.

- Eu já dei muita grana pra essa agência. - Ele falou em tom desdenhoso. - Vocês já usaram demais do meu staff, deveriam me agradecer e não mandar um cão de guarda.

- Você é valoroso para nós, Jack. - Ela bajulou. - Queremos deixar você feliz.

- Eu vou ficar feliz assim que desligar. - Ele avisou. - Obrigado pelo interesse, mas quando receber alguma proposta que preste, eu aviso.

No momento seguinte a chamada foi encerrada e o homem desligou o aparelho. Afundou-se ainda mais na poltrona, irritado e frustrado. Ele sabia que se continuasse recusando trabalhos como vinha fazendo nos últimos dois meses, certamente seria colocado na geladeira. Mas ele não se importava, na verdade. Ultimamente vinha evitando fazer sexo. Se tivesse aquele pensamento há quatro anos atrás, se daria um chute, mas não era o caso. Jack O'Connell tornou-se modelo fotográfico, mas não durou nem um ano na função. Logo a agência BLOCKED abriu o jogo e disse que ele tinha o perfil exato para um trabalho mais "intenso". Aquilo significava que ele tinha um membro mais proeminente que o normal, e que a agência queria um teste de resistência física e sexual. 

Sua subida foi meteórica porque ele gostava - mesmo - de transar. Tudo colaborava para o sucesso, e ele logo veio. Jack manteve-se alheio às drogas, ao álcool, às prostitutas, às doenças venéreas e às emoções. Perdera alguns relacionamentos por causa de sua aversão ao sexo, causado pela superestimação do ato devido suas funções profissionais. O que antes era divertido, depois de certo tempo tornou-se mecânico, e ele passou a não fazer questão. Algumas namoradas o enxergavam como máquina do sexo, tarado, pervertido, maníaco sexual e quando notavam que ele era tão normal quanto elas, o problema começava.

- Preciso de um desafio. - Concluiu.

Jack ergueu-se da poltrona e caminhou pela casa, tentando encontrar inspiração. Até um simples pensamento incomodava àquela altura. Vinha sendo cobrado de todos os lados, mas sentia que já havia alcançado o topo, e precisaria de uma proposta muito atraente para voltar à ação.

- Olá! - A voz suave de Callie Hodrick fez com que um arrepio gostoso percorresse a espinha de Jack.

- Como entrou? - Ele quis saber apenas por mera formalidade, já que o porteiro de sua propriedade jamais diria não para aquela mulher estonteante.

- A porta estava aberta. - A ruiva incrivelmente alta alcançou Jack e pendurou-se em seu ombro, em um abraço por trás. - Vai me expulsar?

A voz de Callie no ouvido de Jack estava convidativa. Ele sorriu e deixou que ela beijasse seu rosto ruidosamente.

- Não sou louco a este ponto. - Ele segurou as mãos dela, que começavam,lentamente, a percorrer um caminho perigoso em sua barriga. - Quem te mandou?

- Justin, claro. - Ela explicou. - Quer saber porque nosso poderoso Mágico está recluso.

- Aquele bastardo. - O'Connell resmungou. - Eu só preciso de um tempo.

- Tempo, Jack? - A ruiva o soltou e girou os ombros largos do ator para encarar seus olhos. - Você nunca precisou de tempo. Sempre foi o mais intenso, mais apressado, mais ousado e sexy de todos.

- Eu só perdi a sensibilidade.

- Está com problemas? - Os olhos dela ficaram ansiosos. - Está com disfunção?

- Cala essa boca! - Ele gemeu e deu um selinho nos lábios cheios da mulher. - Só cansei!

- Você terminou com a Ella.

- Eu não queria mais nada com ela. - Jack deu de ombros.

Ella Martin, uma mulher incrível. Bela, sensual, cabelos curtos em um corte channel que a tornavam especialmente atrevida. Pernas longas, seios pequenos, sorriso capaz de enlouquecer o mais pacato dos homens. Não funcionou para Jack. Não funcionou para Ella. A maioria das discussões acontecia porque, para ela, ele deveria ser o mesmo que representava nos filmes eróticos, quando, na verdade, ele fazia questão de ser ele mesmo sempre que possível. Mas o maior problema era que O'Connell não conseguia sentir prazer na cama, mas este não era problema da garota, por isso a dispensou.

- Por que? - Callie ergueu uma sobrancelha. - Você está deprimido?

- Talvez. - Ele ponderou. - Não consigo me relacionar com ninguém. Sempre que penso em fazer sexo, sinto que estou indo para o trabalho. Virou algo automático e não há nada que eu já não saiba.

- Sexo é uma necessidade, meu amigo. 

- Pois que ela encontre outro pra satisfazer. - O homem passou uma das mãos pelos cabelos. - Me sinto usado e usando. Então não, não quero fazer sexo.

- Você está parecendo uma garotinha mimada com essa conversa. - Callie debochou.

- Já te mandei calar a boca hoje? - Ele gargalhou pela primeira vez em dias e ela deu um soquinho em seu ombro.

- Jack, e o trabalho?

- Só farei algo que realmente me interesse. - Ele pontuou. - Diga isso para o Justin.

- Ele vai enlouquecer. - Ela concluiu. - Você é nosso maior e melhor astro.

- Ele vai sobreviver, Callie. - Jack olhou de volta para a amiga e massageou seus ombros demoradamente, fazendo com que ela suspirasse de dor e alívio. - Afinal de contas, ele tem você. O que mais pode precisar?

- Justin me pediu em casamento ontem. - Ela anunciou vagarosamente. - Ele quer que eu me aposente e me torne uma mulher respeitável, essas foram as palavras dele. Você acredita nisso?

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