O ar tinha gosto de doces e protetor solar fator 50, minha pele estava quente e o grito das crianças, altos. Mesmo que, periodicamente, Luhan soltasse um palavrão após alguma criança atrapalhar o seu esboço, estava tudo bem, tudo perfeitamente bem.
Frida cantarolava palavras desconexas enquanto servia de modelo para Luhan em baixo de um ipê roxo, ele me confidenciava que Frida era Perséfones.
Mas para mim, Frida não era nenhuma deusa mitológica grega das flores. Frida era uma flor.
Dentes-de-leões sopraram. Eu senti sua penugem fazendo cosquinhas nas minhas bochechas e na sola dos meus pés descalços.
-Façam pedidos-Luhan disse, ouvi o som de algo leve sendo jogado na grama ao meu lado, talvez seu caderno ou seu lápis, sendo os objetos depois reposicionados quando seu dono tomou o seu lugar.
-Acho que vou pedir um disco de vinil e você, Xiumin?- Senti uma carícia nos meus cabelos. Se ela continuasse assim, eu viraria uma poça, meu corpo se derretendo sob as pontas dos seus dedos.
Eu só queria minha mãe, eu sinto falta dela Frida, tanta. Você me lembra ela sabia? Minha mãe também cantava para mim, eu me lembro de algumas canções de ninar. Ela ligava meu abaju, beijava minha testa, sentava do meu lado e me colocava no seu colo. Eu nunca entendi bem o que ela cantava, mas parecia bonito, tão bonito que ela chorava as vezes e seus pingos escorriam pelas minhas bochechas.
-Eu peço amarelo-Respirei fundo empurrando o dente de leão que o pintor havia equilibrado no meu nariz.
Porque amarelo era felicidade, era minha mãe, dias de sol, gargalhadas e pele descascando.
-Luhan?-Frida chamou
-Eu só peço pincéis novos-Ele murmurou.
Sempre que eu tocava na minha "condição física", Luhan se tornava silencioso como a noite. Eu não era triste por ser cego, eu só queria cores. Não me considerava deficiente ou em desvantagem em relação a outras pessoas, eu sentia coisas que outras pessoas não sentiam. O pintor não sabia mas eu enxergava, da minha própria maneira, com o coração.
-Sejam meus olhos-Pedi.
Luhan adorava ser meus olhos, descrevia tudo de um jeito único e minimalista. Frida o ajudava, dando um pouco de sentimento as palavras.
Para Frida, crianças brincando não eram apenas criança brincando, Frida as via como um bando nada gracioso de focas barulhentas. A cantora tinha sua própria maneira de enxergar o mundo.
Minha mãe deveria estar aqui, ela adorava me trazer para o parque junto com Drácula e sanduíches com geléia de morango. As vezes ela se entristecia com algumas de minhas perguntas.
Um dia eu havia perguntado qual era a cor do seu cabelo. Silêncio. Ouvi fungos e suspiros.
-Desculpe por não poder enxergar, mamãe-Lamentei largando a bola de plástico e sentando ao seu lado.
Para ela, minha cegueira nunca foi uma maldição e sim uma bênção. E ela me ensinou a ver isso desse jeito, mas quando ela morreu, eu não consegui encontrar mas o caminho certo. Me desculpe, mamãe.
PS LEIAM MINHA NOVA OBRA CORAÇÃO MECÂNICO!!!ME AJUDEM POR FAVOR!
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Índigo 《Xiumin》
FanficUm pintor fracassado, uma cantora sem futuro e um cego que tenta enxergar as cores ao seu modo. Não éramos estranhos ou diferentes, éramos nós. Éramos índigo.