Rendições À filha de Marcus

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POV Alice

Quando Esme nos acordou e pediu que fossemos para o quarto do conde fiquei confusa, ainda mais por encontrá-lo esperando na porta. Por um momento cheguei a desconfiar, mas logo me arrependi de pensar mal dela, afinal, eu a conhecia bem o suficiente para saber que não era esse tipo de mulher. 


Carmem não parecia ter a mesma confiança que eu, percebi como ela ficou muito inquieta quando passamos para o outro quarto.

- Carmem? Não fique assim, tenho certeza que não é o que você esta imaginando – eu tentei acalmá-la.

- Eu não estou imaginando nada – ela negou.

– Tudo bem, se você não quer falar sobre isso... Apenas saiba que ela nunca a magoaria desse jeito.

Ficamos sentadas, sem falar mais nada. Meu sono tinha desaparecido e eu me sentia incomodada. Decidi tomar um pouco de ar.

- Eu vou lá fora por um minuto, quer vir comigo? – perguntei calma.

- Não, eu prefiro ficar aqui mesmo – não insisti.

A noite estava muito agradável fora da hospedagem, me acomodei em um conjunto de bancos, um pouco a frente do local, e fiquei admirando as estrelas. Era um dos meus passatempos favoritos, olhar para o céu. Desde criança eu ficava fascinada, admirando o brilho distante.

Fique tão distraída que me assustei quando vi que havia alguém próximo a mim. Eu não havia escutado ninguém se aproximando.

- Desculpe, eu não quis assustá-la – o major Whitlock se desculpou assim que viu meu sobressalto.

- Oh, não precisa se desculpar. Eu apenas não havia percebido que mais alguém estava aqui – me expliquei.

- Decidi vir aqui fora um pouco e a vir sentada aqui... – respondeu um pouco nervoso.

- Também sai para tomar um pouco de ar... Gostaria de sentar-se? – eu o convidei, timidamente, a sentar-se ao meu lado.

- Claro, embora meu ponto de vista seja bem melhor aqui – ele falou, me fazendo corar e olhar o chão envergonhada.

Ele riu enquanto sentava-se ao meu lado, bem próximo de mim, nossas mãos quase se tocando. Voltei a olhar para o céu, ele olhou-me por mais um minuto antes de voltar sua atenção para as estrelas também.

- Sempre gostei de admirar o céu, principalmente em lugares pouco povoados como esse. Aqui as estrelas brilham mais – ele falou sorrindo e sua voz me passava uma tranquilidade muito boa.

- Também gosto de admirar as estrelas. Em Genovia eu costumava fazer isso todas as noites – eu lhe falei pensativa. - Costumávamos dormir em celeiros ou lugares parecidos, então, às vezes, eu podia dormir olhando o céu – eu falei, me lembrando das coisas boas de meu país.

- Sente falta de lá, de Genovia? – ele perguntou, interpretando errado meu tom.

- Ah não, não a nada para eu sentir falta lá – falei e ele me olhou achando estranho.

- Você não tem ninguém lá? Família? Namorado? – eu ruborizei com essa última palavra.

- Não, eu não tenho nenhuma família lá, nem ninguém – respondi e vi que ele me olhava curioso, como se quisesse perguntar algo, mas não tivesse certeza se devia fazer. Eu entendi o que ele queria. – Eu sou órfã... mais ou menos – tentei falar e parei me sentindo um pouco mal.

- Como "mais ou menos"? – ele perguntou com as sobrancelhas franzidas. – Desculpe se estou sendo rude em perguntar isso – ele falou, me olhando nos olhos com ternura.

- Não tem problema... Minha história é complicada – eu falei, tentando encontrar um jeito simples de explicar. - Eu não sou órfã de verdade, tenho pais vivos e sei quem eles são. Mas... eles nunca foram pais. Você me entende? – comecei a falar, sem querer contar tudo realmente. Meus pais foram cruéis.

- Não muito – ele admitiu.

Suspirei e decidi ir por outro caminho.

- Eu sou filha de Aro – falei de uma vez.

- Espere, você quer dizer do rei Aro? – ele perguntou chocado.

- Sim, o rei Aro – falei com ironia. Como eu detestava até mesmo falar o nome dele.

- Ele teve um caso com a duquesa Corin, uma nobre casada. Nenhum deles, nunca, teve qualquer interesse por mim. Ela escondeu a gravidez até o fim e abandonou-me assim que nasci – completei a minha explicação.

- Eu... sinto muito... Eu não fazia ideia – ele falou, me olhando preocupado.

- Tudo bem, há muito tempo deixei de me importar com essa história – falei mais calma.

- Se ela a manteve em segredo, como você sabe disso tudo? – ele me perguntou curioso novamente.

– Você já viu algo permanecer em segredo na corte? – eu respondi, me divertindo com sua pergunta inocente.

- Você tem razão – ele admitiu.

- Naturalmente, toda a corte descobriu sobre minha existência e a rainha Didyme ficou muito aborrecida com os dois, tanto pelo adultério quanto pelo abandono... Ela era uma mulher muito boa, Esme puxou a ela em muitos aspectos, além da beleza – falei, me lembrando.

- Para não desagradar ainda mais a tia, Aro tirou-me do orfanato e me levou para sua propriedade, deixando-me abandonada a minha própria sorte por lá... Foram os piores anos de minha vida. Um dia, ele deu uma festa e convidou à princesa Esme. Ela viu o estado de abandono em que me encontrava e me levou para o Palácio Real... Ela salvou minha vida, eu tenho certeza. Desde então, estou com ela. Ela, Isabella e Edward são a única família que já tive – finalizei, percebendo que acabara de contar minha vida para um estranho. Mas, eu não o sentia como um estranho, sentia como se o conhecesse há muito tempo.

Ficamos calados por uns minutos, até que o olhei, ele me encarava com uma expressão triste, dolorida.

- Eu sinto muito – ele falou verdadeiramente e eu lhe dei um sorriso calmo, mostrando que estava bem.

- Agora que lhe contei toda minha vida, poderia conta-me um pouco da sua? – sugeri.

- Não há muito a dizer. Sou o filho de um nobre sem muita influência, que iniciou uma carreira no exército muito cedo e, desde então, o exército tem sido minha vida – ele falou calmo e sereno.

- Então, me conte como alguém tão jovem conseguiu ocupar um posto tão importante quanto o de major? – insisti, insatisfeita com a descrição curta de sua vida.

- O rei é um homem muito justo, sabe reconhecer o potencial e dedicação de seus súditos. Eu sempre fui esforçado e ele, eventualmente, percebeu e me recompensou.

Percebi que a ideia que ele fazia do rei era diferente da minha. Para mim, ele era um homem autoritário, que não tratava a esposa como ela merecia. Para ele, era um homem justo e correto. Guardei essas opiniões pra mim, não queria discutir com ele, estávamos tendo uma conversa tão agradável.

- E sua família? Deve haver mais a falar sobre eles do que o que disse. Você tem irmãos? – perguntei curiosa.

- Sim, três - ele sorriu, retribui.

- Esta vendo? Como eles são?

Ficamos algum tempo conversando sobre a família dele, até que ouvimos passos atrás de nós e nos viramos. Era o conde Eleazar.

- Boa noite – ele nos cumprimentou surpreso em nos ver ali.

- Boa noite, conde – eu e o major respondemos ao mesmo tempo.

- Saiu para apreciar a noite também, conde? – perguntei.

- Não tive opção... Já que fui tão gentilmente expulso de meu quarto – ele falou e nós três rimos de sua declaração.

- Por falar nisso, há alguém muito... inquieta em seu quarto por causa dessa mudança inesperada – eu lhe avisei.

- Ah, já estive com ela, acredito que esteja dormindo agora. O que pretendo fazer assim que encontrar um lugar – ele falou, nos fazendo rir de novo. – Se me dão licença – pediu e sorrimos.

- Acho que devo entrar agora – falei me levantando e o major fez o mesmo.

- Até mais, lady Alice – ele falou, beijando minha mão gentilmente em seguida.

- Até mais, major Whitlock – falei sorrindo.

- Apenas Jasper, por favor – ele me pediu.

- Até mais, Jasper – eu sorri timidamente ao usar seu primeiro nome.

Voltei para meu quarto na hospedagem sorrindo, sem saber o por quê. Carmem já dormia, como Eleazar havia dito. Tentei não fazer barulho para que ela não acordasse, enquanto me acomodava para dormir.

Quando estava quase pegando no sono, me perguntei por que Esme havia nos mandado para outro quarto. O que será que ela estava fazendo?

POV Esme

Acordei sentindo meu corpo e minha mente leves. Era difícil acreditar que a noite passada não havia sido um sonho, que ele realmente havia me dito que tinha vindo me ver, o que por si só já dizia mais do que qualquer outra palavra.

Espreguicei-me na cama, sem vontade alguma de levantar, e sorri. O fato de eu ter a cama só para mim era uma prova de que eu não tinha sonhado. A sensação de leveza em meu corpo e de vazio em meu estômago eram outra prova.

- Majestade? - Carmem falou do outro lado da porta. – Tem que começar a se aprontar, ou irá se atrasar – ela me avisou.

- Pode entrar Carmem – eu falei ao sentar na cama, me animando em lembrar que estava indo encontrá-lo. – Bom dia, Carmem! – falei completamente animada.

- Bom dia, Majestade – ela sorriu, analisando minha expressão. - A senhora parece muito feliz hoje – ela falou sorrindo e me encarando curiosa. Eu retribui o sorriso.

- E eu estou, Carmem. Vamos começar logo, quero chegar ao acampamento o mais rápido possível – falei, saindo da cama e começando a arrumar-me com sua ajuda.

Alice logo apareceu para ajudar e rapidamente fiquei pronta. Vesti-me como se fosse a um banquete e não a um campo de guerra, como Carlisle havia me pedido ontem. Mal podia esperar para ir a seu encontro, mas tinha que esperar que o major viesse dizer-me que estavam todos prontos para partirmos.

Felizmente isso não demorou muito.

- Majestade – ele me cumprimentou assim que apareceu. - Estamos prontos para partir, na hora que desejar – ele falou sorrindo um pouco.

- Então, partiremos imediatamente – eu falei, me levantando para acompanhá-lo.

Partiríamos na frente e nossas coisas seriam levadas depois, assim poderíamos chegar mais rápido. Fomos de cavalo, deixando a carruagem para trás. Assim, eu pude aproveitar melhor essa curta viagem.

Em cerca de meia hora, já éramos capazes de avistar o acampamento do exército e ver que eles nos esperavam, como Carlisle havia me prometido.

Esforcei-me para distinguí-lo, mas ainda estávamos muito longe. Tinha vontade de partir em disparada ao seu encontro, mas sabia que não seria um comportamento adequado. Em vez disso, continuei seguindo no ritmo lento e torturante que assumimos assim que vimos o acampamento.

Carlisle, aparentemente, estava tão impaciente quanto eu. Quando estávamos a certa distância, ele começou a aproximar-se, encurtando a distância até estarmos frente a frente. Ele ajudou-me a descer do cavalo com um sorriso caloroso nos lábios.

- Quanto tempo, minha querida – ele brincou e eu mal contive meu sorriso. – Você está ainda mais magnífica – ele falou, ainda sorrindo.

- Obrigada, Majestade. Estou muito feliz em vê-lo novamente - eu lhe respondi.

Ele deu-me um leve beijo na testa e pegou minha mão, levando-me para o acampamento. Não podíamos nós tratar com muita intimidade com tanta gente ao nosso redor, mas o modo como ele me tratou provou que as coisas realmente haviam mudado entre nós. Essa aproximação derrubou os últimos muros de desconfiança que eu havia erguido contra ele.

Caminhamos entre os soldados, que nos reverenciavam quando passávamos, até um homem que eu não conhecia. Paramos a sua frente e ele também nos reverenciou.

- Querida, deixe-me apresentá-la o general Alistar – Carlisle nos apresentou.

- Prazer em conhecê-lo, general – falei.

- Igualmente, Majestade – ele beijou minha mão.

Vi Carlisle revirar os olhos.

- Então, agora que ela está aqui, trate de acabar de uma vez por todas com isso – Carlisle ordenou mal-humorado ao general.

- Informarei aos rebeldes sobre a chegada da rainha e cuidarei de todos os detalhes da rendição imediatamente, Majestade – o general falou, olhando para Carlisle.

- Diga-lhes que terão que vir aqui. Eles são os perdedores, não temos que ficar indo atrás deles e fazendo o que exigem. E sim, o contrario. Prepare a tenda de reuniões, nós receberemos os líderes lá. - Carlisle ordenou e afastou-se, ainda segurando minha mão e levando-me junto para o que, a julgar pela quantidade de guardas protegendo, era sua tenda.

Assim que entrei eu olhei ao redor, curiosa, percebendo que isso era o mais próximo de seu quarto que eu já vira.

- Porque você está sorrindo? - ele perguntou com curiosidade.

- Ahn, nada... Só estava pensando que parece que faz muitos anos desde a última vez que entrei em uma tenda dessas, e, na verdade, não são nem dois meses – eu menti, inventando uma história.

- Você sente falta daquela época? – ele perguntou, me abraçando por trás e dando um beijo em meu cabelo. Ele parecia um pouco nervoso.

- Nenhum pouco... Se pudesse voltar atrás, nunca começaria aquilo, não pelo desconforto que passei, mas sim pela quantidade de vidas perdidas inutilmente – eu suspirei, descansando a cabeça em seu ombro.

Era tão bom estar assim em seus braços, eu me sentia tão confortada, protegida, as memórias dolorosas da guerra não me atormentavam tanto, enquanto eu sentia seus braços ao meu redor.

- A guerra é assim, minha querida, não há como não sofrer perdas – ele falou com uma voz distante.

- Eu não nasci para a guerra, então – falei, ele sorriu e deu outro beijo em meus cabelos.

- Você nasceu para o amor, minha querida.

Por um momento, pensei ter imaginado ao ouvir isso, era a coisa mais linda que ele já havia me falado. Girei em seus braços para olhar seu rosto. Ele selou nossos lábios, assim que virei meu rosto. Começamos em um singelo beijo, mas aos poucos nos tornamos cada vez mais ávidos. Os lábios pressionando-se, um contra o outro, com cada vez mais intensidade e paixão.

Até que fomos interrompidos.

- Majestades, os rebeldes já chegaram e está tudo pronto – um criado falou da entrada da tenda, ficando muito vermelho quando viu o que se passava ali.

Separamo-nos rapidamente, Carlisle lhe lançou um olhar que faria qualquer um tremer de medo. O pobre rapaz parecia querer enterrar-se no chão a sua frente.

- Já estamos indo, pode se retirar agora – Carlisle lhe falou com uma voz dura. – E da próxima vez, aprenda a não entrar sem aviso ou sofrerá serias punições – ele ameaçou o rapaz, que se retirou sem ter coragem de levantar os olhos novamente. - Pronta? – ele virou-se pra mim, assim que ficamos sozinhos.

Pude perceber em seus olhos que o homem carinhoso havia ido embora, dando espaço para o rei prepotente. Suspirei, chequei meu cabelo e vestido, me certificado que nosso momento de paixão não havia posto nada fora do lugar. Quando tive certeza que minha aparência permanecia impecável, eu assenti e deixamos a tenda.

Fomos até o lugar que ele havia escolhido para a ocasião e nos sentamos em tronos improvisados, com todo o exército ao nosso redor. Assim que nos acomodamos, Carlisle fez sinal para o general Alistar, que se afastou. Depois, ele voltou acompanhado de um grupo de homens, todos sujos e esfarrapado.

Eles pararam a nossa frente e permaneceram em pé, sem fazer qualquer reverência. O homem mais velho, que parecia ser o líder, olhou para Carlisle e depois pra mim, fazendo uma profunda reverência, e em seguida os outros o imitaram. Pude ver Carlisle contrair-se, pelo fato deles reverenciarem apenas a mim. Apertei sua mão, pedindo que ele se controlasse.

- É verdadeiramente uma filha da rainha Didyme, Majestade – o ancião falou-me, eu lhe sorri lisonjeada, ser comparada a minha mãe em qualquer aspecto era sempre o maior dos elogios para mim.

- Muito obrigada, senhor...? – falei e quis saber seu nome.

- Efrain Black, Majestade – ele falou amigavelmente.

- Muito obrigada, senhor Black – agradeci-lhe o elogio.

- Como vê, Efrain, cumpri minha promessa. Agora é a hora de cumprir com a sua - Carlisle lhe falou com uma voz incrivelmente amigável... e falsa.

O homem o olhou mais uma vez e assentiu, virando-se novamente ara mim e retirando sua espada. Todos os guardas próximos a mim precipitaram-se para pará-lo, mas Carlisle fez um gesto para que não se mexessem. Fiquei surpresa com isso, ou Carlisle era excessivamente confiante ou excessivamente inteligente para entender o que o outro pretendia. Efrain fingiu não perceber a reação dos guardas e continuou seu movimento, sendo imitado por seus companheiros. Eles ajoelharam-se a minha frente e depositaram suas espadas aos meus pés.

- Em nome de toda a província do Poitou, aceitamos a rendição e juramos lealdade à filha de nosso estimado rei Marcus – olhei para Carlisle, chocada, em busca de uma ideia do que eu devia fazer ou dizer perante isso.

Não era pra ser assim. Eles devia se render a Volterra e a Carlisle, não a mim. O rei tinha uma expressão de cólera mal controlada e todos que assistiam a cena parecia ter prendido a respiração, esperando pela reação dele. Ele respirou fundo e sua expressão assumiu uma mascará de calma e simpatia.

- Não era exatamente o tipo de rendição que esperava, mas aceitaremos sua oferta tão... Sincera. Em troca, prometemos-lhe perdão total dos erros, ninguém receberá qualquer punição. Serão tratados como os demais cidadãos de Volterra, tendo os mesmos direitos destes. E, para comemora essa nova paz e amizade, ofereço-lhes uma festa com comida e bebida gratuita – Carlisle falou num tom de falso entusiasmo.

- É muito generoso de vossa parte, Majestade - Efrain falou.

Carlisle fez um sinal e criados começaram a entrar trazendo comidas e bebidas. As mesas já estavam prontas e os homens rapidamente apossaram-se da comida, deixando o lugar barulhento e desorganizado. Carlisle me guiou até a mesa em que deveríamos ocupar, convidando o líder dos rebeldes a sentar-se conosco. Os outros, assim como o resto dos rebeldes, seriam servidos em um espaço próximo, que Carlisle havia mandado preparar para a ocasião.

Nossa mesa era relativamente pequena, assim, apesar de estar na outra ponta, eu não fiquei tão distante do rei. Poderia conversar com ele, se falasse um pouco mais alto. Além de Efrain, estavam também em nossa mesa o conde Eleazar, o general Alistar, Alice, Carmem, o major Whitlock e, claro, o príncipe Stefan. Este último, deu um animado sorriso e um aceno de cabeça para mim, que retribui o mais discretamente possível. Porém, não discretamente o suficiente para passar despercebido a Carlisle. Ele havia cuidadosamente garantido que Stefan sentaria a seu lado, colocando Alice e Eleazar em meus dois lados.

- Agora que a região esta pacificada, quero que comece a organizar a saída das tropas, major - Carlisle falou.

- Majestade, não deveria ser eu a me ocupar com isso? - o general Alistar questionou.

- Não, meu caro, tenho outros planos para você. O major Whitlock assumirá o comando máximo do exército, enquanto você ficará para garantir que a região se adéque aos padrões e leis de Volterra. Também, ficará responsável por fiscalizar as obras de reparo e reconstrução que pretendo fazer. Para isso, você contará com uma ou duas tropas de apoio, que pretendo deixar - Alistar não falou nada, apenas assentiu.

Essa decisão do rei me parecia uma punição, considerando a posição que Alistar ocupava.

- Porque o rei está punindo o general? – eu perguntei aos sussurros a Eleazar. Ele me olhou surpreso, como se não esperasse que eu entendesse aquilo.

- O rei acredita que essa revolta não teria chegado tão longe, se o general tivesse feito seu trabalho com empenho. Em parte, ele tem razão, sempre estivemos em maior número e as dificuldades que a região apresentava não seriam tão problemáticas, se ele tivesse usado um pouco mais de inteligência... Só chegamos ao ponto de obrigá-los a rendição graças ao major Whitlock. Por isso, ele está sendo tão bem recompensado - o conde me falou rapidamente.

- Então, ele agora ira ocupar o lugar do general? – eu perguntei curiosa.

- Tecnicamente, sim, ele exercerá as funções dele. Mas não terá o título, pelo menos por enquanto – Eleazar me falou sorrindo.

- Porque ele não recebe o título de uma vez? – questionei.

- Porque é jovem demais e vem de uma família sem muita importância. Sua promoção, tão cedo, irritaria muitos nobres. Mas, não a dúvida de que isso acontecerá um dia. O Major é um jovem brilhante e muito competente. Além do mais, ainda há Alistar, as ordens do rei não são apenas punição, ele precisa que alguém fique e garanta a ordem – ele falou-me mais calmo.

- Você acredita que eles nos enganariam? - perguntei abismada, sua rendição me pareceu tão sincera.

- Não e nem acredito que seja isso que o rei pense, mas... – ele me olhou, como se decidisse se devia ou não continuar.

- Mas? – eu o encorajei.

- Havia uma duplicidade nas palavras deles que, tenho certeza, não passaram despercebidas a Carlisle – ele falou incomodado.

Carmem e Alice estavam conversando animadas.

- Que duplicidade? – eu pensei no que eles haviam dito, mas não consegui ver nada demais.

- Eles prometeram subordinação e lealdade a você, não a ele – Eleazar falou calmamente.

- Sim, e o que há de errado? Não é a mesma coisa? – eu perguntei.

Ele me olhou com um sorriso debochado, como se eu tivesse dito algo muito ingênuo.

- Não é a mesma coisa. O que eles fizeram foi reconhecer a sua autoridade sobre eles e colocarem-se ao seu lado - ele me olhou, esperando que eu entendesse o que ele queria dizer. Como não entendi, ele continuou. - Eles deram a você o poder sobre uma vasta e rica região de Volterra. Você pode fazer o que quiser que eles se colocarão ao seu lado – ele levantou uma sobrancelha e assentiu quando ficou óbvio em meu rosto que eu começava a entender. – Carlisle, obviamente, não esta satisfeito com isso e, com certeza, deixará uma permanente força repressora para evitar quaisquer... incidentes futuros – ele terminou.

- Ele não pode achar que eu iria... ele sabe... – eu tentei falar, mas não conseguia colocar meus pensamentos para fora. Ele não podia pensar que eu algum dia tentaria traí-lo. Podia? – Só porque lutei contra meu primo, não quer dizer que eu seja uma ambiciosa que faz tudo por poder... Aquela era uma situação completamente diferente, eu tinha direitos... Ele devia saber que... – perdi as palavras, de tão magoada que estava.

Ele devia saber que podia confiar em mim. Eu achava que nossa relação já havia chegado a esse ponto. Olhei para ele, através da mesa, ele viu meu olhar e sorriu para mim. Eu não retribui, ao invés disso, pedi licença a todos e me levantei da mesa. Afastei-me do acampamento, apenas alguns metros, os guardas não me permitiriam ir mais longe sozinha. Ouvi passos atrás de mim, me virei e vir que era Eleazar.

- O rei pediu-me que viesse ver o que aconteceu – ele se explicou ao se aproximar. – Está chateada com o que disse? – perguntou.

- Estou chateada com a falta de confiança – respondi, muito chateada.

- Não se chateie, não é nada pessoal. Ele simplesmente é incapaz de confiar nas pessoas cegamente. Ele foi ensinado a isso – Eleazar me falou e eu me virei para ele.

- Eu sei, é só que eu esperava... – eu fui incapaz de completar.

- Que com você fosse diferente? – ele completou e eu apenas assenti. – Tenha um pouco de paciência. Quem sabe, com o tempo...? – ele falou amigavelmente.

- Você tem razão – eu suspirei.

- Vamos voltar agora? – ele perguntou sorrindo.

- Vá na frente, eu quero ficar sozinha um pouco mais - eu pedi e ele concordou.

Fiquei sozinha mais um pouco, depois voltei para a festa. Os soldados estavam muito animados e as comemorações estenderam-se até a madrugada.

Eu me retirei cedo para a tenda do rei. Fiquei esperando que ele viesse me fazer companhia, mas ele não apareceu. Fiquei intrigada com sua demora e tentei descobrir onde estava. O vi, não muito longe da tenda, lutando de brincadeira com o conde Eleazar. Ambos riam muito, toda vez que davam golpes um no outro. Fiquei rindo, assistindo-os brincar tão descontraidamente. Uma pequena parte de mim, que estava enciumada por ele não ter me procurado, se foi ao ver isso.

Voltei pra tenda quando senti que não resistiria ao sono por mais tempo, e dormi rapidamente. Não fazia ideia de quanto tempo se passou até sentir seus braços em minha cintura, enquanto ele deitava-se ao meu lado, me acomodei melhor em seus braços e voltei a dormir profundamente.



POV Rosalie

O palácio estava em completa paz. Só havia Edward e eu. Ficamos bem amigos e fazíamos passeios entre casais. Edward com Isabella e Emmett me acompanhava. Edward foi muito gentil em não contar nada para ninguém. Ele ainda ajudava a acoberta meus encontros com Emmett.

Estava fazendo um passeio com Isabella, ficamos muito amigas, riamos calorosamente quando ouvimos:

- O que duas jovens fazem aqui tão sozinhas e felizes? – era Edward, sorrimos.

- Ora, espero que não estejam falando de nós – Emmett falou e eu o olhei.

- Estávamos falando de dois homens... – eu comecei, e desta vez, Isabella me olhou.

- Um se chamava Edward... O outro, Emmett – Isabella falou.

- Falamos que eles eram rapazes descentes e muito convencidos – falamos juntas e começamos a rir sem parar. Eles se olharam.

- Está certo, então não vamos mais a cascata, né Emmett? – Edward falou e Emmett concordou.

- Iríamos chamá-las para ver o por do sol nas cascatas, mas... Somos convencidos, né Alteza? – Emmett falou.

Eles saíram caminhando, sorrindo e falando aos sussurros. Isabella me olhou e levantamos sorrindo.

- Esperem... – falamos e fomos para junto deles.

O por do sol foi lindo. Assim que chegamos lá, Edward se afastou com Isabella, para dar privacidade e ter um pouco também. Ele se deitou na grama, viu uma rosa e entregou a Isabella. Eu achei tão romântico. Emmett se levantou e estendeu a mão.

- Vem comigo – ele chamou e fui com ele.

Estávamos caminhando para o alto do morro. Assim que cheguei, olhei pra baixo com medo.

- Emmett, eu tenho medo – falei, me agarrando nele. Ele sorriu.

- Acalme-se. Nada acontecerá com a minha princesa... Fecha os olhos. Sinta o vento batendo em você – ele falou e eu o fiz. Podia ouvir até o canto dos pássaros e sentir a brisa em meu corpo. – Agora, abra os olhos – ele falou e o fiz, pude ver o sol se pondo, era uma vista linda. Eu sorri ao Emmett e ficamos lá desfrutando do nosso romance proibido.



POV Carlisle

Estávamos à mesa, os rebeldes haviam se rendido, mas eu fiquei completamente irritado com o que fizeram. Eles juraram lealdade a Esme, não a Volterra e a mim. Mas, assumi minha máscara de bom rei. Eu tinha acabado de falar para o general que ele é quem cuidaria dessa região. Ele não me questionou em nada, sabia que tinha falhado comigo e que seria punido. Mas, espero que ele tome isso como uma lição e aprenda a ser competente e inteligente. Se há uma coisa que me irrita, é a falta de capacidade para articular as coisas, e Alistar demonstrou essa falha neste assunto e foi punido. Já Jasper, será recompensado.

Olhei em volta, Esme conversava com Eleazar. Fiquei observando-a por alguns instantes para ver se conseguia entender seus lábios, para saber o que conversavam. Stefan resolveu me distrair.

- Majestade, quando partiremos para o castelo? – ele perguntou. Eu o olhei.

- Logo, acredito que amanhã iremos partir, Alteza. – falei. Ele voltou a comer. Uma pergunta veio a minha mente. – Alteza, pode fazer-lhe uma pergunta? – falei inquieto. Ele assentiu. – Porque nunca se casou? É... já tens uma idade avançada e deveria ter herdeiros – falei calmo, mas por dentro eu gargalhava. Ele me olhou sorrindo.

- Ora, vós tendes a mais bela mulher e a única com quem eu me casaria – ele falou e eu sorri sarcasticamente.

- Sim, minha esposa é magnífica e é minha esposa. Lamento, fui mais rápido e tenho o seu carinho – falei, me segurando para não sorrir da feição de raiva que ele fez.

Voltei a tomar o ponche e vi Esme olhando pra mim. Eu dei um sorriso sincero a ela. Eu já estava me envolvendo. Isso estava ficando sem controle.

Até que ela saiu da mesa, Eleazar me olhou e eu dei sinal a ele para que fosse atrás dela. Fiquei olhando na direção para onde eles estavam conversando. Não prestei mais atenção em nada, o que havia acontecido a ela? Eu sorri e ela não fez nada... Porque eu estou preocupado? O que tá acontecendo comigo? Eu suspirei pesadamente, até que vi o Eleazar voltar sozinho. Eu o olhei, advertidamente. Ele veio para junto de mim e falou.

- Ela quis ficar sozinha por alguns instantes – eu estranhei isso.

Ele voltou ao lugar onde ele estava e ficou conversando com Carmem, uma das criadas de minha esposa. Stefan pediu licença e se retirou. Eu me asseguraria de que ele estava realmente entrando na tenda dele e chamei um guarda.

- Vigie o príncipe Stefan – falei e o Guarda ficou de frente a tenda do príncipe.

Esme começou a voltar. Eu a olhei, ela me deu um breve sorriso e se sentou. Os homens estavam muito felizes, brindavam o fim da revolta.

- Se me dão licença, vou me retirar – Esme falou e foi andando para minha tenda, que hoje seria nossa. Eu dei um imenso suspiro.

Suas damas de companhia também se retiram. Eleazar me olhou.

- Vem, vamos caminhar – ele falou.

Levantei-me e fui com ele. Eu peguei dois bastões e lhe falei sorrindo:

- Deixa a rainha saber que está encantado com uma de suas damas – falei atacando-o, brincando. Ele se defendeu. E começou a rir.

- Quem foi que te disse que ela não sabe? – ele deu o golpe dele. Eu me esquivei. Sorrindo.

- Então, vai me dizer que o conde Denali está encantado? – falei e ele veio me atacando, rindo, eu só me defendia caindo na gargalhada.

- A palavra certa é apaixonado – ele falou e me fez atacá-lo aos risos.

Estávamos fazendo isso há uns 20 minutos. Eu fiquei feliz por ele. Fiquei perdido em meu pensamento, tinha vontade de entrar naquela tenda e observá-la dormir, mas eu não podia fazer isso.

- Carlisle... – Eleazar me chamou. Eu o olhei. – Trate-a bem, ela gosta de você – ele complementou.

Sai dali e continuei andando. Encostei-me em uma pedra e logo ele foi para junto de mim.

- Eu não consigo ser gentil... Eu sei que ela gosta de mim, mas isso ainda é muito confuso pra mim. Eu sempre fui capaz de separar as coisas. Mas, com ela, é diferente. Eu fico indeciso – falei rapidamente.

Ele me olhou sorrindo.

- E o rei está apaixonado por sua esposa – ele falou com um tom engraçado.

Eu sorri e o empurrei. Ele deu um suspiro.

- Carlisle, não é crime se apaixonar. É o natural da vida – ele falou sorrindo.

- Eu não estou apaixonado – falei rapidamente, fazendo uma cara seria. Ele sorriu.

- Tá sim, só não quer admitir para si mesmo – ele falou.

Eu suspirei. Não posso estar apaixonado, eu sou uma pessoa racional! Algo dentro de mim começou a queimar. Meu amigo percebeu, Eleazar me conhece desde a infância.

- O que há de errado, Carlisle? – perguntou.

Eu suspirei. Comecei a olhar para os lados. Ele tocou em meus ombros.

- Você tem duas partes dentro de você, uma que conheceu o amor até os dez anos de idade e outra que foi criada por seu pai... – ele falou, me fazendo olha-o. – Não seja frio. Você pode ser gentil, ela gosta de você. Se você ainda não a ama, permita-se conhecê-la... Faça isso com o coração, Carlisle – ele falou tocando meu peito, e depois foi embora.

Eu fiquei ali, pensando. Eu era um menino bom. Mas, eu via muita semelhança entre mim e meu pai. Eu tinha assumido tudo o que ele me ensinou e não conseguia voltar atrás. Eu já tinha prometido a mim mesmo que não a trataria mal e não vou tratar. Mas, eu não posso mudar quem eu sou.

Cansei de ficar fora da tenda e o sono estava chegando, então, entrei e a encontrei dormindo tranquilamente na cama improvisada. Ela estava tão linda, tinha uma vela acesa na tenda e me dava uma boa visão. Sorri e, em um gesto impensado, fui para junto dela e a abracei, pois a noite estava fria. Ela se aconchegou em meus braços e colocou uma mão sobre meu peito. Eu sorri pra isso e fechei meus olhos.

Assim que amanheceu, eu acordei e ainda estava na mesma posição, Esme dormia em meus braços, fui saindo aos poucos para não acordá-la. Depois, lhe olhei, suspirei e coloquei uma roupa.

Sai da tenda e encontrei o major dando ordens a alguns soldados.

- Bom dia, Majestade – ele falou e fez uma reverência.

- Bom dia, major – respondi.

Olhei em volta, ele estava arrumando tudo para nossa partida.

- Estamos prontos, quando quiser partir, me avise – ele falou e eu assenti. Ele se retirou para arrumar as últimas coisas.

Eu vi Eleazar saindo de sua tenda e ele sorriu.

- Ele sim é competente – eu falei. Ele sorriu.

- Sim, vejo que terá um futuro excelente em seu exército – respondeu-me.

Eu o vi olhando para Carmem e dei uma batida no seu ombro.

- Modos – foi tudo o que disse e ele começou a rir.

- Nossa, acho que sou eu quem deve falar "modos" para você agora – ele falou, mas não entendi.

Virei-me e vi Esme, com um belo vestido. Era de um tom rosa, mas era um rosa claro. Ele definia suas curvas e realçava seus seios. Ela estava com seus cabelos soltos e sorri com a visão.

Até que vejo Stefan estragando a minha visão perfeita.

- Bom dia, Majestade – ele falou beijando sua mão por mais tempo do que deveria.

A raiva me subiu.

- Modos – Eleazar falou-me, sorrindo.

- Bom dia, alteza – ela respondeu simpática e olhou para mim.

Sorri.

Stefan voltou a falar:

- Está ainda mais bela, Majestade – ele falou e eu fui até eles.

- Sim, muito bela – falei, lhe dando um beijo na bochecha e a abraçando.

- Bom dia, querido – ela falou.

- Bom dia, querida – falei e comecei a tirar ela dali.

Eleazar sorria como nunca e chamou o príncipe para senta-se para o café da manhã.

Depois que tudo estava pronto, partimos para o castelo. Virei-me para Esme.

- Vou pedir que guardas sigam a sua carruagem – falei tentado ser gentil. Ela sorriu e assentiu.

Levei-a até a carruagem e montei em meu cavalo.

- Todos prontos? – perguntei. E olhei em volta. Onde está Stefan? – Onde está o príncipe Stefan? – perguntei, onde aquele velho tinha se metido?

Um guarda falou:

- Ele acabou de entrar na carruagem, Majestade – falou e eu fiquei alarmado.

Fui até a carruagem e o vi sentado junto de Esme. Ai que ódio!

- Querida, eu mudei de ideia, quero que venha comigo – falei e ela veio comigo.

Coloquei-a no cavalo e depois subi. Olhei para Stefan, ele fulminava de raiva. Eu sorri, peguei a mão de minha esposa, a fiz me abraçar e disparei na frente de todos.  

                                                                                                                                                                                             Continua?

Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora