Dois Reinos

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Genovia


POV Esme

Suspirei olhando minha imagem no espelho enquanto as duas únicas acompanhantes que me restaram terminavam de arrumar meu cabelo. Eu estava magra, pálida com enormes olheiras e uma aparência doentia nada comum a mim que sempre fui saudável e bela, criada com todos os cuidados e atenções de uma futura grande dama não haviam motivos para preocupações que me tirassem o sono, nem motivos para estar mal-alimentada. E agora, olhe só para mim! Dormindo sobre o feno em estábulos mal-cheirosos, vestida em trapos que em nada lembram os fabulosos vestidos que compunham meu guarda-roupa.
Aquele passado parecia tão distante agora que me custa acreditar que apenas quatro anos se passaram desde aquela noite em que meu pai morreu. Naquele momento, em meio a tanta dor lembro-me de ter me perguntado o que me aconteceria. Nunca teria sido capaz de imaginar isso
Meu primo inescrupuloso, Aro, apossou-se do trono quase imediatamente a morte de meu pai, pressupondo que ele fosse o sucessor, desconsiderando não só a mim, mas também a meu primo Edward. Quando o duque Demetri trouxe a publico um testamento no qual meu pai escolhia a mim como sua sucessora, Aro ficou furioso e acusou o duque de falsificar o documento me favorecendo, era conhecido por todo o reino o grande carinho que o duque nutria por mim. A maioria da nobreza e do exercito ficou ao lado de Aro, incapazes de aceitar que uma mulher os governasse. Apenas alguns poucos fies a meu pai permaneceram me apoiando respeitando a ultima vontade de meu pai. As hostilidades entre os partidários de Aro e os meus acabaram resultando em uma verdadeira guerra civil que a anos vem assolando o reino e eu fui obrigada a fugir da capital para não ser assassinada. Desde então vivo fugindo, acuada de cidade a cidade pelos terríveis partidários de meu não menos terrível primo...
– Alteza? - ouvi a voz de lorde Felix na entrada do estábulo. Acenei para que Isabella o fizesse entrar. Eu não estava apresentável, mas não havia como ficar melhor.
– Sir Felix, deseja falar comigo? - perguntei levantando e virando para ele. Ele fez uma reverencia e beijou a mão que lhe estendia.
– Alteza, o duque Demetri acaba de chegar ao acampamento.
– Obrigada por avisar-me, me acompanharia ate ele?
– Com todo o prazer Alteza! - ele falou me oferecendo o braço, o aceitei e fomos em direção ao acampamento onde os meus partidários haviam se instalado. Fomos ate a maior tenda, onde meu padrinho se instalara, eu teria preferido ficar em uma daquelas mas não era adequado para alguém em minha posição, apesar de meu atual estado ainda sou uma princesa.
Pedi ao criado que me anunciasse e entrei me despedindo de Felix e pedindo que Isabella e Alice me esperassem do lado de fora.
– Minha querida, que bom vê-la novamente. Já estava com saudades. - ele falou assim que me viu vindo me abraçar familiarmente.
– Também estava com saudades padrinho. Então que novidade trouxeste?
– Ah, infelizmente as coisas continuam do mesmo jeito - falou-me desanimado, convidando-me a sentar. - A capital encontra-se devastada e para todos os lados que se olhe só se vê destruição e violência. As pessoas parecem ter todas enlouquecido, a plebe passa fome e invade as propriedades dos nobres para saqueá-los. Esses por sua vez fogem para seus castelos fora da cidade e se trancam lá com dezenas de homens armados nas entradas para garantir-lhes a segurança.
– Que horror! O que meus pais diriam se vissem o reino desse jeito. E tudo pro causa daquele ladrão do meu primo.
– Sim Alteza, e muitos nobres e demais membros do exercito começam a culpá-lo pelo estado em que o reino se encontra.
–Achas que passaram para o nosso lado?
– Não o saberia dizer. Veja bem, essas pessoas são muito conservadoras especialmente os militares, eles reconhecem vosso direito incontestável ao trono mas não conseguem aceitar a idéia de uma mulher governar o país. Tive alguns encontros secretos com lideres de grupos insatisfeitos com Aro, tentando trazê-los para nosso lado e ouvi de todos as mesmas razões para não aderir a nossa causa: " Como ela poderia ser capaz de governar?", "E manter nosso país a salvo?", "E em caso de guerra quem lideraria o exercito?". Pude perceber que o maior medo deles é que não sejas capaz de lidar com tal responsabilidade e acabe deixando o reino nas mãos de outros. Mas o sei que és, só precisamos provar isso a eles.
– Como?
– Eles não aceitam que subas ao trono sozinha, então se tiveres alguém ao vosso lado... não haveria mais empecilhos a vossa coroação.
– Casar-me?
– Sim.
– Mas nesse caso eu estaria entregando o governo para outro e não governando como era a vontade de meu pai.
– Não se vos casasse com alguém de nossa escolha, que concordasse em deixar-vos governar.
– E quem seria esse?
– Vosso primo Edward.
– Como?
– Ele tem uma ascendência tão nobre quanto a vossa e muitos mais direitos de reivindicar o trono do que Aro e mesmo assim ele declinou da disputa e se colocou ao vosso lado. Acredito que ele seria a melhor opção para vosso marido.
– Mas ele... ele é como um irmão para mim.
– Melhor ainda, tornara a convivência mais fácil... Não precisa ser um casamento de verdade. - ele falou quando viu a expressão pasma em meu rosto. - Um casamento de aparências, apenas para que a nobreza a aceite.
– E o que aconteceria quando morresse e não houvesse herdeiro para o trono?
– Bom... o casamento teria de ser real pelo menos nesse aspecto, para gerar herdeiros.
– Estas sugerindo que eu e Edward... - não consegui terminar, enjoada com a ideia. Ele suspirou e apenas acentiu.
– A outra opção seria o general Felix, mas quanto a concordância dele em não ser o rei de fato, eu não apostaria nisso.
– Eu... preciso pensar sobre o assunto. - falei absolutamente confusa e dividida.
– Claro, tome o tempo que quiser. - eu acenti me despedindo e deixando a tenda.

Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora