Capítulo 2 - Primeira Parte

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Hathersage, Inglaterra — The Peaks 31 de outubro de 1910 — Noite

Minha casa era um castelo de pedra. Havia salões com piso de mármore e tetos pintados. Eu morava em Hathersage, uma cidade no interior famosa pelos morros e desfiladeiros. O castelo ficava afastado da estrada e dava para infinitos campos. Aquela noite era a Nuit Rouge, a Noite Vermelha. Uma vez por ano, vampiros vinham de todo planeta e ocupavam meu lar por um mês. Pelos 31 dias de outubro, a Nuit Rouge atraía vampiros de todas as raças para minha casa. Trinta e um dias de opulência. Trinta e um dias de puro terror. Esta era a última noite antes que todos voltassem para seus respectivos domínios.

Tinha acabado de anoitecer. Acima de mim as estrelas brilhavam no crepúsculo — as taças de vidro cintilavam com sua luz dourada. Passei por convidados bebericando sangue e dançando ao som de um quarteto de cordas. Rhode me seguiu pelos fundos do castelo até o terraço de pedra. Homens e mulheres usando cartolas, espartilhos e as melhores sedas da China riam e se apinhavam no caminho de Rhode. Nos fundos da casa um conjunto de degraus de pedra descia para os jardins. Duas velas brancas permaneciam imponentes nas duas extremidades da escada, com a cera pingando e formando pequenos arquipélagos na pedra. O pátio abria para os lados e depois descia em direção ao vasto campo. Eu usava um vestido de seda verde com debrum dourado e um espartilho combinando por baixo.

— Lenah! — gritou Rhode, mas eu já disparava pela multidão. Corria tão depressa que por um instante pensei que fosse sair do espartilho. — Lenah! Pare! — gritou Rhode novamente.

Tinha acabado de anoitecer. Corri pelo jardim inteiro, descendo o morro até o início dos campos.

Atraí Rhode para o morro, fora do alcance de visão dos vampiros no castelo. Parei ao pé dos campos que se espalhavam por incontáveis quilômetros. Naquela época, eu era diferente. Minha pele era pálida, não tinha rugas e não havia sombras debaixo dos meus olhos. Apenas pele branca e lisa, como se os poros tivessem sido arrancados.

No topo do morro, Rhode olhou para mim. Ele estava vestindo um traje formal, com cartola e lapela de seda preta. Segurava uma bengala na mão direita. Quando desceu pela lateral do morro íngreme, a grana rala que se espalhava por centenas de quilômetros se dobrou debaixo de seus pés. Eu me virei para olhar os campos.

— Você não me dirigiu uma palavra a noite inteira — disse Rhode. — Ficou completamente calada. E agora corre para cá?  Pode me dizer que diabos está acontecendo?

— Você não entende? Se dissesse uma palavra, não seria capaz de esconder minhas intenções. Vicken tem um talento fora do normal. Conseguiria ler meus lábio a cinco quilômetros de distância.

Vicken era minha última criação; quer dizer, o último homem que transformei em vampiro. Com 50 anos, era também o vampiro mais jovem do meu coven, embora não parecesse ter mais de 19 anos.

— Ouso pensar que esse seria um momento de lucidez? — perguntou Rhode. — Que talvez você tenha percebido que Vicken e seu bando de ingratos são mais perigosos do que você esperava?

Eu não disse nada. Em vez disso, observei o vento fazer desenhos na grama.

— Sabe por que eu te abandonei? Meu medo — disparou Rhode. — era que você tivesse realmente enlouquecido. Que tivesse sendo consumida pela perspectiva do tempo infinito. Você estava sendo irresponsável.

Eu virei e nossos olhos se encontraram imediatamente.

— Não vou deixar você me culpar por ter criado um coven com os vampiros mais fortes e talentosos do mundo. Você disse para eu me proteger e fiz o que era preciso.

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