Heroine, a garota das cartas

1,2. Copas

Estou em frente ao telefone. O que deveria fazer?
- Você não sabe? Já tinha imaginado.
Surge de novo do nada aquela criatura.
- Você perdeu todas suas lembranças anteriores ao 1 de agosto.
- Eu perdi? - pergunto confusa.
- Eu tenho estado com você durante quatro dias, mas não lembra mais quem sou eu, não é mesmo? - pergunta aquela criatura.
- Sinto muito - respondo frustrada.
- Você parece estar confusa por causa de várias coisas, então vou te explicar tudo desde o começo. Primeiro comecemos com a introdução. Meu nome é Quíron, eu sou um espírito de um mundo diferente a este - explica enquanto me observa para ver se eu entendi.
- Um espírito?
- Isso mesmo. E para que saiba, minha voz não poder ser escutada por ninguém além de você e só você pode me ver.
Isto é confuso, não estou entendendo nada, minha cabeça esta em uma completa desordem e não consigo pensar claramente.
Minhas lembranças? Como isso pudo ter acontecido?! O que fiz para perde-las?!
-O que? Você esta me encarando como se eu fosse um inseto - Diz decepcionado Quíron.
- Eu não acho que você seja um inseto ou coisa parecida.
- Você teve a mesma reação a primeira vez que me conoceu. Esta bem, eu acho.. Olha, na verdade... Hum.. A verdade é que foi culpa minha. Quero dizer, a razão pela qual você perdeu suas lembranças. Para minha surpresa, quando eu vim a este mundo, me dei de cara com teu espírito, sabe? Também foi um problema para mim - Quíron começa a rir nervosamente - De verdade! Eu sinto muito!
- O que você esta querendo dizer? - respondo desesperada sem entender nada ainda.
- Invés das lembranças que perdeu... Basicamente eu estou presso na tua alma.
- Espera um segundo - minha cabeça da voltas - Como? Não entendo o que você esta dizendo.
Preciso me acalmar. Fazer milhões de perguntas e faze-lo ficar mais nervoso não vai ajudar em nada.
- Certo, por que não posso ir ao hospital?
- Porque ir ao hospital não te fará nenhum bem - me explica - Sua perdida de memória não é causada por algum problema do seu corpo ou da cabeça. Você tem que recupera-la ao interatuar com as pessoas. Se você é hospitalizada, acabará sozinha e não será capaz de falar com as pessoas nem de restabelecer as conexões que uma vez teve com eles. Se o aislamento de estímulos continua, você esquecerá inclusive coisas como a forma de beber água ou como respirar. Então, para nos assegurar de que isso não aconteça, você tem que evitar mencionar que tem amnesia e agir cuidadosamente - diz, enquanto faz gestos de explicação com as mãos e arruma o cabelo.
- Mas... Ainda não entendo nada. Sequer lembro quem sou - digo frustrada.
- Sinto muito - diz Quíron enquanto me abraça.

Em outro lugar, neste mesmo momento:
- Ela estará bem? Me pergunto si poderá fazer a viagem na sua condição atual - questiona Lucca.
- No momento mantenhamos nossa atenção nisto. Conto contigo para ajuda-la no trabalho - responde Alex.
- É claro, é isso o que eu estava planejando fazer.

- Me pergunto se Lucca e Alex, os garotos que te acompanharam aqui, trabalham no mesmo lugar que você. De caminho para cá, eles conversavam como se fossem velhos amigos - opina Quíron, enquanto eu mexia no meu celular.
- Você tem razão - digo.
- Mas, apesar de lembrar velhas histórias, você não respondeu. Me pergunto se suspeitaram algo - fala Quíron.
- Verdade - afirmo.
Alex, Lucca, Alice, Lanchonete Lavester.
Estes são todos os números de telefone no meu celular, é toda a informação que possuo.
- Por algum motivo, toda a informação anterior a hoje foi apagada - diz Quíron, ao me ver frustrada encarando meu telefone - Mas é bom que seus contatos do trabalho pudessem ser recuperados - tenta me animar.
- É. Pode ser que você este certo, mas.. - digo enquanto vejo uma foto colada na parede de pessoas que parecem ser do meu trabalho junto a mim.
- Hey, hoje aconteceu algo que te desse alguma informação das tuas lembranças perdidas? - pergunta Quíron inexplicavelmente animado.
Por que não consigo pensar em nada? Posso realmente recuperar minhas lembranças?
- Você esta bem? - Quíron parece ter percebido minha mudança de ânimo.
Talvez seja impossível..
- Ei, você! - diz, interrompendo meus pensamentos - Esta me escutando?
- Desculpa - digo.
- Tem sido um dia difícil, então você deve estar cansada. Devia dormir um pouco.
- Claro - digo decepcionada comigo mesma.
- Vou... Vou dar o melhor de mim por você... então.. boa noite! - ele toca carinhosamente minha mão e desaparece.
- Boa noite - sussurro.
Não consigo dormir. Tento todas as posições possíveis mas um monte de perguntas invadem minha cabeça.
Quem sou?

Não lembro quando foi que peguei no sono, só sei que a luz do sol entrando pela janela e o canto dos pássaros me acordou.
- Bom dia - Quíron esta flutuando aos pés da minha cama, parece haver ficado me observando dormir.
- Bom dia - respondo ainda adormecida.
- Ainda lembra o que aconteceu ontem?
- Lembro.
- Que bom! Então você só estava um pouco confusa - responde animado - Parece que recentemente tuas lembranças tem estado todas misturadas, mas talvez você este começando a lembrar normalmente. Se tem algo que te incomode, pode falar comigo. Desde sua perspectiva, você esta rodeada de desconhecidos e deve ser assustador não saber em quem confiar - explica Quíron.
- Isso mesmo! - sua compreensão me faz sentir maior confiança e consegue elevar meu estado de animo.
- Mas.. Mas para recuperar todas tuas lembranças, te apoiarei em tudo o que eu possa! Então nos esforcemos juntos!
- Claro! Obrigada Quíron - respondo contenta.
- Oh.. Você dize meu nome por primeira vez! Ei, mas... olha o relógio! Se não nos apressarmos, você chegará tarde no trabalho!