Quando eu era pequena...

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Quando eu era pequena eu era muito chata. Tipo muito meeeesmo.

Lembro que teve uma vez que eu quase quebrei o dedo de uma coleguinha que ganhou de mim na natação. Bem meiga.

Eu tinha mais amigos meninos, porque as menina só queriam brincar de boneca e tal. Já eu queria subir nas árvores, brincar na praia, de casinha (e os meninos brincavam de boas comigo. Um era o meu marido e o outro era o filho). Já fiz tanta coisa... Eu tinha um amigo que fazia um ótimo trabalho com as palhas do coqueiro lá de casa. Quando mamãe pagava pra um moço tirar as palhas, esse meu amigo — Raul — as colocava ao redor do pé de caju, formando uma espécie de casinha.

Com o trabalho de Raul, a gente colocava estrado (aquilo que tem embaixo das camas) nos galhos e cada galho era um cômodo. O meu "quarto" eu tinha pintado de azul o estrado. Era o mais bonito — eu dizia. Colocávamos bonecos de pelúcia na nossa "casa". E ainda tinha um lugarzinho separado, que era o banheiro — que a gente tinha senso o suficiente para não usá-lo. Tinha até água de verdade saindo da mangueira.

Isso era feito na minha casa em Baía Formosa (RN), que tem um quintal bem grande e com várias árvores. A minha preferida é o pé de caju, e até hoje eu não saio de lá sem dar uma subidinha na árvore.

Teve uma vez que eu e meu amigo (Endrio) estávamos brincando de jogar pedras no muro que dividia a minha casa da dele. Quando chegou num certo ponto, ele foi até lá para ver o que tinha acontecido com sei lá o quê — e foi bem nesse momento que eu joguei a minha pedra. Caiu na cabeça dele, rachando.

Foi um chorôrô danado, sangue pra cá, sangue pra lá. Horrível. Nunca vou esquecer. Sinto-me culpada até hoje. Minha mãe teve que levá-lo para o pronto-socorro e tudo mais. Que bom que não precisou de ponto, mas sangrou bastante. Lembro até que eu fiquei um bom tempo trancada no meu quarto, chorando, chocada com o que acabara de acontecer.

Ele sabia que a culpa não foi minha, eu não tinha calculado direito o tempo, só isso.

Graças a Santa Nutella, ele me perdoou. Continuamos amigos e brincando — e infernizando a vida dos nossos pais, claro.

Um dia, eu fui com Igor e Endrio para comprar sorvete (nota: conheço eles desde que me entendo por gente) e, quando voltamos para a minha casa, fizemos a maior lambança. Eu nem me lembro o porquê, mas foi bem louco. A casa ficou toda suja de sorvete. Até que eu tive a brilhante ideia de jogar xixi — recém feito... eca — em Igor. O coitado ficou todo molhado, não pôde escapar da minha perfeira mira. A mãe dele só faltou me matar, juntamente com a minha. Que bom que eu sempre escapava das surras que minha mãe vivia ameaçando.

Endrio saiu ileso, como sempre. Ele era o meu bestie. A gente não gostava muito de Igor, ele era muito chato e insistente (desculpa Igor). Além do coitado já ter quase morrido com a pedrada.

Teve, inclusive, uma época que eu só andava com as meninas — Gisele, Isabel, Iane e Isadora, além de outras que não eram tãããão amigas assim.

A gente fazia umas festinhas no quarto maior, usando roupas da minha mãe. Era estranho, tenho até vergonha de lembrar. Ugh. Era cada dança louca que a gente inventava, nem Daniel Saboya daria conta.

Ai meu Deus, a gente brincava de falar inglês! Isso era na escola, com Sofia, Dani, @Adriana_Pinheiro, Sarah... Uou, era muita gente. O nosso diálogo nessa brincadeira era tipo (erros propositais):

— Relou, ráu ari iú?

— Aimi fain, tênqs. And iú?

— Aimi fain tu. Uôts iur neim?

— Mai neim is Fulana. And iur?

— Cicrana. Gúd mórning.

— Gúd. Bai bai.

E era só isso. Uma coisa assim, magnífica. Era tudo, menos inglês. Acho que poderia ser confundido com árabe, galego, russo...

Eu lembro também quando eu pegava piolho — eu era kid, deixa —, os meus amigos eram os primeiros a saber. Eu chamava os malditos sugadores de sangue capilar de anõezinhos. Então, às vezes, meus amigos perguntavam:

— Quantos anões, Alice?

E eu:

— Treze, desde a última contagem.

E isso é meio constrangedor, eu não deveria estar falando isso.

Ah, dane-se.

Ahhh, a pochete! Eu falei que eu ia falar delas, não é mesmo? Eu não esqueci, não se preocupem.

Eu tinha entre cinco e sete anos quando brincava de cobradora. Nós (eu e mamãe) sempre íamos para Baía Formosa de besta, e o cobrador gritava, a cada parada:

— Parnamirim, São José, Goianinha, Canguaretama e BaÍa Formosa! — Dando ênfase no I de "Baía".

E eu imitava ele. Eram duas filinhas de cadeirinhas amarelas de MDF, como se fossem as poltronas da besta. E mini-Alice lá, com a pochetezinha do Pikachu.

Cada cadeirinha tinha uma boneca, um bichinho de pelúcia. Eu pegava o "dinheiro" deles e guardava na pochete, sempre perguntando pra onde ele ia, e agradecendo: "obrigada".

Minha mãe morria de rir com as minhas presepadas.

Até hoje nós (eu e minha mãe) temos um CD do dia das mães, que nele eu falava:

Meu nome é Alice Pimentel Fernandes "Fleires" e eu tenho seis anos. Mamãe, eu te amo do fundo do meu coração. Obrigada por me aguentar dentro da sua barriga por esse tempo todinho. Eu te amo!

Eu sempre falava meu nome todo quando alguém perguntava. E o último sobrenome é "Freire", e eu sempre falava " Fleires", muito engraçado.

Eu sempre morro de rir ouvindo esse CD, porque, no final, todas as alunas cantavam uma música bem antiga, com vozes desafinadas pairando no áudio.

Era aquela música "Abra suas asaaas, solte suas feeeras. Caia na gandaia, entre nessa festaaa. Me leve com você-ê-ê-ê-ê no seu sonho mais lo-o-o-oouco. Quero ver seu corpo livre leve e sooolto. A gente às vezes sente, solta, dança sem querer dançar, como vocêêê! Na nossa festa vale tudo, vale ser alguém como eu, como vocêêê!". Pesquisem no Google se não souberem. E eu não sei como eu lembrei de toda essa parte da letra, já que faz tanto tempo. Sete anos, cara! Ei, @Adriana_Pinheiro, se lembra disso? Lembra que no final da sua parte de falar alguma coisa pra sua mãe, você cantou? Hahaha, foi hilário.

Telhados, eu acabo por aqui. Já está com mais de mil palavras e seu eu for falar todas as aventuras da minha infância, vai dar umas dez mil palavras.

Então beeeeijo, tchau.

Esses Jovens de Hoje em Dia - Contos e CrônicasOnde histórias criam vida. Descubra agora