Capítulo 1

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— Leila, a revista Glamour ligou... Esqueceram de perguntar sua idade na entrevista... — Bárbara, minha assistente pessoal, fala cautelosamente, como se dizer a minha idade fosse algo que me afetasse.

"Melhor a idade que o peso!", pensei.

Bárbara é conhecida como Barbie, mesmo sua aparência estando longe de ser igual à da boneca famosa pelo apelido. Não que Bárbara não seja bonita, ela é linda por sinal, mas o estilo não condiz com o da boneca, sempre bem penteada, toda certinha e bem-vestida. Bárbara está mais para monster high hippie, com seus cabelos rebeldes coloridos e suas saias longas.

Ela é a única assistente que consegue lidar com meu gênio. Talvez por ser mais geniosa do que eu. Trabalhamos juntas há cinco anos e, apesar do seu gosto duvidoso para escolher roupas, Barbie é uma assistente eficiente e de senso de humor estranhamente agradável. Consegue controlar as modelos histéricas que me tiram do sério e é sincera e corajosa o bastante para lidar com minha personalidade.

— Tenho trinta e cinco anos, Barbie. Como se você não soubesse — respondo mal-humorada. Não por causa da idade. Não me importaria nem se a pergunta fosse quanto ao meu peso, até porque, graças a Deus, estou em forma.

Ser estilista numa das maiores marcas de roupas do país faz meu humor oscilar num vai e vem constante. Eu cuido do lançamento de todas as campanhas. Crio cada peça de roupa, penso nas cores, nos tecidos, nas tendências, compareço aos desfiles, promovo a marca em revistas de moda... Se bem que não é apenas o trabalho que me rouba o humor.

Há também os meus sapatos!

Caminhar com os saltos agulha, os quais eu costumo usar para ir ao trabalho, acabava diariamente com meus pés, coluna e humor.

Falando nisso, quem em sã consciência criaria uma peça de tortura, na década de setenta, e conseguiria mantê-la na ativa até os dias atuais? Admito que o tal salto agulha deixa as pernas torneadas, no entanto, exige um treinamento psicológico fortíssimo pra fazer alguém conseguir pensar e, ao mesmo tempo, se equilibrar em cima deles.

Sinceramente, nunca gostei do salto agulha, mas adoro o fato de ele ter se tornado minha marca pessoal. Sempre que compareço a algum evento, ou mesmo no trabalho, sei que todos ficam ansiosos para ver qual será o estilo do meu salto.

Além disso, eles combinam muito bem com minhas criações. Então, todos os dias, abro meu closet, me deparo com os mais diversos saltos agulhas e escolho aquele me fará sofrer menos, se é que isso é possível.

Já na minha sala, confiro a agenda. O dia todo será tomado pelos ajustes finais da coleção. Como não tenho nenhuma reunião marcada, decido relaxar um pouco, estendendo o horário de almoço para comprar sapatos. Não que isso seja algo que eu faça com frequência.

Minha sala é ampla, sofisticada, e decorada em tons de cinza, séria... sombria. Uma mesa, poltronas, um sofá, um quadro abstrato, que ocupa boa parte da parede, e armários. Nada de porta-retratos com rostos sorridentes. Atrás da minha mesa, uma janela de vidro gigantesca me dá visão da vida lá fora.

A única coisa que contrasta do cenário é o vaso com flores, sempre de acordo com as cores que inspiram cada campanha. Nesta, em especial, há bocas de leão na cor mostarda. Lindas!

Um clique repentino interrompe meu pensamento, e a cabeleira da Barbie surge na porta entreaberta.

— Quer jantar comigo e com a Lola na semana que vem? A Lola vai receber o bônus da empresa e vai torrar em comida. Acho que vai ter aquele tal de queijo brie!

Acima do Salto Agulha (CHICK LIT)Onde histórias criam vida. Descubra agora