0.3 { Bolos e lagos com estátuas }

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As portadas da janela do quarto foram abertas, fazendo com que a luz que já se fazia lá fora entrasse e me acordasse, significava que Natasha já se levantara.

De facto, assim que abri os olhos dei de caras com a rapariga, de pé encostada a uma prateleira. Vestia ainda o pijama e a sua cabeleira ruiva estava tão emaranhada que me fazia lembrar um ninho, cada ponta enrolada na seguinte.

"Bom dia! Toca a despachar que hoje temos muito que fazer!" o seu tom de voz fazia realçar a sua felicidade.

"Sim?" questionei-a com um bocejo e esfreguei os olhos "Porquê?"

"Bem, é o almoço de ajuda aos BV."

"Ah! Esqueci-me completamente!" estalei a mão contra a testa. Era uma espécie de tradição.

As pessoas juntavam-se todas no quartel dos Bombeiros Voluntários. De inicio era apenas para contribuir com algum dinheiro para ajudar nas remodelações e necessidades do quartel, mas com o passar dos anos mais pessoas começaram a aparecer e o almoço começou a ser mais uma maneira de reunir os cidadãos do que propriamente uma maneira de angariação de fundos.

Mas Natasha estava demasiado sorridente com o acontecimento para ser devido, apenas, ao convívio com outra gente.

Olhei para ela com uma expressão de quem está á espera para saber mais alguma coisa e ela guinchou.

"Bem, eu não sei se te lembras, mas havia um gajo que era uma bomba! Aquele com quem me envolvi o ano passado! Ashton Irwin. Ele agora é voluntário no quartel. Ou seja, também vai lá estar!"

"Ah! Aí está a verdadeira razão de estares tão contente! Comecei a julgar que estavas ansiosa por fazer decorações e tomar conta dos Johnson!" ri-me não só daquilo que acabara de dizer como da cara de sonhadora de Nat. Durante os últimos três anos Natasha fora "obrigada" a tomar conta dos pequenos e traquinas irmãos Johnson, Marie e Duett. Uma vez, quando isso acontecera, Natasha dera-se ao luxo e capricho de dormitar no sofá (ficara cheia de dores de cabeça porque na noite anterior tinha ficado bastante bêbeda), e quando acordou tinha metade de uma sobrancelha rapada e o cabelo cheio de cola e tintas. Jurou nunca mais lá meter os pés, mas a Miss Johnson, que usufruía sempre desse dia para ir ao cabeleireiro e manicura para "ser tomada por mais nova", prometeu que lhe pagava quando a rapariga se desse ao trabalho de lhe tomar conta dos filhos.

*

Lavei-me relaxadamente na banheira grande da minha avó.

Em casa estava habituada aos banhos rápidos no polibã, mas aqui podia sempre relaxar, deitar-me na água quente, e pensar.

Gostava muito de me deixar totalmente submersa antes de ser usado algum produto de lavagem, quando era apenas água transparente, e uma vez completamente coberta pelo líquido gostava de abris os olhos e observar os meus cabelos a vaguearem em meu redor, numa espécie de dança lenta como se a sua energia lhes tivesse sido sugada.

Assim que sai da banheira, e depois de me secar numa toalha cor de rosa, vesti um fato de treino castanho que me ficava enorme e atei o cabelo molhado num rabo-de-cavalo no cimo da nuca.

Saí do quarto e percorri a casa.

Na cozinha saí pela porta das traseiras e percorri o jardim.

No extremo oposto ao baloiço da leitura erguia-se um solar, de paredes de vidro, que apesar do nome não era solar nenhum. Na parte de dentro havia um grande forno de lenha e duas bancadas onde a minha avó cozinhava.

Pegado ao solar, erguia-se uma pequena estufa que estava pintada de verde até ao topo com tanta coisa que lá fora plantada, com pequenos pontos roxos e cor de laranja aqui e ali. E, um pouco mais á frente jazia um celeiro com a pintura colorida a desbotar-se.

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⏰ Última atualização: Apr 14, 2016 ⏰

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