{001}

275 24 32
                                    

- Você atira. Simples assim, Blake. Se um deles voltar a incomodar, você puxa o gatilho.

Essas palavras podem parecer estranhas se vindas do seu pai no meio do jantar, a situação pode piorar se você adicionar quatro homens vestidos completamente de preto que se distribuem ao redor da mesa e duas pistolas colocadas sobre ela. Pense em ser a única mulher em uma família de homens e felizmente, você tem um panorama amplo de minha vida.

Estou aliviada pelas palavras duras de meu pai terem sido direcionada ao meu irmão gêmeo, e não a mim. Não faço nem ideia das coisas que Blake precisa fazer para manter a ordem nesse caos que é Saint, sem nem mesmo levantar as sobrancelhas em protesto, acho que Blake daria um tiro na própria boca se fosse da vontade do pai.

O clima se tornou desagradável quando meu irmão do meio, Cameron, decidiu que a melhor hora para citar o incidente com sua moto era a hora em que nós tentávamos aproveitar nosso macarrão, tentando com todas as forças ignorar a presença dos homens de preto posicionados atrás de nossas cadeiras.

- Eles roubaram a minha moto. Aqueles filhos da puta roubaram a minha moto e ninguém está fazendo nada a respeito disso. - foi o que ele disse.

- Eu posso lhe comprar outra, filho. Só pare de ser tão mimado. - meu pai respondeu sentado na última cadeira na ponta da mesa, tentando manter a calma.

- Eu quero a minha moto! - Cameron esbraveja e assim que ele aumenta seu tom de voz, seguro com força o meu copo.

- Chega! - meu pai bate com a palma da mão na mesa e o copo de Blake balança, sorrio orgulhosa por ter segurado o meu. - Eu não poderia me importar menos com sua moto, pessoas estão morrendo do lado de fora dessa casa e não consigo acreditar que criei um covarde que só pensa em coisas como aquela maldita moto. Espero que tenham atirado fogo nela, quem sabe você não vira homem, Cameron.

Meu irmão estreita os olhos e cruza os braços, se encolhendo na cadeira e sabendo que não há nada que ele possa falar sem que receba um castigo muito mais severo do que esse simples esporro.

- Há algo que eu possa fazer em relação à isso, senhor? - Blake coloca com delicadeza. - Não em relação à moto, mas os Black Birds estão ultrapassando alguns limites.

As palavras de meu pai em resposta à essa pergunta de Blake, já foram ditas.

Bebo um último gole do suco de uva e afasto minha cadeira da mesa, com um barulho estridente que chama a atenção de todos.

- Com licença. Vou para o meu quarto. - digo, minha voz sendo a única coisa feminina que reverbera pelo aposento.

- Angelina, você não irá com seu irmão fechar as lojas? - meu pai diz.

- Hm... - penso por alguns segundos.

Desde que o herdeiro tomou os lugares dos tios no controle do tráfico da sua família, sua irresponsabilidade de jovem e suas drogas modificadas que se tornaram um sucesso, trouxeram para meu pai alguns fios de cabelo branco. Para um Red Rose, as coisas estavam se tornando cada vez mais complicadas, sair na rua carregando a pequena tatuagem de rosa estava se tornando um grande perigo, com a falta de controle do Styles sobre os Black Birds, os crimes de ódio contra os simpatizantes do meu pai estavam se tornando cada vez maiores. E carregar meu sobrenome poderia tornar as coisas ainda piores, nada é mais odiado por um Black Bird do que alguém da família que governa os Red Roses. E já que o toque de recolher aconteceu há alguns minutos, estou apreensiva de ir fechar as lojas de meu pai nessa nova era.

- Tudo bem, eu vou. - digo e empurro a cadeira de volta para a mesa.

- Angel, sairemos em vinte minutos.

{...}

O Centro está deserto, como sempre está depois das dez, os postes não proporcionam luz adequada para a estreita rua em que se consiste o Centro de Saint.

Saint é uma cidade muito pequena e incrivelmente manipulável, talvez seja por isso que duas famílias governam tudo com mãos de ferro e dois grupos lutam com tudo o que tem para defender o nome de tais famílias. Além do Centro, a geografia de Saint se resume na Reserva, um local enorme de floresta cortado por um estreito caminho de terra, o Bairro Scott, o residencial localizado ao norte da cidade onde moro com minha família e onde todos os Red Roses tem suas casas, e o Bairro Styles, onde os Black Birds viram madrugadas dando festas extravagantes e apostando corridas com carros luxuosos.

- Pegue o dinheiro do caixa enquanto fecho a joalheria. - Blake diz quando paramos na frente do pequeno edifício cinza que consistia em um pequeno mercado, não tenho tempo de confirmar quando vejo que ele já puxa a grade de metal sobre as portas de vidro da joalheria do outro lado da rua.

Entro no mercadinho, as luzes já foram apagadas há muito tempo pelo último funcionário que deixou o estabelecimento, não as ligo e me guio por entre as prateleiras até chegar no caixa, onde aperto alguns botões e uma gaveta de metal se abre, revelando algumas notas e moedas.

Um barulho de lata sendo derrubada navega por todo o mercado de encontro aos meus ouvidos, fazendo um soluço ficar preso na minha garganta.

- Blake? - digo e rapidamente coloco o dinheiro na bolsa de couro. Nenhuma resposta. - Blake, não é engraçado. - reviro os olhos com sua tentativa tosca de me assustar quando outra lata é jogada no chão.

Uma sensação de medo se instala em meu peito quando estreito os olhos para enxergar além da escuridão e vejo um vulto passar atrás da prateleira de enlatados. Várias latinhas são empurradas ao mesmo tempo, caindo no chão de azulejo com um barulho muito mais alto que o pequeno grito que escapa pela minha boca. O barulho machuca meus ouvidos por ter sido feito em um silêncio absoluto.

- É engraçado. - tampo a boca quando a figura masculina sai das sombras proporcionadas pela prateleira e caminha na minha direção, aos poucos, a luz da Lua que vem dos pequenos vitrais ilumina seu rosto. É ele.

O sorriso nos seus lábios é tão suave quanto as covinhas em sua bochecha, mas nada é tão intenso quanto seus olhos verdes sobre mim.

- Angelina, não é? - ele se apoia na maquina registradora e se inclina para frente, com o dedo indicador, ele afasta uma mexa do meu cabelo. Estou paralisada no lugar. - Eu sou Harry.

- Eu sei quem você é. - digo rapidamente e afasto meu rosto de seu toque quente.

- O que você está fazendo na rua depois do toque de recolher, querida? - sua voz é rouca, carregada de um sotaque inglês e extremamente assustadora.

- Você também não deveria estar aqui. - digo, tentando esconder meu medo com todas as forças, mas do que eu estava falando? Ele mandava nessa cidade, a noite de Saint era dele. Ele poderia estar onde quisesse, quando quisesse.

Harry brinca com os anéis do dedo quando um sorriso malandro ocupa seus lábios.

- Eu apenas não gostaria de ver você deitada no chão com um buraco de bala na testa. Sabe como é... Isso vem acontecendo bastante ultimamente. - ele levanta seus olhos para mim, estou realmente petrificada no lugar. Toda essa situação não parece real e eu nunca poderia me imaginar vivenciado tal momento.

- Você vai me machucar? - gaguejo e ele ri pelo nariz.

- Você tem sorte, querida. - ele dá um peteleco distraído na máquina enquanto se vira. - Muita sorte.

E assim ele vai embora, desaparece novamente na escuridão, tão rapidamente como surgiu dela. Pisco algumas vezes para ter certeza do que acabou de acontecer, se estou realmente viva e acordada, se isso não passou de um pesadelo sinistro, mas o bater alto do meu coração e o barulho que ouço de sangue correndo desesperado pelas minha veias não me deixa enganar. Isso realmente aconteceu, eu realmente estive cara a cara com o inimigo. Estive cara a cara com Harry Styles.

Saint ↠ {h.s}Onde histórias criam vida. Descubra agora