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17 anos atrás...

Uma agonia tomava conta de uma pequena casa onde uma mulher sofria com dores de parto. Suada, cansada com tanto esforço que fazia para dar vida ao seu pequeno fruto.

_Força, Kassandra!_Gritava a parteira verificando a passagem para saber se a criança já coroava._Mais um pouco, Kassandra!

Kassandra já tinha dado à luz a um menino e uma menina. Apenas rezava para que não fosse outra menina. Seu marido, Joseph, segurava em sua mão pedindo em seus pensamentos para que tudo corresse bem.
Kassandra não podia ter mais filhos pois seus dois últimos partos quase tomaram seu fôlego de vida.

_Força, meu amor. Vai ficar tudo bem._Passava-lhe a mão limpando o suor que escorria da testa da sua esposa que puxava o ar e soltava compulsivamente.

Tinham deixado as crianças quietinhas no outro quarto ansiosas para a chegada de um novo membro. O mais velho, Henrico, abraçava sua irmã, Ravenna, que chorava ao ouvir os gritos da mãe.

_Calma, Ravenna, a mamãe já vai trazer o bebezinho pra gente ver._Dizia Henrico que tinha apenas seis anos para a pequena de apenas quatro.

Enquanto isso no outro quarto o bebê já coroava. O rosto de Kassandra se desfalecia a cada força que a mesma fazia. Mesmo cansada ao extremo, buscou força de onde não sabia e impulsionou o bebê para que saísse e viesse trazer alegria a essa família tão acolhedora.
E assim ouviu-se os primeiros chorinhos de uma linda menina. Aparentemente saudável e forte. Mesmo sabendo que gerar uma menina naquela cidade era algo muito ruim, os pais da recém-nascida não se importaram. Era uma mistura de risos e choros sem fim. A menina, diferente dos outros filhos, nasceu ruiva como a mãe. Ainda não se via os olhos, mas presumiram que possuíam a mesma cor também.

_Senhora Kassandra..._Dizia a parteira parecendo aflita._O sangue não quer estancar. A senhora está começando a ter uma hemorragia.

Nessa hora o olhar do pai que estava na filha, virou-se diretamente para a esposa que parecia não se importar com o que acabara de ouvir.

_Cumpri minha missão. Te dei as coisas mais lindas do mundo..._Dizia com muita dificuldade._Cuide deles. Não os abandone por nada...

Nesse momento Joseph entregou a criança nas mãos da parteira e segurou o rosto pálido da esposa.

_Não me deixa. Eu não saberei cuidar deles sozinho..._Seus olhos já estavam em lágrimas._Não vai, Kassandra... Meu amor, não vai...

Ela apenas deu um sorriso singelo e retirou com lentidão o colar que estava em seu pescoço. Era feito de ouro com um pingente em forma de trevo na cor verde.

_Deixa com ela. Coloca nela assim que..._Kassandra tosse, mas retoma._Assim que ela começar a entender as coisas...

_Kassandra, não faz isso comigo._Diz Joseph segurando com força o colar e se debulhando em lágrimas.

A parteira se afasta com a criança nas mãos tentando fazê-la dormir. E também para deixar eles se despedirem pois na situação que estava, a hemorragia não teria mais jeito. Hospitais ficavam muito longe e na maioria das vezes apenas a realeza tinham acesso.

_Kalenna..._Sussurrou Kassandra quase fechando os olhos._Chame-a de Kalenna. Eu amo vocês..._Diz fechando os olhos e pendendo a cabeça para o lado.

Era o fim!

Joseph solta um grito inconformado pela perda assustando assim todos presente na casa. A pequena Kalenna e sua irmã que estava em outro quarto se puseram a chorar. Enfim, até a parteira chorava a morte de Kassandra.
Joseph deu um beijo nos lábios frios da sua esposa e cobriu a cabeça da mesma. Ele estava perdido, não sabia o que fazer. Ainda tinha o colar em suas mãos e apenas o guardou numa gaveta perto da cama.

_Senhor Joseph, eu preciso ir embora._Dizia a parteira balançando a recém-nascida faminta e chorona.

_Dê ela a Henrico. Ela tirou Kassandra de mim._Bradou saindo ao encontro dos seus filhos no outro quarto.

_Papai, cadê o bebezinho?_Perguntou Henrico, inocente do fatos.

_Vá pegar ela com a parteira._Aponta para a porta e o menino logo sai._Princesinha, vem aqui._Joseph chama e Ravenna logo abre os braços e corre para o pai._Você está bem?_A menininha apenas afirma com a cabeça.

Logo Henrico entra no quarto segurando meio desajeitado a bebê que agora dorme. Ele a coloca deitada no bercinho que já estava montado no quarto deles e fica lá olhando ela dormir.

_Filho, vem aqui!_Ordena severamente o pai e o filho logo chega perto ficando ao lado de Ravenna._A mamãe, depois que deu vida aquilo ali..._Aponta o pai para a recém-nascida._Foi pro céu virar uma estrela. Agora ela está lá em cima olhando para nós e nos protegendo._Ele abraça os dois filhos e segura as lágrimas que querem cair.

_A gente não vai ver ela, papai?_Diz Henrico curioso.

_Não do jeito que ela sempre foi. Agora ela é uma estrela lá no céu._Ele aponta pela janela em direção ao céu e seus filhos ficam com um brilho intenso nos olhos.

Logo ele coloca os filhos na cama e as crianças adormecem.
Chega perto do berço e olha sua filha que dorme calmamente. Teve medo de não saber cuidar dela direito, teve ódio por ela ter tirado a vida da sua amada... Era um misto de confusão que ele não entendia. Dali em diante ele teria que ser forte e cumprir o que sua amada o pediu no seu leito de morte.

_Ah Kalenna... Você é tão parecida com sua mãe..._Falou num sussurro para não acordar ninguém ali no quarto.

Saiu dali e foi cuidar de enterrar sua esposa antes que eles acordassem. Um enterro apenas tendo ele como família. Não queria deixar essa cena como lembrança de uma mãe para os filhos.
Despediu-se da sua esposa e voltou para casa pela madrugada lamentando a vida por ter sido tão injusta com ele.

(+)

À mercê da realeza (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora