Capítulo 5

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Acordo com barulho de uma discussão vindo da cozinha, corro e vejo Peter e Clarice brigando, me escondo no banheiro e escuto tudo.

- Olha, a Rayka vai arruinar minha única chance de ser alguém naquela faculdade! - Clarice grita.

- Dá pra você calar a boca porque ela está dormindo? Você só pensa em você Clarice! - Peter diz visivelmente irritado.

- Só penso em mim ? Eu acolhi a caixinha de surpresas no meu apartamento, ensinei português, a sustento e estamos correndo risco de vida por causa dela! E eu sou a egoísta?!

Caixinha de surpresas?

- Se o problema é ela comer e dormir aqui, podemos resolver isso agora, ela vem morar comigo e você deixa de ser falsa com ela.

- Você sabe que não é isso!

- Ah é? É o que então?!

- Peter, estamos correndo risco de vida com a Ray em nossa vida, ela é uma pessoa maravilhosa mas eu saio de casa me borrando de medo, assim como ela também tem medo de sair daqui. Nossa vida mudou depois que conhecemos ela.

- Eu não me importo, faltava uma adrenalina na minha vida, e tem mais, quero sofrer esse risco e tentar salva a vida dela, do que saber que fiquei de braços cruzados vendo ela ser levada.

- Isso é loucura.- Clarice bufa e bebe água.

- Loucura Clarice? Loucura é ter sua inocência de criança arrancada a força, presenciar a morte de sua mãe e não poder fazer nada, apanhar todos os dias, se prostituir aos 11 anos, não ter frequentado uma escola, não ter mais ninguém na vida além de nós dois. Isso são problemas de verdade, não um reputação de boa menina na faculdade.- Peter fala e se move em direção ao quarto, fecho a porta do banheiro rapidamente e respiro fundo.

A Clarice estava certa, eu estava botando a vida deles em risco, isso não é justo. Saio do banheiro e Clarice não estava mais na cozinha e Peter saiu do quarto desesperado mas ficou aliviado ao me ver sair do banheiro.

- Nossa, que susto.- Ele diz sorrindo para mim e retribui com um sorriso fraco.

- Nem sou tão feia assim.-digo.

- Não, não é isso.

- Eu sei bobo.- digo e dou um sorriso para ele e vou para a cozinha pegar água.

- Peter você vai mesmo...- Clarice para ao me ver.

- Oi, Clarice.- digo seca demais, droga.

- Oi Rayzinha.- Ela responde sorrindo. Ela estava certa na questão de eu está pondo a vida deles em risco, mas estava ridículo ela escondendo tudo que pensava da minha presença.

- Não seja falsa comigo.- Digo botando o copo com raiva na bancada, ela e Peter trocam olhares confusos.- Eu ouvi a discussão de vocês dois. - Clarice fechas os olhos como se estivesse arrependida e Peter passa a mão no cabelo.

- Olha Ray, eu só disse aquilo, porque estava furiosa... Eu tava confusa, assustada com essa coisa toda. Depois de ouvir aquelas broncas de Peter, eu mudei meu pensamento, eu juro.- ela diz me olhando com olhos marejados então eu olho pra Peter que não esboçava reação nenhuma.

- Mudou de opinião rápido assim? - faço deboche.

- Ray, escuta, eu não queria te magoar ou qualquer coisa do tipo, eu só estava nervosa. E pensei cada burrada e botei pra fora. Me perdoa Ray.- Olho novamente pra Peter, como se buscasse uma resposta mas ele só encarava o chão.

- Tá - digo seca e estou mentindo, não engoli essa história, saio em direção a varanda e Peter segura meu braço e o encaro.

- Aonde você vai ? - ele pergunta.

- Vou para a varanda.- digo e ele me olha assustado.

- Para a Varanda?

- Sim.

- Você disse que nunca pisaria nela.

- Mudei de ideia. Sabe como é né ?! - digo com um sorriso debochado e olho para Clarice, que morde os lábios e olha para o chão.

Me solto do braço de Peter e vou para a Varanda. Hoje não está calor e nem frio, mas o céu está azul, um vento fresco me pega e balança meus cabelos, sento na cadeira ao canto da grade, observo a correria das pessoas na rua, mas logo fico olhando para o céu e deixo o vento tomar conta de mim e me sinto livre, como nunca havia sentido antes.

++

Fiquei tanto tempo sentanda ali, pensando na minha vida, que nem percebi a noite cair, e como era lindo ver o anoitecer chegar, não tinha palavras.

Decido entrar, afinal sinto um cheirinho bom vindo da cozinha e vejo Peter e Clarice cozinhando juntos, não consegui ver o que era e não quis ir lá, passei discretamente para a sala e me joguei no sofá, preciso saber o sentido da minha vida, juro que não descobri, a não ser que seja para sofrer, porque se for to seguindo o roteiro direitinho. Peter se aproxima, levanta minhas pernas, senta no sofá depois as coloca sobre seu colo.

- Ficou um tempão lá fora.- ele fala mas não o olho, não estou chateada com ele, muito pelo contrário estou tão feliz em saber que ele tenta me compreender, só estou um pouco confusa.

- É, quis pegar um ar.- digo.

- Tá brava comigo? - ele fala e decido olhar para ele que me olhava com os olhos brilhantes.

- Não, porque estaria?!

- Você ta agiando estranha comigo desde que acordou.

- Estou? Nem percebi. Perdão.

- Tem algo te incomodando.

- Tem tudo me incomodando.- digo

- Melhor deixarmos esse assunto para depois, você precisa comer, não comeu nada o dia todo.

- To sem fome.- minto, sou capaz de comer um leão se ele aparecer aqui na minha frente.

- Garanto que vai ficar com fome, é Lasanha feita por mim! - ele diz todo orgulhoso.

- Vixi! Colocou chumbinho.- digo rindo

- Idiota. - ele diz me empurrando.- Vem, vamos comer.- ele levanta e me puxa do sofá tão rápido que caio de encontro ao seu corpo e ele ficou olhando nos meus olhos e senti um frio na barriga, sai de perto dele rápido e fui para a cozinha e ele veio atrás.

Céus o que foi aquilo?

Comemos a lasanha e eu tive que elogiar estava magnifica! Depois de comer fui escovar meus dentes, conversei e brinquei muito com Peter enquanto comia, mas com Clarice, nem sequer uma troca de olhares, hoje vou dormir na sala e assim foi, dormi assistindo um filme chato e Peter dormiu no chão a minha frente, ele tem sido meu mais fiel amigo.

Fugindo Do Passado (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora