Capítulo I - Lady Tessa

472 25 9
                                    

Ao menos alguém se lembrava o motivo de estarem celebrando aquela noite?

Exasperada e indignada, Tessa acompanhava sua mãe às voltas e mais voltas que a matriarca da sua família dava em volta do salão. Achar um marido digno para sua filha realmente era uma tarefa árdua e dificílima para a condessa de Buckingham. A temporada não havia sido das melhores, era um fato. Os nobres rapazes ou eram libertinos procurando esposas para ocuparem suas camas e darem a eles seus herdeiros ou eram caçadores de fortunas atrás de alguma jovem indefesa que caísse em seus encantos e quitasse suas dividas que fizera provavelmente com jogos e prostíbulos. De toda forma, eles não eram bons o suficiente. Não eram nobres o suficiente, não para a condessa.

Tessa tentava a todo custo não chamar atenção, já que sua mãe chamava o suficiente pelas duas. Dificilmente o vestido cor limão era passado despercebido pelos olhos avaliadores de todas as damas da alta sociedade de Londres presentes no baile. Era perfeitamente comum que mães caçassem partidos para suas filhas, entretanto, algumas o faziam com mais discrição do que Judith.

-Tessa, levante o queixo. Sorria. Você vai afastar os nobres pretendentes com todo esse mau humor. – Sua mãe a repreendia enquanto paravam em frente ao salão de dança mais uma vez. Coçando a garganta em um gesto nada educado, Tessa se esforçou para não respirar fundo demais, porém o suficiente para não haver um desastre com seu espartilho, logo quando parecia que as atenções haviam parado de ser para "A Condessa Escandalosa E Sua Prole". Seus seios doíam dentro do vestido, cansados de serem massacrados por uma faixa que tentava inutilmente deixá-los menores. Seios grandes não estavam na moda. Por Deus, como Tessa odiava aquela tendência. Quanto mais apertado os espartilhos e as faixas pareciam, menor ficavam seus cérebros e sua capacidade de raciocinar.

Em um movimento sutil, Tessa aproveitou a chegada de seu irmão mais velho e saíra de perto da mãe, agradecendo silenciosamente a ajuda de seu irmão cúmplice, enquanto subia uma das enormes escadarias do salão do grande baile. Entrando em um dos muitos corredores, Tessa espiou e esperou por alguns minutos até que tivesse acesso aos botões em suas costas e pudesse abrir alguns afrouxando sua faixa em seguida. Seu coração finalmente parecia ter voltado a bater, o sangue e o oxigênio voltando a circular normalmente em seu corpo. Por Deus, como ela conseguira ficar durante tanto tempo presa em suas roupas?

-Confesso que essa não é uma imagem com a qual eu estou habituado a ver. – o Duque de Devonshire parecia particularmente interessado e curioso, tendo em vista a cena que acabara de presenciar. Tessa, no entanto, parecia no mínimo entorpecida. Vendo a vergonha nos olhos da dama, o duque pareceu se compadecer com seu horror e lentamente lhe fez uma reverência. – Creio que não tenhamos sido apresentados lá embaixo, quando você ainda tinha suas vestimentas no lugar.

Erguendo o queixo à afronta que ouvira, Tessa rebateu:

-Creio que não seja de sua conta se minhas vestimentas estão ou não em seus devidos lugares, Vossa Alteza. E sou lady Tessa, honrada em conhecê-lo – reverenciou-o brevemente.

O silêncio fez-se presente enquanto o duque assimilava as palavras da mulher à sua frente. Definitivamente ele havia feito uma avaliação errônea sobre ela.

-Creio que passa a ser de minha conta, lady Tessa, quando a senhorita resolve despir-se em frente à minha biblioteca.

Olhando-o como se ele fosse louco e com parte de seu raciocínio já funcionando perfeitamente pelo fluxo sanguíneo circulando normalmente em seu corpo, ela constatou que ele definitivamente não era um cavalheiro.

-Eu não estava me... Despindo...Vossa alteza. – respondeu a contragosto - Estava permitindo que minha respiração voltasse ao normal.

Surpreso pela afirmação tão verdadeira e simplória, um silêncio agora inofensivo pairava entre os dois. Sorrindo, um sorriso puramente libertino, o duque assentiu e decidiu que libertaria a moça com problemas em sua respiração. As vezes nem mesmo ele sabia como as mulheres respiravam dentro daqueles vestidos.

-Neste caso, já que não há problemas com sua vestimenta, irei deixá-la sozinha para que possa respirar o ar puro do meu corredor. Tenha uma boa noite, lady Tessa.

Fazendo uma breve e elegante reverência, o duque deixou Tessa sozinha e novamente ela voltou a respirar aliviada.

xXx

-Por onde você andou, Tessa? Eu te procurei por toda parte! – a condessa parecia particularmente exasperada com o sumiço de sua filha. Aiden, o irmão mais velho de Tessa, estava agora atrás de sua mãe em uma postura formal, prendendo o riso enquanto erguia uma sobrancelha. Tessa sabia o que aquele sinal significava, significava que nem mesmo Aiden conseguira conter sua mãe. Abanando o ar com a mão, Judith logo continuou:

-Não importa, a valsa irá começar agora. Lembre-se, comporte-se como se fôssemos a muitos bailes como esse.
-Nós não vamos a muitos bailes como esse, mamãe. – interveio Tessa, fazendo com que sua mãe a olhasse severamente em uma repreensão silenciosa. Pondo-se ao lado de seu irmão, não demorou até que os primeiros acordes da valsa fossem ouvidos. Lembrando-se de que havia se certificado pouco antes de descer que seu vestido estava no lugar, não inspirou muito profundamente e tentou conter-se com a pouca respiração até que estivesse enfim em seus aposentos.

Século XVIIIWhere stories live. Discover now