* * * *
"Estava a ver que nunca mais chegavas. Porque é que demoras-te tanto tempo? Devias começar a andar todos os dias para chegar a casa mais depressa." Eram apenas 17h50min e a minha mãe estava bêbeda.
"E tu devias começar a pensar em ires fazer reabilitação. Ainda nem 18h são e tu já estás bêbeda."
"Não me voltas a falar assim! Quem és tu para mandares em mim ou naquilo que eu faço? Vai limpar a casa senão tens mais nada para fazer." Empurrou-me contra o móvel que estava na sala, o que fez com que eu soltasse um pequeno grito de dor, mas nada demais.
Dirigi-me ao meu quarto e troquei de roupa. Vesti uns calções e uma t-shirt para começar a arrumar a casa.
Comecei pelas escadas, uma garrafa aqui e outra ali e um pequeno saco transparente. A pior divisão era sem dúvida a sala. Garrafas partidas, o chão sujo de comida e bebida, droga em cima da mesa. Eu juro por tudo, que se a polícia alguma vez viesse aqui e encontra-se a droga, iria pensar que era minha. Tenho a certeza que a minha mãe faria de tudo para se ver livre de mim e continuar a matar-se aos poucos.
Depois de ter apanhado tudo, fui buscar os produtos necessários para limpar o chão e a mesa.
"Mas o que é que tu estás a fazer? Não toques nisso! Se tocaste na minha droga podes ter a certeza que és uma miúda morta!"
"Fica descansada que não lhe toquei nem pretendo tocar, mas para a próxima vê se tiras isto daqui." Fiz o meu caminho para fora da sala e fui até ao jardim. Respirei fundo e comecei a pensar como seria se eu me fosse embora e começasse tudo de novo, uma vida nova. Uma vida sem ter de apanhar porcaria das garrafas e da droga da minha mãe, uma vida sem ser maltratada. Lágrimas ameaçavam cair pela minha cara, mas eu rapidamente as sequei assim que ouvi o meu telemóvel tocar.
"Estás em casa?" Este rapaz tinha a pontaria perfeita para me afastar dos problemas.
"Não posso estar em mais lado nenhum, Alex. Porquê?" Perguntei curiosa.
"Estava a pensar em vires ter comigo ao parque para falarmos um pouco, visto que hoje na escol não tivemos muito tempo."
"Claro, estou aí em 10 minutos."
"Até já pequena."
Confesso que me irritava ele estar sempre a chamar-me pequena, mas era a maneira de ele demonstrar que se importava comigo e eu já estava habituada à alcunha.
Subi as escadas e troquei de roupa mais uma vez. Ao tirar a camisola reparei que tinha uma negra nas costas, devido ao impacto que o meu corpo sofreu contra o móvel há pouco tempo. Doía um pouco mas aguentava bem.
"Vais sair? Sabes que horas são? Eu tenho fome miúda."
"Sim vou sair e não sei a que horas volto, se queres jantar podes sempre encomendar ou fazê-lo tu mesma. Não sou tua empregada, sou tua filha. Vê se metes isso dentro da tua cabeça."
Saí de casa de imediato para evitar que ela me conseguisse tocar. Não demorei muito a chegar ao parque, mas o Alex ainda não estava lá. Esperei sentada num banco que estava em frente aos baloiços. Era praticamente de noite e as crianças já não estavam ali, por isso é que eu gostava de vir a este parque à noite. Era calmo e eu sentia-me bem.
"Nem para vir ao parque arranjas companhia? Vais mesmo acabar sozinha, miúda." Olhei para trás para ver de quem era a voz, mas rapidamente me endireitei e comecei a andar para fora do parque, quando vi que era o rapaz que eu mais odiava à face da terra. Pertencia aos populares, era o Francisco. O rapaz que todas as raparigas queriam e faziam de tudo para ter.
"Não fujas de mim!"
"Merda." Pensei para mim mesma assim que senti ele a agarrar-me o pulso.
"Ela está comigo." Não reconheci a voz, pelo menos não era do Alex.
"Hum?"
"Oh a sério? Aqui a princesa tem namorado?" O Francisco puxou-me mais para ele e agarrou-me a cara, fazendo-me sentir desconfortável.
"Larga-a." Eu ainda não sabia quem era mas que era um rapaz, disso eu tinha a certeza. A sua voz era forte e rouca, o que me causava arrepios pelo corpo todo.
"E se eu não o fizer? És tu que me vais obrigar? Todos sabemos que o que ela merece é alguém que a faça ver que a vida não são só rosas."
Mas onde é que estava o Alex? Eu estava ali sozinha no meio de dois rapazes porque ele combinou encontrar-se comigo e ainda não apareceu. Tentei procurar o meu telemóvel com a única mão livre que tinha mas para meu azar, tivera-o deixado em casa.
Ouvi um barulho vindo do meu lado e quando me consegui libertar do Franciso é que reparei que este, estava no chão. Parecia que estava inconsciente. Esperem. O rapaz que me salvou matou-o? Não, não, não. Não pode ser!
"Mataste-o?!" Disse eu paralisada.
"Não, ele apenas desmaiou. Mas ele estava-se a aproveitar de ti, porque te preocupas se o matei ou não?"
"Porque, porque, ugh, não sei."
"Também não sabes porque estás aqui sozinha?" Finalmente consegui ver-lhe a cara. TInha uns olhos azuis mas cheios de raiva e eu podia dizer que os olhos estavam mais pretos que azuis. O seu cabelo era castanho escuro e não tinha um penteado definido como a maioria dos rapazes. Era bastante parecido com o Alex em relação à aparência, mas em questão de personalidade não tinha nada haver. Eu sei que o Alex era incapaz de magoar alguém, mesmo que fosse para me proteger. Mas este rapaz tinha acabado de me salvar, ele protegeu-me e eu não o conheço de lado nenhum. Ele vestia uma t-shirt preta onde dava para ver os meus braços cobertos de tatuagens, e na sua cara pude reparar que tem um piercing na sobrancelha e um no lábio inferior. Sem dúvida que este rapaz era qualquer coisa de estranho, muito estranho.
"Estava à espera de um amigo meu que não chegou a aparecer."
Observei-o a rolar os olhos e a virar as costas, começando a andar no sentido da saída do parque.
"Obrigada." Falei de maneira a que ele me conseguisse ouvir, mas não obtive nenhuma resposta da parte dele, por isso não tenho a certeza que ele me tivera ouvido.
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