Identidade

Adaptação

Todos nós estamos sujeitos a drásticas mudanças em nossas vidas. Muitas vezes nós buscamos essa mudança, outras vezes acontecimentos nos faz mudar. Mas a questão é: será que estamos prontos para encará-las?

A noite nunca tinha demorado tanto para passar. A insônia, causada pelos diversos acontecimentos anteriores, deixou Lorena ainda mais cansada e incapaz de pensar em uma melhora.
A única coisa que tinha para fazer era aceitar e cumprir o que tinha prometido, aliás, era a sua única chance.
Sendo assim fez o combinado, acordou antes que qualquer pessoa da casa, arrumou-se e acompanhou Igor até onde ele queria levar.
Foram primeiro a um salão, onde ela faria o mesmo corte de cabelo que a de Júlia, fez as sobrancelhas e aprendeu a fazer uma maquiagem que iria disfarçar as diferenças das feições do rosto. Após isso foram até um Teatro onde encontraria uma pessoa.

Ao chegar no local encontrou um garoto aparentemente com a mesma idade que ela, que logo se pronunciou.
- Júlia! - Gritou dando um abraço apertado mas aconchegante.
- Ah... Oi! - Respondeu Lorena na esperança que Igor o apresentasse.
- Paolo, não é a Júlia. Trouxe ela para você ajudar a se comportar como a Júlia. Ajude-a cantar, dançar e fale tudo que sabe sobre ela. É isso, estou indo - Antes colocou a mão em um saco que estava em sua mão, puxou o diário e deu a Lorena - Pra você! Caso quiser desabafar, escreva! - E foi embora.
Lorena segurou o diário analisando e colocou dentro da bolsa.
- Como assim você não é a Júlia, é idêntica a ela. - Disse Paolo
- É.... somos irmãs. Quem é você?
- Sou o Paolo, filho daquele idiotão.
- Sinto muito.
- Eu também. O que aconteceu com a Júlia?
- Seu pai está com ela e eu estou tentando pegar ela de volta, então será que podemos começar com isso logo? - Diz com uma forma de desprezo, aliás, Paolo era filho do Igor, deveria ser a mesma forma.

Interiormente era difícil saber, mas fisicamente não se parecia muito com ele. Era moreno, alto, olhos castanhos, cabelos naturalmente lisos, sotaque de italiano e um sorriso encantador, mesmo sendo filho do "monstro" parecia ser inofensivo.

- Sinto muito. Ele é assim, sempre que quer algo faz de tudo para conseguir, não tenho orgulho de ser meu pai, mas é. Tenho que fazer oque ele manda. Podemos começar?

O dia foi repleto de descobertas. Primeiro ele contou toda a vida de Júlia para Lorena, o que ela gostava de fazer, qual o seu relacionamento com família e amigos, os horários que fazia as coisas e seus costumes.
- Como sabe tanta coisa dela? - Pergunta Lorena.
- Vamos dizer que sou um.... admirador secreto. - Diz com um sorriso de lado demonstrando saudade. - E amigo.
- Você falou de amigos, familiares... Mas ela tem algum namorado?
- Não, não que eu saiba. - Diz olhando pros lados como se quisesse esconder algo.
- Gosta dela não é? - Pergunta com o ar de curiosidade e um sorriso irônico mas inofensivo.
Com os olhos lacrimejando - Ela é maravilhosa, mas ela não sente o mesmo.
- Como sabe?
- Disse que não sabia se ela gostava de alguém, mas suspeito de um cara. - Pega o notebook que está ao seu lado e pesquisa no Google a foto do rapaz - O nome dele é Billie. É um cantor de rock, começaram a carreira juntos, só andam juntos.
- Eu o conheço, acho que já vi uma foto deles juntos.
- Provavelmente - respira bem alto e levanta - Vamos, temos que treinar essa música.
Eles vão para o centro do palco do Teatro, Paolo pega o controle e se prepara para dar Play na música Only You. Lorena levanta e se posiciona e então ele dá play.

Only You - (Simulação da Cena na Multimídia)

(Lorena)
Looking from a window above
It's like a story of love
Can you hear me?
(Paolo)
Came back only yesterday
I'm moving further away
Want you near me

(Juntos)
All I needed was the love you gave
All I needed for another day
And all I ever knew
Only You

- Bravo - Diz Paolo batendo palmas
- Obrigada - Responde com educação.
Os dois se olham fixamente por um período até que Lorena se pronuncia.
- Para de me olhar assim, eu não sou a Júlia - Diz rindo envergonhada
- Foi mal... é que..
- O que?
- Tava pensando em trocar de irmã.
Lorena solta uma gargalhada - Você é imbecil. - Paolo também ri.
- Nossa, o tempo passou rápido - Diz Paolo olhando no relógio - Tenho que te levar em casa.
- Não, não quero. - Diz com uma voz melosa - Ainda não estou preparada para passar o dia com minha "família".
Paolo passa a mão pela cintura de Lorena abraçando - Você consegue minha linda, esse vai ser um de longos dias. - Para e olha no olho de Lorena - Mas isso vai acabar, você vai consegui se libertar do meu pai e pode saber que pode contar comigo.
- Paolo, foi um dia maravilhoso, você é uma ótima companhia, mas não quer dizer que eu confio em você. Sim eu vou arrumar um jeito, mas não vou te incluir nisso, você é filho dele.
- Eu te entendo... Mais do que você acha. Eu faço o que ele pede por que tenho medo, mas eu cresci Lorena e meu pai não vai mandar em mim para sempre. E eu assim como você vou consegui a minha vingança.
- Vingança?
- Meu pai matou minha mãe e eu vi tudo - Diz e olha pro chão como se estivesse lembrando da cena. - Vamos, tenho que te levar pra casa.
Lorena vai com ele em silêncio quando chega se despede e fala - Paolo, eu sinto muito... pela sua mãe.
- Obrigado. Te vejo amanhã?
- Claro.

Lorena entra na mansão respirando fundo, pois sabia que teria que enfrentar a presença de Margo.

- Júlia - Margo logo ver ela chegando.
- Oi mãe. - Responde Lorena apavorada.
- Não te vejo desde ontem. Para onde foi? Seu professor disse que não estava aqui hoje.
- É. Eu cheguei um pouco tarde e não quis te acordar. Hoje acordei cedo e fui ao estúdio por que o Igor pediu, não tive como ficar pra aula.
- Hm... Tudo bem. Já jantou?
- Sim. Eu vou dormir, estou cansada.
- Tá. Espera... Você achou a garota que procurava?
- Ahh.... Eu fui no endereço, mas não era ela. Mas tudo bem, deixa pra lá.
- Sinto muito, sei o quanto queria encontrar.
- Sim - responde com um rosto triste - Vou dormir, boa noite.
- Boa noite filha.

Lorena vai até o quarto, chora lembrando da situação que está passando preocupada com que iria fazer. Tomou um banho, colocou um pijama, deitou na cama, observou os detalhes do quarto: era grande, pintado de branco, o guarda-roupa era gigante e tinha um espaço decorado com sua guitarra e os prêmios que tinha ganhado. O criado-mudo ao lado da cama tinha alguns porta-retratos com a foto de seus amigos, mãe e irmãos. Abriu o criado-mudo e viu um diário aberto, pensou em ler, mas seria invasão de privacidade, fechou a porta. Atacada pela insônia novamente não consegue dormir. Pega a bolsa, o diário que o Igor lhe deu e começa a escrever.

Querido Diário

Desde pequena sonho em ser uma Estrela, uma cantora reconhecida. E agora eu sou isso, mas nitidamente não é do jeito que eu sonhava. Tem um dia que estou incorporando a Júlia e isso está sendo muito difícil. Me sinto mal, sei que estou fazendo isso para ajudá-la. Mas me dói mentir para a sua mãe, ela merecia saber o que estava acontecendo e saber que a sua filha está em perigo. Não posso falar com ela, isso pode piorar as coisas.
Mais cedo, tinha um mudança na aparência, depois fui ao teatro e conheci o Paolo, ele aparentemente é inofensivo, além de sexy. Tá, não posso me apaixonar por ele, ele é filho do Igor, mas a história dele não sai da minha cabeça, ELE não sai da minha cabeça. Mas tenho que me concentrar, a única pessoa que eu devo e vou confiar é em mim mesma.

Acaba a última linha caindo no sono, parece que escrever seria um ótimo chá de camomila.