O que há de estranho em mim - Gayle Forman

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"– Caraca, ela está sempre atrasada. Isso é um tipo de controle, sabia?
– Muito obrigado pela sessão de terapia, Brit, mas sua mãe não vai com a gente.
– Ela não é minha mãe. Que história é essa? Você falou que era uma viagem de família, por isso fui obrigada a não tocar no festival. Então... se eles não vão, eu também não vou.
– É uma viagem de família, sim – confirmou papai, jogando minha bagagem no porta-malas. – Acontece que dois dias dentro de um carro é demais para o Billy. Eles vão de avião e encontram a gente lá."

"Quando mamãe ainda estava por aqui, isso era o tipo de coisa que a gente costumava fazer: entrar no carro de uma hora para outra e se mandar para Las Vegas ou para São Francisco."

"– O que você está fazendo comigo, pai? Para onde eles estão me levando?
– É para o seu próprio bem.
Vi que ele estava chorando e fiquei ainda mais apavorada."

"No dia seguinte, o tal Xerife apareceu de novo no meu quartinho com sua cadeira dobrável.
– Então, menina, está pronta para olhar para si mesma?
Essa me pareceu a pergunta mais imbecil do mundo. Olhar para o que exatamente? Era como se o cara já tivesse decidido que eu era maluca de carteirinha.
– Para isso vou precisar de um espelho. Mas acho que um objeto de vidro pode ser muito perigoso nas mãos de uma psicopata como eu."

"Jamais daria a nenhum
deles – nem ao Xerife, nem à Helga, nem à Monstra, nem às megeras do Nível
Seis – a oportunidade de me ver por baixo. Mas à noite, depois que apagavam as
luzes e trancavam a porta por fora, eu abria as comportas e chorava até ensopar
o travesseiro."

"Faça um favor para todo mundo: deixe de lado esse orgulho besta.
Essa seria uma das lições mais valiosas da Red Rock."

"– Então, Brit, comece a mexer a boca.
– Ahn?
– Mexa a boca. Finja que está dizendo alguma coisa.
– O quê?
– Eu estou falando grego ou você é burra assim mesmo? Você não está “participando do processo”.
Ela estava sussurrando, mas aquilo mais soava como uma ordem aos berros.
– Não conheço essa garota – repliquei. – Como é que eu vou gritar alguma coisa para ela?
– Você é surda ou idiota? Mexa a boca. Finja. Ou você vai se ferrar. Fui clara?"

"– Como você veio parar aqui? – quis saber.
– Não faço ideia.
– Ah, deixa disso... Você deve ter alguma ideia, gata. Bulimia? Promiscuidade? Automutilação? – interrogou Bebe, enumerando os distúrbios mais comuns das pessoas ali.
– Nenhuma das opções anteriores.
– Então, vejamos... Você tem cabelo colorido e tatuagens. Se eu tivesse que chutar, diria que toca numa banda ou é artista.
– Toco numa banda – foi tudo o que revelei, mas internamente fiquei surpresa. Mamãe tinha sido artista.
– Humm... Heroína? Cristal?
– Não, nada disso. Toco numa banda, pinto o cabelo de rosa e tenho uma madrasta doida de pedra."

"– Você? Já tentou se matar? – perguntei.
– Não. Acho isso Sylvia Plath demais. Se tivesse tentado, acho que não me
aceitariam aqui. Só escrevi poemas e histórias sobre uma garota que se mata.
Minha mãe ficou tão apavorada que acabou me internando. E aqui estou eu, faz quase um ano e meio."

"– Meu Deus, isto aqui é um verdadeiro campo de concentração.
– Primeira coisa inteligente que você fala, Brit. – V me deu um tapinha na
testa. – Claro, todo campo de concentração tem seus segredos e códigos, suas rotas de fuga.
– Como assim?
– Sempre há maneiras de subverter o poder.
– Ahn?
– Paciência, novata. Aos poucos você vai aprender.
– Tudo será revelado a seu tempo – prometeu Bebe."

"Jed ligou uns dias mais tarde para dizer que eu estava dentro.
– Caramba, os outros candidatos deviam ser terríveis – brinquei.
Jed riu. Mesmo ao telefone, a risada dele era sonora, envolvente.
– Que nada. Tinha um pessoal muito bom. Mas quatro instrumentistas perfeitos não formam necessariamente uma banda boa. Sei lá, todo mundo gostou da sua vibe. E, de longe, você foi a melhor nas distorções.
– Valeu, ralei muito para chegar lá – comentei, e Jed riu de novo. – Já que
estamos trocando confidências, preciso confessar uma coisa: não consigo tocar
acordes com pestana.
Ele suspirou, mas não voltou atrás.
– Vamos ter que trabalhar nisso. Os acordes com pestana podem ser muito importantes."

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