Mas um prometia sempre aos outros contar tudo, o que visse na sua primeira saída, pois o que a avó contava ainda era pouco e havia tantas coisas que eles ainda desejavam saber!
O mais curioso era realmente Castiel; muitas vezes, durante a noite, ele ficava perto da janela aberta, tentando perceber os ruídos dos peixes que batiam suas nadadeiras e suas caudas. Olhava bem para o alto e conseguia ver as estrelas e a lua, mas elas lhe pareciam muito pálidas e muito aumentadas pelo efeito da água.
Assim que alguma nuvem as escurecia, Castiel sabia ser uma baleia ou um navio carregado de homens, que nadavam sobre ele. Certamente esses homens nem
pensavam em que um encantador tritão estendia suas mãos brancas para o casco do navio que fendia as águas.Chegou finalmente o dia em que a princesa mais velha completou quinze anos, Hannah; então ela subiu à superfície do mar, a fim de descobrir o mundo; o desconhecido. Ao voltar, estava cheia de coisas para contar.
- Oh - disse ela -, é delicioso ver, estendida ao luar sobre um banco de areia, no meio do mar calmo, as praias da grande cidade, onde as luzes brilham como se fossem centenas de estrelas; ouvir a música harmoniosa, o som dos sinos das igrejas, e todo aquele barulho de homens e de seus carros!
Oh! Como Cas ouvia atentamente! Todas as noites, em frente da janela aberta, olhando através da enorme massa de água, ele sonhava longamente com a grande cidade, da qual a irmã mais velha falara com tanto entusiasmo, com seus ruídos e suas luzes, seus habitantes e seus edifícios e pensava ouvir os sinos tocarem bem perto dele.
No ano seguinte, o segundo obteve a permissão para subir. Muito contente, Lúcifer emergiu a cabeça no momento em que o céu tocava o horizonte e a magnificência desse espetáculo levou-o ao auge da alegria.
- O céu inteiro - disse ele ao voltar -, parecia ser de ouro e a beleza das nuvens estava além de tudo aquilo que podemos imaginar. Passavam à minha frente, vermelhas e roxas e no meio delas voava em direção ao sol, como se fosse um longo véu branco, um bando de cisnes selvagens. Eu também quis nadar na direção do grande astro vermelho; mas de repente ele desapareceu e também a luz rosada que havia em cima das águas e as nuvens desapareceram.
Depois chegou a vez do terceiro irmão, Gabriel. Era o mais imprudente, e assim, subiu pela embocadura do rio e foi seguindo o seu curso. Avistou admiráveis colinas plantadas de vinhedos e árvores frutíferas, castelos e fazendas situados no meio de florestas soberbas e imensas.
Ouviu o canto dos pássaros e o calor do sol obrigou-o a mergulhar muitas vezes na água, a fim de refrescar-se.No meio de uma baía, Gabe viu uma multidão de seres humanos que brincavam e se banhavam. Quis brincar com eles, mas todos se assustaram e um animal preto - era um cão - começou a latir com tanta força, que ele ficou com muito medo e fugiu para o mar alto.
O tritão jamais pôde esquecer as soberbas florestas, as colinas verdes e as gentis crianças que sabiam nadar, embora não possuíssem cauda de peixe.
A quarta irmã, Anna, que era menos afoita, gostou mais de ficar no meio do mar selvagem, onde a vista se perdia ao longe e onde o céu se arredondava em volta da água, como um grande sino de vidro. Percebia os navios ao longe; os delfins brincalhões davam cambalhotas e as baleias colossais lançavam jatos de água para o ar.
E o dia do quinto irmão chegou; estavam exatamente no inverno: e assim Gadreel viu o que os outros não puderam ver. O mar perdera sua cor azul e adquirira um tom esverdeado e por todo lado navegavam, com formas estranhas e brilhantes como diamantes, montanhas de gelo.
- Cada uma delas - dizia o viajante -, parece-se com uma pérola maior do que as torres da Igreja em que os homens são batizados.
Ele se sentou sobre uma das maiores e todos os navegadores fugiam daquele lugar, onde Gadreel abandonava a cauda à mercê do frio. À noite, uma tempestade cobriu o céu de nuvens.
Os relâmpagos brilhavam, o trovão ribombava, enquanto que o mar, negro e agitado, elevava os grandes pedaços de gelo, fazendo-os brilhar ao clarão dos relâmpagos.
O terror espalhou-se por todos os lados; mas Gadreel, tranquilamente sentado sobre a sua montanha de gelo, viu a tempestade cair em ziguezague sobre a água revolta.
A primeira vez que um dos irmãos subia à superfície, ficava sempre encantado com tudo o que via; mas depois de crescido, quando podia subir à vontade, o encanto desaparecia, ele dizia que lá embaixo era tudo melhor, que nada valia o seu lar. E renunciava bem depressa às suas viagens por lugares distantes.
Muitas vezes, os cinco irmãos, de mãos dadas, subiam à superfície do mar. Possuíam vozes encantadoras como nenhuma criatura humana poderia possuir, e, se por acaso algum navio cruzava o seu caminho, eles nadavam até ele entoando cantos magníficos sobre a beleza do fundo do mar, convidando os marinheiros a visitá-los.
Mas estes não podiam compreender as palavras deles, e nunca viram as maravilhas que eles descreviam; e assim, quando o navio afundava, os homens se afogavam e somente seus cadáveres chegavam até o castelo do rei do mar.
Durante a ausência de seus cinco irmãos, Castiel ficava ao pé da janela, seguia-os com o olhar e tinha vontade de chorar. Mas um tritão não chora, e assim, seu coração sofre muito mais.
- Oh! Se eu tivesse quinze anos! - dizia Cas: - Sinto desde já que amarei muito o mundo lá em cima e os homens que ali moram.
E chegou o dia em que Castiel também completou quinze anos.
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o pequeno tritão《 destiel
Fiksi Penggemar"Antes do nascer do sol, é preciso que você enterre este punhal no coração de Dean, e assim que o sangue ainda quente cair aos seus pés, eles se unirão e se transformarão numa cauda de peixe. Você voltará a ser um tritão." [Adaptação do conto "A S...