Carta 02: De Daniel para Grace

45 9 0
                                    


Londres, 16 de setembro de 1730.

Minha Grace.

Você não faz ideia da alegria que me deu ao me enviar esta carta. Minha vontade é esquecer o decoro e ir a pé agora mesmo até a sua casa e sequestra-la para fugirmos juntos. Como ousa insinuar que talvez eu não ame a pessoa que você se tornou? Esses oito anos só lhe fizeram bem, mulher. Perdoe-me se fui rude no nosso reencontro, porém quando soube que você estava casada, meu primeiro sentimento foi raiva. E depois foi substituído por ciúmes. Um ciúmes louco de um homem que pode tocar, beijar, abraçar e se deitar com você todas as noites nesses anos todos. E mesmo que ele já não possa fazer isso, cada vez que você pronuncia ou escreve o nome dele é como se estivesse enfiando um punhal em meu coração.

Paradoxalmente também sou muito grato a este mesmo homem por ter cuidado de você e de nossas meninas durante todo esse tempo em que pensei que você estivesse morta. Porque sim meu amor, meu pai disse que você estava morta. Porque era isso que eu deveria ter feito. Porque era isso que eu deveria fazer com todas as bruxas. Eu chorei a sua morte por vários anos e vivi no exílio desde então. Também me afastei do nosso mundo e nunca fiquei muito tempo em cada lugar por medo de ser encontrado pelo meu povo, que me considera um traidor. Jamais pude imaginar que você estivesse tão perto até que o chamado do sangue de nossas filhas fez com que eu as encontrasse. Lembra que você chamava esse meu poder de "rastreador"? Foi ele que fez com que eu a encontrasse.

No começo pensei que era impossível, porque mesmo que você estivesse viva eu só posso sentir a presença de pessoas que tenham o meu sangue. Não me passou pela cabeça que poderia ser um filho. Ou melhor, duas filhas por isso o chamado foi tão forte. Sei que todos os homens preferem filhos homens, porém eu sempre sonhei em ter filhas. Acho que falei isso a você, não falei?

Mulheres são mais inteligentes, mais fortes e mais bonitas. Veja você por exemplo, minha querida. Tanta história em apenas vinte e seis anos de vida. Ah novamente me pergunto, como pode pensar que eu poderia não amar essa mulher que você se tornou?

Talvez isso soe um tanto perturbador, mas eu espiei vocês por algumas semanas antes de aparecer na sua janela. Eu queria ter certeza de que não estava ficando louco. Quando eu a vi com as meninas, não tive dúvidas de que eram mesmo minhas. Elas são a minha cara! Imagino que deva ser difícil explicar os cabelos negros e lisos delas já que os seus e das suas outras filhas são claros.

Você está ainda mais linda apesar do semblante cansado, que pretendo tirar de você. Seus olhos tem o mesmo brilho e as novas curvas que seu corpo ganhou depois das filhas, lhe deixaram ainda mais atraente. E o cheiro desse perfume na carta? Eu provavelmente fiquei uma meia hora cheirando a carta antes de lê-la. Deitei-me e fechei os olhos imaginando que você estava nos meus braços. Eu sonho com isso há tanto tempo, minha Grace, que a ideia de não amar você torna-se absurda.

E minha cara, você pode estar vivendo como uma católica, porém uma católica jamais escreveria o que você escreveu a mim. Você continua sendo aquela menina aventureira e audaciosa, vejo com clareza isso por suas palavras.

Portanto, é claro que eu aceito sua proposta. Aceito e entendo. Também não me sentiria bem roubando você de um homem à beira da morte. Nosso amor suportou oito anos de espera e tenho certeza que é capaz de esperar mais. Eu esperaria a eternidade para vê-la, nem que fosse por um breve minuto.

Mal posso esperar para vê-la e para conhecer todas as suas filhas. São todas lindas como você e tenho certeza que são tão encantadoras quanto. Quais são os nomes delas? Quantos anos tem? E quando podemos nos ver novamente?

Tantas perguntas tenho para você, que faltaria tinta e papel para escrever.

Então deixo de lado as perguntas e sigo tentando provar que não há possibilidade de que você possa não me agradar mais.

Eu sonho todos os dias em prender meus dedos nos cachos de seus cabelos suados enquanto fazemos amor noite adentro.

Sonho com o gosto dos seus lábios carnudos e com as minhas mãos nas curvas das suas nádegas quando estou dentro de você.

Sonho em arrancar seu espartilho, rasgando-o de cima a baixo num único movimento e colocar minha cabeça no vão quente entre suas pernas fazendo-a gritar e implorar para que eu pare.

Ah, Grace, eu já estou tendo uma ereção só por escrever e imaginar isso, então por favor nunca mais duvide de meus sentimentos por você.

Eu recuperei minha alma por você.

Eu a amo com todo meu coração e a desejo com todo meu corpo.

Esta noite, peço que beije nossas meninas por mim. As nossas e as suas, que também serão minhas pois já as amo somente por serem suas.

E que você durma imaginando meus beijos passeando por todas suas deliciosas curvas.

Morto de saudades, Daniel.


CONTO - Marcas do passado - K. Corsiolli (sem edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora