Londres, 16 de setembro de 1730
Suas palavras têm me aquecido nessas frias noites de inverno. Infelizmente nosso encontro tem que esperar pois minha sogra está nos visitando e não quero dar mais motivos para ela implicar comigo.
Por algum motivo a velha nunca gostou de mim. Especialmente depois que tive quatro meninas e nenhum filho homem. Nesses momentos eu sinto uma saudade absurda de casa, onde as mulheres são desejadas e respeitadas. Aqui as mulheres não têm nada além de um mero papel decorativo na sociedade. Ela também me culpa pela doença do filho dela, já que ele sempre foi muito saudável durante todo o tempo em que estivemos juntos.
Mas não vamos perder tempo falando de minha sogra e de meu marido, do qual você já deixou claro que sente ciúmes. Pois não deve ter, meu coração sempre foi somente seu.
Esta noite dei dois beijos em cada uma das meninas antes de elas irem dormir. Um por mim e outro por você. Nossas gêmeas se chamam Lilith e Morgan e como você sabe, elas têm oito anos. Eu não sabia, mas estava grávida de umas quatro semanas no dia em que nos separamos. Elas nasceram numa noite de lua cheia em Beltane, o que fez com que eu lembrasse ainda mais de você. Lembra-se do nosso primeiro festival juntos? No dia do nascimento delas foi um dos momentos em que mais senti falta de casa. Foi a primeira vez que não houve uma comemoração no primeiro de maio.
Lilly e M. me lembram de você em muitas coisas. Elas têm os seus olhos e os seus cabelos e mesmo que não saibam herdaram seu dom de ler os pensamentos alheios. Elas chamam de adivinhação ou sorte pois convivemos num meio em que a magia está longe de ser bem-vinda, porém eu temo que em breve terei que explicar a verdade a elas.
Minha terceira filha tem seis anos e se chama Annabella, porém nós a chamamos de Annie. Creio que Annie nos dará algumas dores de cabeça quando chegar a adolescência. Ela gosta muito de brincar com os meninos e me enche de perguntas sobre de onde vem os bebês. Aliás ela faz inúmeras perguntas sobre tudo, às vezes simplesmente não sei mais o que dizer e a mando brincar lá fora. Minha caçula tem três anos e se chama Helen, em homenagem a avó de John. Ela ainda é muito jovem para esboçar muita personalidade, mas já escolhe o que vestir e se recusa a pentear os cachos dos cabelos. Nunca consegui prender uma fita sequer naqueles cachinhos dourados.
Todas elas são muito espertas e aprendem com facilidade tudo que lhes é ensinado. Não é porque são minhas filhas que digo isso, seus professores sempre as elogiam também.
Tenho certeza que você sentirá muito orgulho delas, assim como eu também tenho. Minha maior dor é que elas tenham perdido o pai tão cedo em suas vidas, especialmente Helen, que dificilmente se lembrará dele. Espero que você possa preencher esse vazio no coraçãozinho delas.
Desculpe novamente por falar de John, mas ele tem sido grande parte da minha vida por uma década, tenho certeza que durante este tempo embora não tenha se casado, alguém preencheu sua cama para aquecê-lo nas noites frias como hoje.
Saiba que não há nada que eu queria mais que estar em seus braços neste momento. Leia meus pensamentos e saberá que não estou mentindo, meu querido.
Contarei os minutos para que minha sogra vá embora e possamos marcar nosso encontro, pois já não sinto mais seu cheiro em meu travesseiro, nem lembro do gosto dos seus lábios.
Que me dera os deuses tivessem me dado o dom do tele transporte ou da projeção para poder estar com você sempre que eu quisesse.
Ummilhão de beijos da sua, e só sua, Grace.
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CONTO - Marcas do passado - K. Corsiolli (sem edição)
Roman d'amourLIVRO REGISTRADO! PLÁGIO É CRIME! DISPONÍVEL NA AMAZON: kindle: https://amzn.to/2u7liEX impresso: https://amzn.to/2vNJhtd "Tentei de todas as formas esquecê-lo e esquecer todos os nossos momentos juntos e enganei a mim mesma todos esses anos acredit...