Durante a primavera, as sementes carregadas pelos pássaros migratórios no início do inverno começam a germinar, tornando campos vazios e áreas desabitadas em belas paisagens verdes Iluminadas pelo sol. Este é o fenômeno que tornava as barrentas colinas Theodore em uma pulsação de vida quando o vento soprava entre os ipês e arrancava inúmeros dentes-de-leão que rodopiavam como flocos de neve, cobrindo a estrada 65.
Mas nesse dia, a calmaria era quebrada pelo som de passos desleixados numa fuga ensandecida. Os galhos mais longos arranham o rosto e braços da garota, criando pequenas marcas vermelhas sem no entanto alterar sua velocidade.
Quanto tempo ela havia corrido? Como ela havia escapado e de quem? Tudo que se lembrava era das mãos geladas em seu rosto. Qual era seu nome? Na sua mente pulsava o rosto de um homem alto com cabelos ralos e uma expressão séria. Este homem a machucava, apertando-a com mãos fortes. Parecia distante. Não sabia se era real ou um sonho. Mas o medo era quase tangível, e mantinha suas pernas em movimento.
O gosto amargo e ferroso na boca parecia sempre ter estado ali. Suas pernas ardiam, mas sabia que precisava continuar. Não era seguro. Seus pulmões se esvaziavam tão logo eram enchidos, com um som alto de expiração.
Centenas de metros a frente, havia uma casa. Tudo que precisava fazer para sobreviver, era chegar a ela. Se suas pernas aguentassem.
Kelly. Seu nome era Kelly.
O homem em sua mente repetia "Você vai morrer. Você vai matar".
Tudo parecia distante e sem importância, exceto a voz e o rosto. Não queria segui-lo. Precisava sobreviver.
Só mais alguns passos até ele, e estaria em segurança.
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Acordar com o telefone tocando é uma das coisas mais irritantes pra alguns, especialmente às 7 da manhã. Não era diferente com Jake. Se espreguiçando, ele se virou pra encontrar uma cama vazia. Talvez Rachel tivesse ido buscar suas roupas em casa. Gostaria que ela tivesse esperado, mas sabia que não adiantava argumentar, a garota havia aprendido a ser independente no dia em que sua mãe falecera. Os anos não haviam apagado a dor, apenas escondido atrás de um sorriso e maquiagem desnecessariamente pesados.
Sentou-se na cama, acendeu um Marlboro e deu uma longa tragada. O telefonema devia ser importante pra pessoa insistir tanto.
"Jake falando."
Do outro lado, um homem de voz potente vociferou.
"Teje preso, jovem do reggae!"
"Fala Sanchez, o que manda?"
Agora mais amigável, a voz explodia numa gargalhada. "Cara o que foi que você aprontou? O velho Wellington fez um B.O. no seu nome, preciso que você venha aqui mais tarde."
"Ele machucou a minha garota então quebrei o nariz dele." Disse Jake calmamente.
"Cara, você é muito burro. Se for bater em alguém, bate pra machucar. Quebra ele totalmente, pra que só em ouvir seu nome ele mije nas calças. Vou tentar limpar a sua aqui, mas ainda vou precisar do seu depoimento."
"Ok, passo aí daqui a pouco. Até mais velhinho."
"Certo. Vê se não morre."
Nada inesperado, mas isso podia consumir muito tempo. Não era uma boa hora pra isso, Rachel com certeza voltaria mais tarde. Ou não?
Ligou a tv. O noticiário matinal mostrava um caso sensacionalista sobre animais de fazenda com duas cabeças e um garoto de 8 anos que havia atacado sua professora a mordidas.
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Predadores
HorrorQuando Jake visita a cidade onde passou sua infância em busca de sua antiga namorada, ele esperava que sua vida mudasse para melhor. Mas figuras poderosas esmagam seus planos ao espalhar uma doença que torna as pessoas violentas e inconsequentes, an...