Capítulo 1/ Adriana

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Era segunda-feira de manhã, e eu estava na correria de sempre.

Banho.
Secar o cabelo.
Maquiagem.
Roupa para o escritório.

Verificar se os meus gêmeos tinham tomado banho.

Café da manhã dos gêmeos.
Café da manhã do meu marido, Daniel.
Meu café da manhã.

Celular carregado.
Notebook.
Pasta de trabalho.
Conferir meus casos que seriam trabalhados no escritório.

Ok.

Rotina: como essa pequena palavra me incomodava. Ultimamente parecia que eu estava numa relação abusiva com ela.
Para todos os lados que eu olhava ela estava ali presente.
Rotina, rotina, rotina.

Me despedir dos gêmeos e deixa-los com a babá.
Me despedir de Daniel com um beijo.
Cada um entra em seu próprio carro.
Daniel dá a partida e sai do condômino no carro da frente, eu faço o mesmo  logo atrás.
Ir para o escritório.

Ter filhos nos tira tempo, e mesmo com babá e empregadas, eu ainda não conseguia me manter na linha.
Eu gostava de ter ajuda, mas no fundo eu gostava que tudo fosse do meu jeito. Troquei de empregadas e de babás até encontrar as mais manipuláveis possível.

Ultimamente parecia que eu sempre estava correndo. Nada parecia 100% pra mim.
Minhas expectativas sempre foram altas, sempre me cobrei demais.
Eu me cobrava muito para ser uma mulher perfeita, mãe perfeita, filha  perfeita, e advogada perfeita.
Confesso, eu estava à ponto de explodir.

Eu estava começando minha carreira como advogada no escritório que era do meu pai que também exerce a função. Acabei seguindo os passos dele porque queria deixa-lo com orgulho de mim. Na verdade eu gostava de música, eu amava tocar violão e cantar. Mas eu sabia que aquilo não dava dinheiro, então eu segui pelo caminho mais fácil.
Depois que descobri a minha gravidez acabei casando com o Daniel.
Ambos tínhamos 20 anos quando nos conhecemos na faculdade.
Depois de um tempo namorando veio a gravidez. Foi idiotice, eu sei.
Engravidar estragou todos os meus planos.
Casamos antes que as pessoas pudessem suspeitar da gravidez, foi tudo muito corrido. A minha família era muito tradicional, eles não queriam que o nome da nossa família virasse pauta de conversas de domingo na casa de outros parentes.

Nem Daniel, nem eu queríamos aquilo, mas fomos obrigados.
Eu com 24 anos de idade, a flor da juventude, estava casada com meu primeiro namorado, com um casal de gêmeos, formada e com uma profissão.
Era o sonho de muitos, mas não o meu.

Para piorar tudo, o meu casamento estava indo de mau a pior. Não sei bem se o Daniel tinha outra, mas as coisas andavam estranhas entre nós. Não existia mais afeto, embora o nosso casamento ainda fosse recente. Ele dizia que eu só pensava em serviço, que eu nunca tinha tempo para ele ou nossos filhos, como se isso fosse justificativa para ele agir como um idiota comigo.

Nossos filhos eram um lindo casal de gêmeos.
A menina se chamava Ana , e o menino se chamava Andreas.
Eles tinha apenas 3 anos. Eu os amava mais que tudo, mas confesso que eu não estava preparada para aquilo tudo. Era muita pressão.

Ao chegar no escritório dou de cara com meu pai.

— Bom dia, Adriana.

— Bom dia, papai. — Lhe dou um beijo no rosto.

— Você está linda.

— Obrigada, o senhor também. — Eu já estava me virando para ir para minha sala quando ele pigarreia e bloqueia a passagem para que eu não passe.

— Bom, acho que você ficou sabendo da sua última secretária, certo?

— Certo.  — Reviro os olhos.
Eu já sabia, a última secretária não aguentou ficar nem 2 meses no escritório, e estava querendo abrir um processo me acusando de perseguição e danos morais.

Ah, pelo amor de Deus.

Pra ser sincera, nenhuma secretária ficava muito tempo comigo justamente porque o serviço era cansativo e eu também. Eu não abaixava a guarda com quem quer que fosse um só segundo.

— Estamos entrando num acordo pra que ela deixe essa história de lado.

Com "acordo" ele estava querendo dizer que estava pagando pra que ela ficasse na dela, de boca fechada.
Afinal qual era mesmo o nome daquela sonsa? Isabel, Cátia, Bianca... Eu não fazia idéia!

Concordo com a cabeça torcendo pra ele calar a boca.

— Olha, eu contratei uma garota.
Ela é filha de um grande amigo da sua mãe, então por favor, pelo menos só uma vez, pegue leve.

A tal secretária nova estava ocupando a mesa do lado de fora da minha sala.
Seu óculos bem delicado lhe dava um ar de garota inocente. Seu cabelo preso num coque perfeito a deixavam um pouco séria.
Equilíbrio é tudo, né?

Não participo da contratação dos meus funcionários pois não gosto de me envolver com eles de forma mais profunda. Gosto de mandar e dizer o que eles têm que fazer e pronto.  Também não gosto de contratar uma pessoa e depois ser obrigada a ver que é uma decepção como profissional.

Pegue leve? Penso comigo, não mesmo, papai!

Com essa novata não seria nada diferente.
Se ela não conseguisse lidar com tanta pressão que pedisse pra sair e procurasse emprego em outro lugar. Comigo era assim porque foi exatamente como fizeram comigo quando entrei naquele escritório.
Sei que o fato de eu ser filha do dono contribuiu muito com isso. Mas como não tiveram dó de mim por que eu tinha que ter de alguém que não era nada?

— Bom dia. — A garota loira diz toda sorridente para mim.

— Bom dia. — Lhe respondo de uma forma ríspida.

A novata se chamava Amanda.
Ela já era experiente na área, então pelo visto eu não iria ter problemas com ela. Ela tinha por volta de 20 anos, e era solteira.
Tava na cara que ela estava contente e entusiasmada com o novo serviço.

Reviro os olhos e bato a porta com força. Penso comigo mesma, espero que você não me irrite logo de cara, garota.

A Secretária Onde histórias criam vida. Descubra agora