December, 16th 1991

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16 de Dezembro de 1991 - Sibéria

O ranger da porta metálica congelada soava, se espalhando no ambiente, o barulho rápido porém incômodo anunciava a chegada de soldados da Hydra, segundos depois, esses já estavam preparando sua arma que fora mantida em repouso, submetido a temperaturas negativas, congelado. O soldado invernal. Para muitos, ele era apenas história de fantasma, ele era tão secreto, que muitas vezes o próprio soldado duvidava de sua própria existência. Alguns múrmuros em alemão e ele já estava acordado, olhos bem abertos, foi liberto dos cabos que o seguravam, mas ainda estava com sua máscara e continuaria calado enquanto a usasse, pena que o homem de cabelos longos, de um castanho que ás vezes se confundia com preto, demorou a aprender isso.

- Soldat? - Heike soou, encarando o infame soldado invernal. Bucky piscou algumas vezes, tentando assimilar o lugar que estava, sua cabeça doía, eram flashbacks e imagens desconexas em sua cabeça, a Segunda Guerra Mundial, um homem loiro baixinho e magro, uma enfermeira de cabelos castanhos e lábios vermelhos, neve, sangue. - Soldat?! - Heike se pronunciara novamente, dessa vez em voz alta, gritando com Barnes antes de lhe dar um tapa no rosto, apenas o impacto da mão do soldado com o rosto do Activo foi ouvido. - Setzen Sie ihn auf dem Stuhl. (Coloque-o na cadeira.) - Heike disse, olhando para um dos soldados armados da instalação.

Seu rosto estava inchado, a máscara cobria isso, mas o tapa de Heiki havia sido forte, Bucly não gemera de dor ou se pronunciara. "Ruhig" (calado), pensou, lembrando-se das várias vezes que tentou fugir, até as torturas ficarem intensas demais para ele tentar escapar novamente. Não eram mais apenas tapas e ponta pés, não eram só socos, eram dias sem comer e sem tomar banho, sem direito de ir ao banheiro, humilhações verbais e agressões físicas, havia chegado ao ponto que independente da conduta dele e de seu congelamento, era levado para uma cadeira elétrica, apenas para se lembrar que estava preso, que devia obedecer e que poderia acabar morto pelo simples prazer dos homens da hydra de o fazerem sofrer. Após ser segurado pelos dois braços, por soldados que estavam ali, foi postou na cadeira, sua máscara foi tirada, mostrando seu rosto vermelho, teve os braços e pernas presos para não tentar fugir e os horrores só estavam começando ali.

A eletricidade foi ligada, seu braço era de metal, a dor só ficava maior a cada instante, tentava não se mexer, ou gemer de dor, não podia demonstrar fraqueza, era uma arma viva, uma máquina de matar, mas ainda era humano, de carne, osso e partes de metal. Fechava os olhos, apertando os lábios, os mordendo e se lembrava de sua queda, a verdade era que não sabia que era ele quem tinha caído, mas se lembrava do sangue marcando a neve, os soldados o arrastando no chão sem dó ou o mínimo cuidado, se lembrava da cirurgia feita sem anestesia que lhe dera o braço de metal e se lembrava de alguém gritando seu nome. "Bucky", pensou, guardando para si mesmo o próprio nome ou apelido enquanto sentia seu corpo arder por inteiro.

- Sehnsucht. Gerostet. Siebzehn. Ofen.(Saudade, ferrugem, dezessete, amanhecer.) - A cada palavra, a respiração de Bucky se tornava cada vez mais irregular, ele sentia como se o ódio, a raiva ou qualquer outro sentimento destrutivo crescesse em si, tomando suas veias por completo. - Neun. Gutartige. Heimkehr, Ein, Güterwagen. (Fornalha, nove, benigno, retorno, um, vagão de carga.)- Ao final, os choques cessaram, a cadeira foi desligada e Bucky foi solto, ficou em pé, parado, como se estivesse imóvel, ainda calado. - Soldat? - Heike o chamou, Bucky apenas se virou para o superior o respondendo. - Bereit zu gehorchen. (Pronto para obedecer.) - Heike sorriu fraco, rapidamente escondendo o sorriso enquanto Bucky esperava suas ordens, parecia que agora o soldado invernal não se lembrava de nada, apenas que tinha algo a cumprir.

- Howard Stark, assassine-o, nos traga o soro, você tem 12 horas. - o superior disse sério, Bucky assentiu com a cabeça colocando sua máscara, se armou e seguiu com alguns soldado da Hydra em direção a um pequeno avião, a viagem não seria longa, e era aquilo que mantinha o assassino focado.

[...]

A estrada estava deserta, escura, nenhuma alma viva por ali, o barulho de uma coruja e de alguns grilos era o máximo que se podia ouvir, até uma moto levantar um louco da poeira do local. Ele se aproximou devagar, tentando não fazer barulho, o carro a sua frente e a pouca iluminação da área ajudavam nisso. Já ao lado do carro, ainda na moto, o empurrou para o lado, para frente de uma árvore, como se fosse um mero pedaço de papel, o carro bateu, fazendo seu motor pegar fogo em seguida, mas esse não era o fim da missão. Sem parar a moto, o soldado voltou até o lugar do "acidente", o motorista e a mulher que estavam no carro estavam desacordados, parou a moto a alguns poucos metros saindo dela, olhou a sua volta, checando o ambiente antes de abrir o porta-malas. Ao abrir encontrou uma maleta prateada, só podia estar ali, conferiu e achou o que queria, frascos com um soro azul ainda desconhecido, ouviu alguns gemidos e pedidos de ajuda, vendo um homem se arrastar tentando sair do carro. Se aproximou sem falar nada, o encarando rapidamente.

- Sargento Barnes? - o homem de cabelos brancos visivelmente machucado com a batida perguntou assustado e surpreso. - Ajude minha mulher! - Howard suplicou, sem esboçar emoção, Bucky o pegou pelo pescoço, virando o homem contra o carro, bateu sua cabeça sem dó contra a lataria já amaçada até perceber o sangue jorrando em suas mãos. Colocou Howard de novo no banco do motorista, como se nada tivesse acontecido, andou até o lado do passageiro encontrando Maria, a esposa de Howard, ela ainda estava viva e um tanto desnorteada, com seu braço humano, segurou o pescoço da mulher, a sufocando sem pressa, sem pena, sem se importar, quando sentiu que não existia mais pulsação, batimentos cardíacos ou respiração, soltou o pescoço da senhora, ele caminhou a passos lentos para o porta-malas, pegando a maleta que agora era sua, olhou mais uma vez ao redor e percebeu uma câmera, sorriu cínico tirando uma arma de seu coldre, encarando a câmera friamente antes de atirar na mesma. Guardando a arma e subindo na moto com a maleta, o soldado invernal desapareceu na escuridão e solidão da estrada, cometendo o crime perfeito que não deixara provas ou testemunhas.

[...]

Ás 12 horas de prazo estavam completas, já na instalação siberiana da hydra, entregou a maleta para Heike sem nada dizer, ouviu os cumprimentos do superior e ficou parado, esperando ser congelado novamente, mas não seria agora que teria esse pequeno descanso, tudo aquilo estava só começando, o assassinato de Howard Stark era apenas o início do que seria o fardo e a tormenta do Soldado Invernal, para o resto dos seus longos e sofridos dias.

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