Capítulo 4
Na confecção...
— Já é quase hora do almoço e nada desses materiais chegarem, Carol — reclamo com a minha secretária.
— Eles já estão a caminho, senhora. Acabaram de confirmar a informação por mensagem — informa, entregando-me a tabela de criação.
— Uma coisa que eu não tolero e detesto são atrasos. Esses tecidos eram para estarem aqui há duas horas!
— Eu irei investigar o motivo do atraso, não se preocupe.
— Obrigada. Depois chame o Guilherme, por favor.
— Sim, com licença.
Sozinha, eu começo a dar uma olhada nos pedidos que recebi hoje de manhã. E tenho uma ótima ideia – ótima não, uma perfeita ideia. Todavia, não a colocarei em atuação no momento.
— Acredita que hoje cedo eu fui comprar o meu Cappuccino Italiano de sempre e encontrei o Marcelo? Aquele magrelinho tímido que trabalhava na livraria e que derrubou duas vezes suco em você. Se recorda? — Guilherme indaga, adentrando na sala e sentando-se na cadeira giratória.
— Marcelo? Acho que eu me lembro sim. Por quê? Aconteceu alguma coisa com ele?
— Sim, santíssimo senhor da trindade agiu na vida do homem. Ele está um babado. Você nem reconheceria mais. Viado, aquela timidez toda evaporou, estou achando que virou centímetros — suspira com a mão no peito.
— Até esse não escapa de você, coitado! — Sorrio.
Ele pisca e levanta-se, perspicaz.
— Escutou isso?
— Escutou o quê? — Eu questiono pega de surpresa, sem entender nada.
— Meu estômago gritando socorro! Vamos mulher, por favor, eu estou morrendo de fome!
Mas é um palhaço!
Eu deixo o Guilherme escolher o restaurante de hoje. E pôde-se dizer que ele acertou dessa vez. A comida é excelente, uma delícia gastronômica. A sobremesa então? Nem se fala.
— Patroinha do meu coração, inspiração do meu viver, que tal dar o resto do dia de folga para o seu súdito aqui, hein?
— Posso saber o motivo? E espero que seja um bem convincente, senhor Guilherme — replico, dando uma colherada no meu Verrine de Banana.
— É que eu preciso comprar uns presentinhos para a minha sobrinha Lu. O aniversário da diabinha é hoje.
— Sei, mas só se você disser que a mandei um beijo.
— Eu mando até três! — sorri.
Hum... eu não sei se acredito nessa cara de pau dele. Está muito estranho, no entanto, não vou ficar o enchendo de perguntas. O que estiver aprontando, na hora certa, ele conta.
Após sair do restaurante, eu deixo o Guilherme na balada de ontem à noite para poder pegar o seu carro e volto para a empresa.
— Sra. Collins! — Carol chama alto pelo meu sobrenome, antes de eu entrar na sala.
Eu viro, olhando-a.
— Já falei que sem essa de "senhora", dona Carol. Apenas Clara.
— Sinceras desculpas, patroa, é que alguém deixou esses convites na recepção para serem entregues imediatamente.
— Obrigada, vou conferir.
Eu pego e entro na sala, lendo os convites muito bem detalhados. É para o desfile famoso da Alexandra Moscovis, na sexta-feira à noite. Não a conheço pessoalmente, mas sei que seu nome é muito bem citado no mundo da moda, além de uma referência importante. Eu guardo o convite na bolsa, regressando a concentração para a pilha de trabalho sobre a mesa.
• • •
No fim do serviço, chego em casa e vou direto para o quarto tomar um banho relaxante. Quando termino, desço e aguardo o meu pai para jantarmos. Só que ele não aparece. Decido ir até o seu escritório e entro, observando-o sentado, lendo alguns papéis com atenção.
— Oi, papai!
Paro na frente da sua enorme mesa de vidro.
— Oi, minha querida — sorri —, posso saber qual o motivo da sua honrosa presença no meu humilde ambiente?
— Sabe... como hoje não me viu e eu não queria que o senhor corresse o risco de morrer de saudades de mim, eu resolvi vir até aqui evitar o pior dos piores.
— Não é ao contrário, não? — Ele balança a cabeça, rindo.
— Não mesmo. Na verdade, eu estava esperando o senhor para jantar. Não queria ficar sozinha. E como não apareceu, eu vim te buscar pelas orelhas.
— E por que não me chamou antes? — indaga, levantando-se.
— Não queria atrapalhar a sua concentração... como fiz agorinha.
— Você nunca atrapalha, filha. E vamos logo, antes que você enfraqueça de fome — beija a minha testa.
Não mudou nada, parece até a minha mãe falando. Ele sempre foi um amor comigo. Na minha infância, passava o tempo todo ao meu lado, mesmo separado da mamãe.
— E cadê a dona Marta? — Ele pergunta assim que colocamos os pés na sala.
— Pedi para ela ir se deitar. Ela meio que hesitou, mas a convenci dizendo que não se preocupasse, porque o senhor e eu tiraria a mesa.
— Que senhor? Não estou vendo-o por aqui — o engraçadinho fala, olhando para todos os cantos.
— Talvez, se você olhar na direção daquele espelho ali... — aponto para a segunda parede espelhada. — Vai achar o que tanto procura.
Ele começa a rir, eu também.
Mais tarde, eu envio uma mensagem para a minha mãe, que quase todos os dias da semana me bombardeia pedindo notícias, e vou descansar.
— É ela, podem trazer!
— Não, como assim sou eu? — Eu começo a me sacudir, tentando correr, entretanto, mesmo assim, as duas pessoas encapuzadas não me soltam.
— Você não teve escolha, se meteu com quem não deveria. Agora a tragam!
— NÃO! QUEM SÃO VOCÊS?! ME SOLTEM, AGORA!
Acordo ofegante, notando que foi apenas um pesadelo ruim.
Debruço o braço na mesinha da lateral e pego o celular para ver as horas, aliviada, vejo que ainda são 03h40 da manhã. Resolvo voltar a dormir, ou tentar.
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Roman d'amour+18 | Clara Collins é uma mulher recém-formada em design de moda. Ela saiu da casa da mãe em Curitiba, para, com a ajuda do pai, um advogado renomado, realizar o seu grande sonho no Rio de Janeiro, de fundar a sua empresa de confecção de roupas. Por...