She and her only

Capítulo 1

França 2008

Quando se tem 8 anos, é difícil mudar, mudar de casa, deixar a escola, amigos e ir embora, largar tudo e apenas ir, para um lugar que você nem conhece.
Morava na França em um pequeno apartamento da Rue des Chaufourniers, é um bom lugar pra morar, tinha um parque subindo a rua, brincava lá quando minha mãe permitia, as vezes saía de casa pra brincar lá, mesmo sem ela saber, mas sempre ficava de castigo quando ela descobria. Os vizinhos até que eram legais. No apartamento de baixo vivia a Dona Elza, não gostava muito dela, sempre implicava comigo, e ainda criava mais de 8 gatos lá dentro, o fedor que ficava no corredor era insuportável. Tinha alguns amigos, mas gostava de brincar sozinha, na verdade eles não gostavam de brincar comigo, falavam que era muito boba, e sempre tiravam sarro da minha cara, eu não aceitava o fato de que não tinha amigos, então sempre me "humilhava" novamente só pra saber como era a sensação de brincar em grupo. Agora tenho que deixar tudo isso pra trás, não vai ser muito difícil, largar tudo, com exceção da casa, gostava do cheirinho de madeira molhada quando chovia, do modo como o sol da manhã entrava pela janela e batia no filtro dos sonhos que ficava na parede do outro lado da sala, o cheiro do chá de canela que a vizinha do lado fazia todas as manhãs, o barulhinho que a porta da frente fazia quando à abriam. Nunca vou esquecer que aqui é a minha casa, que aqui dei meus primeiros passos e vi como realmente é a vida, com seus altos e baixos.
Minha mãe e eu vamos morar no Brooklin, fica em Nova York, ainda nem acredito que vou deixar tudo isso pra trás, deixar meus costumes, e o lugar onde vi e aprendi tanta coisa, o parque, o país. Talvez nunca me acostume com a vida nova lá, outra escola, outra casa, outros amigos.

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  Nova York

Até que gostei de viajar de avião, demorou algumas horas para chegar em NY, visto de cima é uma cidade  muito grande, há muito do que se ver por aqui.
Minha mãe me disse que não é pra sair por aí em busca de aventuras, ela diz que sou muito nova e não conheço o bairro, ela deveria confiar mais no meu GPS interior, sou muito esperta, nunca vou me perder.
Ela já me matrículou na escola nova, não é muito longe da minha casa. Por aqui é tudo diferente, a casa é maior, o piso é de madeira, e as vezes ele range, isso me assusta, ainda é tudo estranho pra mim.
Hoje mesmo vou pra escola, minha mãe vai me deixar, presto bem atenção no caminho pra conseguir voltar sozinha, quero mostrar à ela como eu sou esperta e quem sabe possa ir todos os dias para à escola sozinha.
Ao longo do caminho ela vai me mostrando coisas legais, me ensina até um jogo diferente;
- Você olha bem para a pessoa que está a sua frente e "julga" ela. - disse ela
- Olhe bem aquele moço a nossa frente - apontou ela disfarçadamente para um rapaz alto com uma jaqueta preta e cabelo colorido; ele tinha alguns assessórios cheios de caveiras e usava alguns brincos estranhos.
- Ele é o tipo de cara que anda com os pés, cheio de marra, acha que nada pode lhe impedir, curte músicas bem pesadas e usa o álcool como escapatória pra tudo ao seu redor. Agora é sua vez, observa alguém e julgue. - Disse por fim minha mãe
- Bem, aquela senhora alí - apontei para uma senhora que estava sentada com algumas sacolas ao seu lado, ela esperava o ônibus.
- Ela é o tipo de pessoa que adora bolinhos e tem na geladeira vários refrigerantes e não gosta de dividir. -
Minha mãe riu muito disso, ela disse que tenho muito que aprender.
Quando cheguei na escola tinha muitas crianças diferentes cada uma no seu devido lugar, elas não se misturavam, ficavam em grupos, como peixes em um aquário; cada um com sua espécie.
A minha turma era legal, mas fiquei na minha o tempo todo, e no final da aula não esperei minha mãe, gravei muito bem o caminho na minha cabeça, decidi voltar sozinha. E foi aí que me dei mal, não sabia o caminho de volta, e nem onde eu estava, definitivamente aos meus 8 anos de idade, fiquei perdida em Nova York.