Em Nova York, as ruas no horário de almoço são bem movimentadas, cheia de pessoas falando ao telefone, adolescentes e crianças acompanhadas dos pais saindo da aula, lanchonetes e cafeterias lotadas de pessoas que não se importam com quem está ao seu lado, garçons e atendentes estressados com tanta gente fazendo pedidos ao mesmo tempo, e o dono do estabelecimento feliz pela lotação e lucro do seu investimento. Poluição sonora de tanto barulho envolvido em um só lugar, pessoas gritando chamando táxis, apressadas para chegar em casa e descansar, buzinas de motos e carros em um pequeno engarrafamento. Tudo aqui é confuso e estressante, fico pensando que seria muito mais fácil se toda essa gente parasse de se comportar como formigas perturbadas dentro de um formigueiro.
Agora entendo o 'porquê' da minha mãe não me deixar ir e nem voltar sozinha da aula, com toda essa movimentação é bem fácil de se perder, mas como já estava perdida, continuo seguindo em frente, até chegar em um parque enorme com várias pessoas praticando esportes, passeando com cachorros, crianças brincando; algumas com patins, babás cuidando de bebês em carrinhos cheios de brinquedos, panos e comida. Mais a frente em um local não muito afastado havia casais de namorados, pareciam felizes e apaixonados, imaginava se algum dia estaria no lugar deles, feliz e apaixonada.
Cansada de tanto andar, resolvi sentar em um banco perto de um parquinho que lá havia, tava cheio de crianças correndo e brincando, enquanto observava e sentia inveja daquelas crianças felizes e cheias de amigos. Estava tão entretida olhando eles brincarem que não notei que havia um menino da minha idade sentado com uma lancheira do Batman em suas pernas, comendo um sanduíche de queijo, e tomando suco de maracujá. Enquanto comia, ele me olhava estranho, um olhar cheio de curiosidade.
- O que tá olhando ? - perguntei com rispidez. -
- Nada. Quer um pedaço ? - perguntou ele franzindo o cenho e com a boca cheia, mastigando. -
- Minha mãe me ensinou que não devo aceitar nada de estranhos, mas você parece inofensivo, então passa pra cá esse pedaço. - falei tomando o pedaço de sanduíche da mão dele -
- Onde você mora ? - perguntou ele tirando um pedaço de bolo de chocolate da lancheira. -
- Brooklin. Aonde você arranja tanta comida ? - perguntei ansiosa para beliscar um pedacinho daquele bolo delicioso. -
- A minha mãe sempre coloca comida à mais na minha lancheira. Ela diz que não posso negar comida aos sem teto, pois eles passam fome. - disse ele me oferecendo um pedaço do bolo. -
- Não sou uma sem teto e não passo fome, seu idiota! - recuso o pedaço de bolo, olho para o menino com desdém e vou em direção à saída do parque andando apressada e com raiva. -
Um pouco antes de chegar na saída do parque, ouvia-se um barulho de alguém correndo carregando várias coisas nas costas, e quando virei, era ele, o mesmo menino que me chamou de sem teto, correndo com uma mochila enorme nas costas e a lancheira do Batman batendo nos joelhos enquanto corria.
- Espera, por favor! - gritava ele -
Uma coisa em mim gritava por continuar andando, e outra parte implorava para esperar. No final das contas, já era tarde demais pra correr.
- O que você quer ? - perguntei ainda zangada -
- Ainda não sei seu nome, e você está indo para o lado errado, o Brooklin ficas a três quadras à esquerda de onde estamos. - falou ele apoiando as mãos nos joelhos e soltando suspiros de cansaço. -
- Amelie Blanchard. E o seu ? - perguntei com curiosidade -
- Joseph Collins. - começamos a andar em direção ao Brooklin, então ele perguntou vergonhoso - Você ainda quer o bolo?
- Com certeza! - disse por fim com um sorrisinho bobo
Andamos em direção ao Brooklin, dividindo um pedaço de bolo de chocolate, estava mais gostoso do que imaginava.
E nesse dia tive uma aventura, saí em busca de minha nova casa em uma cidade que nunca conheci antes. Talvez se esperasse minha mãe na escola, não teria conhecido o Joseph. Sabia que muitas coisas a partir desse dia, mudaria minha vida, não sabia se seriam mudanças boas ou ruins, mas naquele momento eu não pensava no futuro, apenas no presente, e percebi que ao dividir aquele pedaço de bolo, tinha feito uma amizade. E depois daquele dia, Joseph foi o meu primeiro amigo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
She and her only
Historical FictionNo décimo sexto aniversário de Amelie, ela começa a entrar em uma descoberta de dois mundos distintos após perceber que está sendo seguida por sombras, e saí em uma incansável busca para descobrir porquê estão lhe perseguindo e quem realmente ela é.