She and her only

Capítulo 3

  Depois de 7 anos, ainda morava nessa cidade confusa, mas sempre me sentia deslocada em meio ao caos de pessoas vazias que orbitavam ao meu redor. Sempre me senti diferente de todo mundo, e ficava frustada com minha mãe, ela sempre tinha um certo receio de me deixar sair com meus amigos, Até mesmo com o Joseph ou a Abigail.
   Abigail Ulric era filha de Isabel Ulric, que morreu quando ela tinha apenas 1 ano de idade, e desde então à avó Agnes Ulric mudou-se para Nova York e a criou como uma filha.
  Quando a conheci na escola ha uns anos atrás, descobri que minha mãe e a avó dela eram amigas de muitos anos. Lembro que a Sra. Ulric contava histórias de quando as mulheres da família dela nasciam e morriam bruxas de puro sangue, contava também das guerras que aconteciam quando era jovem, da morte das bruxas de Salem, e do medo que sentia, da família ser encontrada e queimada na fogueira.
   Bem, olhando pra Abigail agora, ela não se parece com uma bruxa, ela não é feia, tem olhos cor de mel, e cabelos curtos e negros como a noite, ela realmente é muito bonita, e tem um ar de auto-confiança misturado com uma dose de autenticidade que apenas ela transmite.
    Já o Joseph era gentil, calado e os olhos azuis escuros como o mar, e os cabelos castanhos brilhantes estilo militar, apesar de ter cabelos cacheados esse penteado combinava com ele, confiava em Joseph, e nunca deixaria de confiar, ele morava com o pai algumas quadras da minha casa.
    Depois que ficamos amigos, ainda quando éramos pequenos, passávamos horas e horas juntos, pensando em como salvar o mundo e lendo alguns livros de aventura que ele havia ganha da Sra. Agnes.
Ele sempre adorou poesia, e nas paredes do quarto, tem uma mais bonita que a outra. Adorava quando brincávamos na casa da árvore, ele olhava em meus olhos e recitava todas elas, até dormimos naquela casinha pequenina.
    Não me lembro muito de quando morava na França, minha mãe contava que nas noites em que as estrelas caíam, eram os anjos que  desciam do céu, para nos proteger ou nos amaldiçoar. Ela não me deixava sair em noites assim, mas eu olhava elas caindo da janela do meu quarto, e me imaginava no lugar delas. Imaginava qual seria a sensação do meu corpo queimar, descendo o céu, uma queda de milhares e milhares de altura. Onde estariam minhas asas? Será que seriam queimadas? Eu simplesmente não sei.
-Você precisa de férias! Vamos viajar Amelie, visitar cidades históricas, adoro lugares assim. Imagine só como seria maneiro!
- Abigail você sabe o quanto eu realmente queria ir, mas também sabe que a minha mãe nunca me deixaria ir.
  Sentada no pátio do colégio com um sol escaldante queimando a minha pele, observava as nuvens passando pelo céu azul brilhante, e na minha mente eu apenas pensava como seria a sensação de voar, imagine só ter asas, e sentir o vento em contato com o rosto, sentir ele passar furiosamente pelos cabelos, e todo aquele sentimento de medo e euforia saíndo por cada asa, batendo a cada segundo, a cada momento. Abigail continuava falando de viagens para lugares estranhos, mas eu sentia um peso em meu coração como se algo ruim estivesse prestes a acontecer.
- Lie, o que vai fazer no dia do seu aniversário? Já é daqui a cinco dias, cada dia que passa é uma contagem regressiva até você completar 16, acredite sua vida vai mudar. E como vai mudar, vamos poder sair mais, se sua querida mamãe permitir. - ela fez uma cara estranha de cansaço.
- Eu sei Abi, eu sei. Até quero sair, mas não quero fazer nada muito agitado, poderíamos ir ao parque de diversões. Tomar sorvete comer alguma coisinhas legais e ver os fogos de artifícios.
Por ser extremamente sortuda nasci na véspera de Ano Novo, as vezes fingia que todos aqueles fogos de artifícios eram para mim.
- Não acredito que planejam uma festa de aniversário sem mim. - Joseph, que acabara de sair da aula de História estava com seus olhos azuis extremamente cansados, mas apesar de tudo, sempre levava um sorriso de deboche nos lábios. Estava com cara de quem passou a noite acordado.
- Ela não quer festa Joseph, apenas quer fazer nada de interessante. Vamos Amelie, vamos em uma baladinha, mexer esses quadris - falava Abigail com um certo entusiasmo.
- Ah Abi, você conhece a nossa pequena Amelie, ela não curte essas coisas mais ousadas.
- Haha, engraçadinho. Você dormiu hoje Joseph? Parece cansado.
- Não dormi nenhum minutinho, tinha simulado de história, eu quero entrar em uma faculdade, então preciso passar na matéria de História. Você poderia me ajudar Amelie. Ajudar o seu velho amigo. - Ele me deu uma piscadela e o seu sorriso aumentou.
- Ok, mas só ajudo se fizerem o que eu quiser no dia do meu aniversário, combinado?
- Abigail, eu preciso passar na matéria, faria esse esforço por mim? Prometa que não vai dar uma louca e nem nos sequestrar. - ele olhava pra Abigail igual um cachorro com fome olha para um pedaço de carne.
  -Abigail suspirou em concordância-
- Okay, eu faço esse esforço. - e saiu em direção aos banheiros do colégio.
  Enquanto Joseph comia seus chips de batatas, eu seguia Abigail com o olhos e por um momento desvie meu olhar e o fixei diretamente em uma das janelas da sala de Biologia como se algo atraísse o meu olhar especificamente para aquela janela. E lá estava uma sombra, parecia me devorar com os olhos, a sensação de medo e pavor me dominou.
- JOSEPH OLHA LÁ - apontei diretamente pra janela, todo o meu corpo estremeceu. Joseph observava as janelas a procura do que me fez sentir tanto medo. Seus olhos azuis estavam com um tom mais frio, ele estava preocupado.
- Amelie, olhar o que? O que você viu? Amelie?
Meus olhos demonstravam espanto. E de repente, todas as palavras de Joseph pareciam distante, minha cabeça começou a girar, e tudo começou a ficar escuro.
   A sensação de ser observada, por uma sombra escura, na qual não fazia ideia nem se era real, ou era apenas coisa da minha cabeça começou a me consumir, e após perder quase todos os sentidos, escutei uma voz na minha cabeça, uma voz na qual era impossível de reconhecer, e com palavras curtas e frias sentia como se à tivessem falado no meu ouvido:
- Eu vou caçar você.
E desmaiei.