O Derradeiro (ou luto de quem se foi)

22 4 0
                                    


O Derradeiro (ou luto de quem se foi)

Te esperei por um bom tempo

Ainda que não soubesses, ainda que não pedisse

Involuntariamente fingindo seguir em frente e almejando a tua mudança

Esperei que visse que no final das contas eu sou a peça que faltava

Mas você é apenas o "quebra-cabeça" desmontado,

Você me amou enquanto enigma, não como resposta

Embora seu conhecimento seja limitado sobre mim

Enfim, esperei sentado sem me mover,

Acreditando que um dia as coisas iam melhorar (te esquecer)

Mas a verdade é que esperava o "nós" voltar,

Quando na verdade estava sem perceber desatando o "nós", os nós

Mesmo de longe, sem mencionar palavras, você me causava dor

Ainda que de bobeira, eu me culpava por te amar

E por não amar a mais ninguém como a você

Honestamente, espero nunca mais amar desse jeito

O mais importante é amar a si mesmo antes

E eu já entendi o recado

E foram tantas noites mau dormidas, tantas poesias não escritas

Eu fui me perdendo dentro de mim

Mas é até engraçado: quando aceitei me perder, de repente me encontrei!

Acho que estava precisando chorar a viuvez de um amor que há muito se desfez

Eu me negava a te amar e silenciosamente te amava por tabela

Me escondendo atrás da capa, não me permitia o que era necessário:

Chorar a tua ausência, chorar a tua morte, chorar o teu vazio...

E não pense que foi fácil, achei que esquecer era o fim

Mas esquecer é tão dolorido quanto amar sem ter nos braços

É como arrancar o próprio fígado com uma colher

Porque ele já fazia parte, e agora já não faz sentido

O teu lugar vai ser pra sempre teu, eu não vou destruir

Mas você virou isso, se deixou virar isso: apenas um lugar no meu coração...

Onde ergui um santuário, espalhei umas fotos suas

E vez em quando acendo uma vela, e teu nome aparece na minha prece

Desejando teu bem que, hoje tenho certeza, eu não posso ser

E talvez eu nem queira, ou nunca quis, ao menos não como você queria

Se faltou algo meu, algo seu, isso já não conta

O sentimento deu uma folga no nó da gravata que me estrangulava

Repousou suave no meu peito, e adormeceu

Cuidei, velei até dormir, fechei a porta do quarto e saí

E te amar ficou leve, porém desimportante...


Flávio da Silva Candado


N/A: Se de algo eu tenho certeza, caros amigos leitores, é que tudo na vida passa. Clichê, mas verdadeiro. Eu que pensei estar preso para sempre a um sentimento, me senti livre para amar que mereça por inteiro, e isso foi maravilhoso, e virou poesia.

Aos que gostaram, um muito obrigado. Aos que não gostaram, peço a paciência do desabafo. Palavras perfeitas não existem, pois se existissem, não seriam palavras...

Grande abraço a todos.

Poesia não compra sapato...Onde histórias criam vida. Descubra agora