Dia 3

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- acorda, estou com sono. - mandou Niall, chacoalhando meu corpo.

Acordei com frio, mais que o normal.

- estou congelando - falei - quantos graus está fazendo?

- no mínimo -40°C. Está ficando cada vez pior. Se puder dar licença... - pediu e eu me espreguicei, em seguida saí, dando espaço para Niall se deitar.

Sentei ao seu lado e reparei no curativo que eu havia feito em sua perna.

Poxa, está realmente muito frio, ainda mais para quem está vestindo o que eu estou vestindo.

Pensei um pouco sobre a vida e parei para verificar o pulso de Niall cuidadosamente. Sua pele está um pouco fria, mas a pulsação está normal. Aproveitei para ver a hora em seu relógio, eram 05:20h. Ele me deixou dormir bastante.

Levantei-me para andar um pouco, espairecer, relaxar, o que não deu muito certo.

Eu pensei sobre tudo o que aconteceu nos últimos dias. Metade do mundo acabou, pouquíssimas pessoas sobreviveram, e eu estou entre elas. Pode-se dizer que sou uma garota de muita sorte... ou azar. Porque eu perdi tudo. Tudo o que eu tinha; família, amigos, bens materiais... Resumindo, toda a vida construída por mim em 17 anos foi perdida para sempre por causa das drogas que as pessoas fazem que provocou uma droga de uma gigante alteração climática.

Andei alguns poucos metros, bem devagar, e com os braços cruzados na tentativa de espantar o frio. Fiquei andando em círculos, refletindo e pensando o que eu faria da minha vida se eu conseguisse escapar viva. Provavelmente, viajaria para a América do Sul, Brasil, Argentina, quem sabe até Paraguai.

Sento novamente, desta vez no chão de neve e mais perto de Niall, porém, de costas para ele.

O meu medo é de não conseguir. E se eu congelar? E se nós congelarmos? E por que eu falei "nós"? Por que estou me importando com ele? Se bem que ele se importa comigo... digo, creio que seja somente porque ele não quer que eu morra, talvez um extinto humano, talvez porque "toda vida vale a pena".

Minha visão começa a ficar embaçada, ao mesmo tempo que ouço passos vindo em minha direção. Logo Niall senta ao meu lado.

- o que está fazendo? - pergunta.

- pensando. - falo e me levanto, ele faz o mesmo.

- em que?

- na vida - respondo e suspiro, tentando segurar as lágrimas, em vão.

- Eu sei que tudo isso é assustador, mas nós vamos sair dessa. - disse segurando a minha mão e nos encaramos. Por um momento concentrei-me em seus olhos e percebi o quanto são lindos, mas não importa ele não presta, e de nada adianta ser lindo por fora e feio por dentro.

Fui tirada do meu transe quando senti algo tocar meus lábios. Niall estava me beijando! Ele se aproveitou do meu "momento de fragilidade". Cafajeste do caramba, idiota, inútil!

Tentei me afastar mas ele me segurou, não pensei duas vezes, movi meu joelho com força, mas infelizmente, errei o alvo e acertei sua coxa. Num instante ele se afastou com a mão cobrindo o local da dor.

- Seu joelho é profissional em fazer isso! - Brincou ainda com expressão de dor no rosto.

Eu ri faco.

- Você enlouqueceu?

- Por que?

- E ainda tem a cara de pau de perguntar! - digo e reviro os olhos.

Meu Deus porque com tantas pessoas no mundo me sobrou ficar logo com essa criatura? bufei.

- Vamos andando. chamo, dobrando o lençol de uma forma desengonçada, e colocando na mochila.

Sobreviventes {N.H}Onde histórias criam vida. Descubra agora