Despertar

21 2 14
                                    

   Eu era um rapaz de apenas trinta anos, cabelos ruivos e olhos verdes. Uma vida em ascensão, que repentinamente poderia ter sido retirada de mim.

- Acorde... - Dizia uma voz feminina, mas muito distante.

   Lentamente, comecei a abrir meus olhos, demorando um pouco para me adaptar à luz. Meu braço doía muito, assim como meu corpo inteiro.

- Finalmente. - Prosseguiu a mesma voz, que agora tinha uma silhueta um pouco embaçada. - Você consegue me ouvir?

- Eu... - Gaguejei, com um gosto metálico na boca. - Eu consigo.

- Você ficou desacordado por três dias. - Contou ela, fazendo com que alguns flashes
do acidente voltassem à minha mente. - Um braço quebrado, torção no tornozelo esquerdo, cortes pelo corpo todo...

- Onde eu estou? - Perguntei, agora já enxergando a maior parte das coisas à minha volta.

   Uma moça de cabelos muito escuros me observava atentamente, abaixada ao lado da cama onde eu ficara por tanto tempo. Estávamos em uma pequena sala mal iluminada, com um armário, uma cômoda e uma janela com os vidros embaçados, aparentemente em uma casa simples.

- Você se acidentou na estrada, não muito longe daqui. - Relatou a desconhecida. - O hospital mais próximo é a muitos quilômetros, e como meu irmão é médico, te trouxemos para cá.

- Obrigado. - Disse eu, pausadamente, tentando me levantar da cama. - Mas eu preciso ir, eu realmente preciso ir.

   Senti muita dor no braço ao tentar o movimento, então a pequena lâmpada incandescente do quarto piscou duas vezes.

- É melhor você ficar. - Afirmou a mulher, com a voz levemente trêmula. - Precisa esperar até meu irmão chegar, para que ele possa te examinar novamente.

- Qual é seu nome? - Indaguei, curioso e assustado.

- Todos me chamam de Lee... - Contou ela, um pouco receosa. - E como é seu nome?

- Meu nome é Benjamin, mas geralmente me chamam de Ben. - Relatei, arrumando meu cabelo com a mão.

- Como vai o braço? - Perguntou Lee, apontando para meu pulso esquerdo, que estava preso ao pescoço com uma tipoia.

- Se tiver algum remédio para a dor, pode ajudar... - Comentei, realmente sentindo muita dor.

   A morena se levantou e caminhou até a cômoda, que ficava do outro lado do pequeno quarto, puxando de dentro de uma das gavetas uma cartela com comprimidos brancos.

- Isso deve resolver. - Falou a moça, firmemente, me estendendo também um copo d'água que já estava sobre o mesmo móvel.

   Agradeci com um gesto rápido e ingeri a pílula, assim como o resto do conteúdo do copo.

- Quando seu irmão chega? - Perguntei a Lee, que olhava distraída pela janela quando algumas gotas de chuva começaram a cair.

- Em algumas horas, se tudo der certo. - Respondeu ela, sem tirar os olhos do vidro embaçado por onde alguma luz entrava. - Em algumas horas...

As Oito ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora