Pego da Caneta

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Uma folha em branco - Confissão - Árvores amigas - Viagem ao Egito - Barulho, barulho, barulho! - Ah, os livros! - Algumas bobagens que vieram depois

PEGO DA CANETA PARA ESCREVER algo o qual não sei como terminará. Nem acho que seja uma péssima confissão. É uma jogada no escuro, sem possibilidades de sonegação. Solitária como outras atividades humanas, e nem tão prazerosa quanto outras atividades humanas. Ouvir música, no carro, sem ninguém para interferir, é prazeroso. Como assistir a filmes antigos é prazeroso. Enfim, até como falar sozinho, o que não deixa de ser uma forma bem particular de escrita.

Já que não sei o que faço, bem certo é que não sei o motivo de estar escrevendo. Gastar papel, tempo de leitores, meu próprio tempo, e, pior do que tudo, gastar surtos de ansiedade achando que serei lido. E entendido. E eternizado. E virar nome de rua... bem, nome de rua, não. Prefiro que em meu nome plantem uma arvore.

Taí algo bom sobre o que falar: árvore. Há no meu quintal uma goiabeira simpática, com quem já conversei bastante, antes de conversar com a tela do computador. Dei-lhe uma personalidade, digamos, eclética. Se eu estava injuriado, ela me acompanhava, e se eu transmitia a calma budista ao mundo, ela me antecipava. Era, e ainda é, uma goiabeira amiga.

Os livros cumprem também esse papel. São tão comparados a viagens que devo discordar: são antes disso janelas. As viagens cansam, nem sempre trazem aventuras, mas quando trazem, são desagradáveis, na maioria. Extravio de malas, dinheiro mal gasto, rodoviárias, aeroportos, transito, barulho, barulho, barulho.

Prefiro o silencio da poltrona, da cama, daquele canto em que ninguém mexe com a gente, porque se mexerem... já estive no Egito, sem evidentemente os transtornos e sacolejos da viagem. Não vi muita coisa, seria melhor ter visto pessoalmente, claro. Mas, dentro das possibilidades, foi algo legal, magico, e sempre posso voltar a ter aquelas sensações de quando as tive pela primeira vez, e quem sabe agora melhoradas.

Tai, sim, algo bom de se falar: livros. E melhor do que falar sobre é fazer. E melhor do que fazer, é saber estar no caminho certo por ter feito. Mas a final de contas quem sabe algo a respeito de certezas? Imagino que ninguém. Tem tanta onda curta gravitando sobre nossas cabeças que não entendo como ainda não se alardeou a ideia de chamar a isso poluição ondina. Se servir de algo, este texto, fica o registro de que pensei primeiro. Ao menos alardeei primeiro.

Chega de bobagens, nossa recomendação é de que não apertem os cintos e se sintam a vontade para pular fora quando desejarem. Eu mesmo mal comecei e já estou providenciando meu papa-quedas.

Foi...

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