DESDE QUE SE CONHECIA por gente, Eusébio odiava seu nome.
Nem é preciso dizer por quê.
Culpa do avo paterno, o Eusébio original, e do pai, a quem tal ideia não escapou.
Culpa da mãe, também, que aceitou e até gostou.
Mas já que não tinha jeito, Eusébio teve de aceitar mais uma entre tantas coisas que gente grande impõe aos pequenos.
Voltando ao caso, desde que se conhecia por gente, Eusébio odiava seu nome. Estamos falando de doze anos de existência!
Bem se vê que nosso menino tinha muita paciência.
Contudo, até quando?
Se esta historia está sendo contada é por que algo aconteceu que mudou o rumo das coisas, não é mesmo?
- De agora em diante, quero ser chamado de Eu - falou Eusébio... digo, Eu, durante o jantar, no seio da família.
Todos ficaram mudos. Exceto Jerentizo, o irmão cinco anos mais velho, que gargalhou até lhe doer a barriga.
(Na verdade a barriga nem chegou a doer, porque a mãe o mandou fazer silencio).
- Que historia é essa, meu filho? - perguntou o pai, depois que engoliu todo o arroz quase entalado na garganta.
- Não compreendemos, Eusébio! - exclamou a mãe.
- Sim, não tem mais. Os meninos na escola ficam implicando com meu velho nome, que é horrível. Não pedi pra ter esse nome, não pedi. Então resolvi mudar. Quero ter o nome que um quero. Eu. Vou até virar escritor, daqui a alguns anos. Escolherei um bonito nome e assinarei com orgulho.
Os pais ficaram surpresos com a conversa do filho.
Sem contar que Eu jamais virou escritor.
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Algumas Palavras
Poetry"Recolho-me num canto do meu quarto, teclando letras que acredito serem as mais adequadas, mas não sei exatamente o que estou prestes a escrever. Sinto que me preparo para isto há muito tempo, mesmo antes de nascer. Algo que me foi sendo passado de...