Capítilo I

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Pena de Gaio se virou, com desespero. O Lobo entrou lentamente pelo túnel de samambaias que dava acesso a Toca dos Curandeiros, uma expressão sedenta de sangue estampada em seu semblante. Mesmo sendo cego, sabia que o Lobo o encarava. O curandeiro sentiu um calafrio percorrer seu corpo, não havia escapatória.
O Lobo avançou lentamente em sua direção, sua respiração quente formava nuvens de poeira gelada no ar frio e seco da Estação Sem Folhas. Pena de Gaio desembainhou as garras e desviou com dificuldade da avançada repentina do Lobo, este sacudiu a cabeça e com posicionou seu ataque novamente.
Sem esperanças, o pequeno gato, se encolheu no fundo da toca, esperando silenciosamente por sua morte. Para a surpresa de ambos, um vulto passou correndo pelo túnel e se lançou com as garras e presas à mostra sobre o predador. O Lobo urrou de dor, e se sacudiu ferozmente, numa tentativa de se livrar de seu agressor. Um cheiro familiar invadiu as narinas de Pena de Gaio, e com surpresa, percebeu que era Poça de Folhas, sua mãe, que lutava ferozmente com o Lobo.
Ela foi arremessada para uma das extremidades da toca, suas patas brancas vermelhas com o sangue do Lobo. Mas, embora ferida, ela se levantou rapidamente e se adiantou em cravar as presas no pescoço do canino.
— Você não irá machucar meu filho! — Ela sibilou com raiva, enquanto despedaçava a orelha esquerda do Lobo.
Pena de Gaio permaneceu imóvel, o corpo paralisado pelo medo e pela surpresa de ver sua mãe lutando como todos os guerreiros do Clã dos Leões. Ela não parecia nem um pouco com uma curandeira, agora era uma verdadeira guerreira! E estava lutando para proteger a coisa que mais amava no mundo, seus filhotes.
O Lobo por fim recuou, deixando um rastro de sangue. Poça de Folhas por fim se sentou, sua respiração ofegante.
— Como fez isso? — Ele se aproximou dela, chocado. — Como conseguiu?
A bela gata soltou uma risadinha, e tocou o flanco do filho com a ponta da cauda. Seus olhos cor de âmbar transmitiam confiança, e ela tinha uma expressão segura.
— Não podia ficar parada, — Ela confessou. — Vendo aquela coisa atacar meu filhote!
Dito isso, ela se inclinou e deu uma lambida da testa de Pena de Gaio.
— Obrigado... — Ele disse, ainda surpreso. Não tinha energia suficientes para dar uma resposta atravessada como de costume, além do mais, agradecer era o mínimo que podia fazer.
Poça de Folhas piscou e alongou as patas fronteiras, com um suspiro cansado. Mas ela sabia que mais gatos precisavam de ajuda, o acampamento ainda estava sendo atacado.
— Fique aqui. — Ela miou, com um tom protetor. — Vou lá fora, tenho que tratar dos gatos feridos. Se estiverem bons o suficientes para andar, vou trazê-los até aqui. Posso contar com sua ajuda?
Pena de Gaio acenou com a cabeça, embora a ideia de ser deixado de lado não o agradasse. Ele se pôs a organizar algumas ervas, enquanto Poça de Folhas desapareceu pelas samambaias que formavam o túnel.

Gatos Guerreiros: O ReencontroOnde histórias criam vida. Descubra agora