Sempre Foi Você

Capítulo XXII

" Amar deve ser isto: deixar partir aqueles que amamos, porque, se os amamos, já os temos para sempre conosco. Amar talvez seja a melhor forma de ter alguém, e ter alguém talvez seja a pior forma de amar"
Alma de Pássaro.
Eu consegui ver a Nancy, depois de ameaçar algumas vezes o médico, e deixar claro que eu não tenho medo da polícia, não foi muito dificil.
Eu peguei em sua mão e fiquei por lá um bom tempo, eu estava me dividindo entre ela e a pressão para conseguir entra na UTI para ver meu irmão, ele está em coma e pode ter sequelas, isso é se ele acordar. Eu estou com medo, nunca vou admitir mas estou, ela se machucou muito e o cinto do meu irmão arrebentou, ele foi arremessado do carro. Clara tinha me dito que ela disse que não conseguiu freiar o carro, quando vi o filho da puta do tio do Afonso achei estranho, mas pensando agora nenhum dos parentes apareceu além dele, deviam odiá - lo por andar com um desafeto da família, foi nesse segundo que somei tudo.
Sai correndo do quarto e fui até a sala de espera, ele ainda estava lá sentado, ergui ele pelo colarinho e prendi ele na parede.
- está satisfeito agora?! Seu sobrinho está morrendo na UTI, ela não tem família, só arrume uma vantagem nessa briga ridícula! - rujo com vontade. Clara acaba me acalmando e os seguranças ameaçaram nos colocar pra fora.
- eu queria poder dizer algo, deve estar sendo bem mais dificil pra você do que pra mim - digo envergonhado.
- acho que você tem noção do que eu estou sentindo, para nossa sorte ela deve ter umas 20 vidas, não foi muito diferente de quando aconteceu o incêndio, eu me senti impotente.
- você e o Chico não tinham...
- não, estava na minha cara que eu gosto dele, mas ele não percebia, nem por um segundo deixou de amar a esposa.
- isso deve ser terrível.
- nem tanto, eu era feliz só por estar por perto - ela diz e eu olho Lorena enrolada no meu moletom dormindo nas cadeiras de espera.
- esse é o amor verdadeiro - digo e a abraço como ela me abraçou no dia em que conheci Nancy.
- ela tem sorte de ter você por perto, você ao menos quer ela bem.
- pensei que preferia o Caio - digo sorrindo.
- não estou vendo nenhum Caio aqui - ela diz.
Eu não conseguia sair do êxtase, bebia café o dia inteiro e enlouquecia os seguranças, Nancy acordou dois dias depois, ficou chorando por um bom tempo, mas a maioria dos machucados eram bem superficiais, o pior foi que ela acabou quebrando o pé que já tinha quebrado uma vez, isso deve ser frustrante.
- eu deixei o seu irmão em coma induzido, e você está aqui cuidando de mim.
- eu nem gostava dele mesmo - digo com um sorriso amargurado - você ainda é minha pequena, e não foi culpa sua.
- eu estava dirigindo.
- você não conseguiu parar porque cortaram os freios, vai ouvir isso depois do laudo pericial aparecer.
- foi um Vidal não foi?
- sem dúvidas, mas eles pagaram com juros sobre juros.
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"Não te demonstro mas não tento me conter, quando eu por as mãos em você não há porra nenhuma que você possa fazer.
Surfacing - Slipknot
Eu dormi tanto tempo que nem imagino, só me lembro de ter dormido tanto na época que a minha família foi dilacerada, mas eu tinha que ser forte, pela minha Lorena, agora só somos eu e ela, a dor era forte mesmo com morfina, eu tive que quebrar o meu pé novamente para colocar o osso no lugar, foi uma dor desgramada como dizia o meu pai, que saudade dele, será que tudo vai voltar?
Lorena correu logo que foi autorizada a entrar aqui, espero que com tudo que aconteceu e a queda dos Vidal eu possa ter um pouco de paz, acho que estou me sentindo muito especial para tentativa de homicídio, estou mais arrebentada que nunca quebrei algumas costelas, estou sendo carregada de cima a baixo pelo assanhado do Pedro, ele parece bem mas ele está com medo pelo irmão, é compreensível.
Não sei como Pedro aguentava eu e Lorena por todos os lados engarranchadas em seu pescoço.
No dia em que eu recebi alta Afonso começou a reagir, comemoramos em um restaurante de hotel e acabamos pernoitando lá mesmo, Lorena nunca tinha ficado em um hotel, então foi um carnaval pra ela.
Pedro contou pra mim o que havia acontecido, que talvez alguns fracassados venham atrás dele.
— você realmente não tem medo? — pergunto.
— alguns, todos eles incluem você.
— só toma cuidado, eu estou fazendo de tudo para não recair, se algo acontecer com você, eu vou pirar.
O medo diminuiu consideravelmente quando um deles apareceu aqui, eles não são muito inteligentes realmente, Pedro apareceu de tocaia e bateu com uma pá na cabeça dele, ele me reconheceu do strip tease naquele dia, não era todo dia que eu estava tão inspirada daquele jeito, eles não deveriam ver minhas fotos de infância, se não acabou o amor, eu não era a garota que nunca seria dispensada como a Lorena ou a minha irmã, até mesmo minha mãe.
— eu era tão criança quando o filho do Vidal morreu, mas é estranho como eu lembro de tudo nitidamente — digo olhando Lorena almoçar, ela come como o papai, em dois minutos, Clara também estava aqui tentando se fazer necessária todo o tempo, com coisa que ela é dispensavel.
— o mais irônico disso tudo, é que o seu pai amava aquele garoto como se fosse filho dele, ele chorou como chorou quando perdeu seus outros filhos naquele incêndio —era mais fácil culpar o papai do que se culpar — digo pensativa lembrando daquele dia.
Decidi ir ao psicólgo, na verdade eu fui por um tempo, há muito tempo atrás, mas nem de longe dou valor como agora ao que ele diz, eu estava cansada de me machucar, sai dos meus devaneios com a chegada brusca de Pedro, correndo e rindo.
— o meu irmão, ele voltou!