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Mais um dia! Aquela rotina chata outra vez, mas se tudo desse certo no verão eu convenceria meu pai a me levar para ver minhas amigas. Nós fomos separadas pela milésima vez. Por uma razão que nenhuma de nós sabe, eles dizem que é melhor para os estudos se ficarmos separadas. Mas a verdade é que sempre que estamos juntas acontecem coisas estranhas, que fogem da minha compreensão, mas eu ainda não entendo porque separar-nos é tão importante. Se União traz a força, por que não nos deixam juntas?
Arrrg!! Definitivamente não entendo meu pai, ele é um homem inteligente - e apesar de eu não gostar de falar -, ele é muito bonito também. Mas nunca se envolveu com mais ninguém depois que eu nasci, ele fala que é um assunto complicado, mas eu acho que tem muito mais envolvido.
Enfim, depois de colocar a mesma blusa vermelha e minha jaqueta de couro preferida, com minhas velhas calças jeans rasgadas, eu desço pra tomar o meu café.

- Bom dia dorminhoca - diz meu pai, com um sorriso torto no rosto, se aproximando e me dando um beijo na testa - Como passou a noite?

-Bem - Respondo, depois de pensar um pouco. A verdade é que fazia meses que eu não dormia de fato. Sempre tinha aqueles sonhos estranhos com monstros e um acampamento. Mas resolvi não importunar meu pai com esse assunto. - E você pai?

- Dormi como um anjo! - Disse ele, apesar de que a julgar por seu rosto, parecia que tinha visto um fantasma. Não perguntei, afinal todos temos nossos segredos. - Você quer panquecas Camy?

- Ahm. - ele me passou as panquecas perfeitamente empilhadas ao lado da calda e depois me deu bacon frito, mesmo sabendo que eu achava bacon um pouco demais pro café da manhã, então dispensei - Pai, depois da aula eu posso, finalmente, falar com minhas amigas? Por favor? - Disse tentando parecer o mais confiante e fofa pra que ele tivesse pena de ter me separado delas é finalmente me deixar falar com elas.

- Camylle - ele respondeu com calma -, já conversamos sobre esse assunto. Você não pode usar celulares, nem computadores.

Pois é, eu estava restrita de usar aparelhos eletrônicos por "segurança". Eu achava isso uma completa idiotice! Oque ele pensava? Que se eu usasse um celular um raio ia cair na minha cabeça, ou que eu ia ser atropelada por algum motorista louco?

- Mas pai, todos adolescentes tem. E não acontece absolutamente nada!!

- Camylle, você não é como eles. - ele disse já perdendo a calma.

- Eu sei pai eu tenho mais dificuldade que o normal pra me concentrar, por causa do tdah, mas eu sempre tiro boas notas na escola. Além que nós combinamos que se não acontecesse nada estranho durante três meses você ia me dar um celular e quem sabe me levar pra morar perto delas.

- Camylle, é muito perigoso. Suas amigas não sabem oque eu sei, isso é realmente muito perigoso. Não posso arriscar perder você.

- Mas pai você não vai me perder se eu fizer uma ligação!

- Querida, já tivemos essa conversa milhares de vezes - Eu tive que contar o choro, ficar longe delas era muito difícil, sei que as vezes causavamos alguns problemas, mas elas ainda eram minhas melhores amigas. - Você sabe da minha posição. Não vou permitir isso.

-Perdi a fome! - Disse empurando o prato de panquecas com calda e levantando. - Estou saindo pra escola. Posso ir, ou vai me proibir disso também?

- Camylle, você sabe que tem que ser assim ...

Depois disso eu parei de escutar, realmente eu não queria escutar nada que viesse dele. Eu sabia me cuidar, uma ligação não ia mudar nada. Então fui até o cabide perto da porta, tirei minha mochila vermelha com listras brancas dali, e saí pra escola. Só que dessa vez era diferente eu estava decidida à não voltar. Eu iria rumo à São Francisco, visitar Jessiy.

A Filha Da SabedoriaOnde histórias criam vida. Descubra agora