II

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Eu já tinha fugido antes, mas sempre planejava com antecedência pra me certificar que levava tudo que precisava. A última vez que eu fugi tinha 13 anos e fui parar na casa da Maria Laura, mas como sempre a mãe dela resolveu chamar meu pai pra me levar pra casa. Mas dessa vez era diferente, eu estava decidida à não voltar.
Pra não levantar suspeitas, fui pra escola, até por que tinha que conversar com Gregory - Meu único amigo em Londres, ele é um cara legal, só um pouco paranoico as vezes. Acho que é por que vive sozinho. Ele é da minha altura e tem a pele mais escura de tom chocolate, sempre que o vejo ele está com um boné estampado de um time de futebol, com calsas roxas e uma camisa Branca.
Eu tinha que falar com ele, porque era ele que sempre me ajudava mas minhas fugas. Quando estava a dois quarteirões da escola, Gregory me encontrou, e a julgar por sua expressão ela sabia que eu ia fugir, como se lê-se os meus pensamentos.

-Oi? - disse ele, com um sorriso traveço no rosto e me encarando com seus olhos castanho mel - Oque você está tramando?

-Ah... oi Greg - Eu realmente não tinha percebido que ele estava ali, mas parecia que ele já estava ali por alguns minutos me analisando -,não estou tramando nada. - dei uma leve risada - Por que eu faria isso? Só porque meu pai não me deixa ter uma vida social? Imagine,- balancei a mão com um sinal de deixa pra lá - minha vida é perfeita, como eu sempre sonhei.

- Aan... entendi - ele olhou pro chão e logo depois nos meus olhos. Mas não me senti constrangida, ele era um bom amigo - Você brigou com o seu pai outra vez?

- Sim. - Falei olhando pro chão.
Eu realmente não gostava de brigar com ele. Era como se eu partisse seu coração toda vez que brigávamos, mas acho que me proibir que falar com minhas amigas não era a saída - e eu sempre fui Boa em encontrar boas saídas -, ele não facilitava nada, sempre escondendo algo - Eu estava certa que ele escondia algo de mim, mas ainda não tinha conseguido fazer que ele me contasse.

- Okay. - Falou Greg, depois de um longo segundo. - Já entendi! Você quer fugir, denovo ! - ele falando assim, parecia um tipo de crime, mas essa era a primeira vez que isso acontecia. - Pois saiba que dessa vez eu não ajudarei.

- Greg! - Falei em tom de súplica - essa não vai ser a primeira vez. Por favor - juntei as mãos abaixo do queixo, fazendo beicinho e um olhar e súplica. - Eu não estou pedindo que venha comigo, só me ajude a encobrir, não consigo mais ficar aqui.

Greg gargalhou tão alto que eu podia jurar que nunca me ajudar.

- E você acha que eu vou perder toda diversão? - Falou ainda segurando-se pra não rir - Se você vai, é minha obrigação ir junto. Tenho que te ajudar.

Soltei um gritinho de felicidade.

- Obrigada Greg!! - disse com um sorriso do tamanho do mundo - Sabia que podia contar com você!

- Eu sei, eu sei, eu sou demais. - Falou batendo a mão no peito. - E então, pra onde vamos?

- Quero ir pra São Francisco.

- Oque? Você ficou louca? - senti meu rosto queimar. - Isso é do outro lado do Atlântico!

- Eu.. Eu sei, é só que.. - Eu gaguejava, sabia que isso era loucura, mas eu simplesmente TINHA que ir, meus instintos me diziam que eu tinha que chegar lá o mais rápido possível.

- Okay, é o seguinte - disse ele, percebendo o quanto era urgente - Eu tenho uma grana guardada em casa, então depois e aula passamos lá e pegamos suprimentos e dinheiro, daí passamos na casa da Maria e convencemos ela de ir também. E só então ultrapassamos o Atlântico.

- Nós vamos na casa da Maria também? - perguntei surpresa.

- Sim, - disse ele com um suspiro - essa viagem vai ser cheia de riscos então preciso falar com vocês duas sobre algo sério, e não posso deixar nenhuma para trás.

Disse ele, e se virou para entrar na sala de aula pois o sinal já tinha batido. Então fui para minha sala, meio que no automático sentei-me perdida em meus pensamentos.

Aquilo que Greg falou me deixara em dúvida. Oque será que seria tão importante? E por que ele queria passar na casa da Maria antes? Oque ele queria me falar? Tinha a ver com oque meu pai escondia de mim?

Eu não sabia a resposta a nenhuma dessas perguntas, mas eu iria descobrir. E tinha uma leve impressão de que essa viagem mudaria minha vida.

A Filha Da SabedoriaOnde histórias criam vida. Descubra agora