Girei a maçaneta e adentrei na casa. Lá dentro estava quentinho e delicioso como um lar deveria ser. Eu não passava muito tempo dentro da minha casa porque a solidão lá era maior do que na rua, mas o pouco que eu ficava, era sombria, vazia e fria como a noite gélida de Londres.
A casa era ainda mais bonita olhando de perto. As paredes da sala tinham um papel de parede florido e um sofá aconchegante cor de mostarda. Encontrei o caminho para o quarto de Carol com uma plaquinha na porta "Princesa descansando". Dei uma risada e senti meu estômago dando um nó. Parecia a primeira vez que eu era convidado para entrar no quarto dela. Só que eu não havia sido convidado.
O quarto tinha o mesmo cheiro de Carol e eu senti um arrepio muito forte. Fui andando e analisando cada canto daquele cômodo. Seu computador estava ligado e a página do Itunes estava aberta. Dei play na próxima música da playlist e era aquela que ela gostava da dançar se olhando no espelho. Seu mural de fotos estava cheio de cliques de momentos como aniversários, noites de pijama com as amigas e festas de família. Deitei na sua cama e comecei a imaginar nós dois juntos naquelas cobertas. Parecia um sonho e eu não queria acordar. Enfiei a mão no bolso da jaqueta de couro e encontrei meu cantil com um pouco do Borboun do meu pai. Deveria comemorar esse momento único. Acendi um cigarro e fui até a janela para analisar a situação de outro ponto de vista. Foi quando eu me vi. Estava em pé usando uma jaqueta de couro observando a casa. Eu parecia branco quase morto e estava debaixo de uma garoa forte, de maneira lamentável. Cheguei mais perto para conseguir enxergar melhor. Aquilo era uma miragem?
Me aproximei da janela e vi meus lábios se mexendo ao pronunciar as palavras: "Você está sozinho, sozinho, sozinho, sozinho, Sr. Sozinho".
Tomei um susto e pulei pra trás. Tropecei no tapete e o cigarro caiu das minhas mãos juntamente com o cantil. As chamas começaram no tapete e logo se expandiram pelas cortinas. Eu não conseguia entender muito bem o que estava acontecendo. Mas o fogo estava aquecendo meu corpo e a minha alma e eu não me sentia mais sozinho. A música continuava tocando e as fotos começaram a cair do mural. Vários sorrisos se despedaçavam e caíam ao meu redor. Eu não estava mais sozinho. Eu estava em casa.
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Sr. sozinho (Never had no one ever)
Storie breviConto baseado na música da banda The Smiths - Never had no one ever.