Esquisitos do mundo, encontrai-vos!

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Cabelos castanhos, pele clara, grande boca rosada e mãos pequenas. Essa foi a primeira pessoa que fotografei aqui, na cafeteria. Era um dia chuvoso de verão e estávamos quase fechando quando essa garota, molhada dos joelhos para baixo, entrou esbaforida, fazendo o sininho da porta bater várias vezes.

- Por favor, um café bem forte, coado. - Ela se dirigiu a mim depois de deixar o guarda-chuva próximo à porta. Seus olhos eram baixos, como se a gravidade exercesse mais força sobre eles, e sua voz estava arrastada, dando a impressão de que havia acabado de correr em uma maratona e sentado em um sofá bem confortável em seguida. 

- Sem açúcar! - Complementou, já sentada em um dos bancos próximos à janela.

Em uma semana trabalhando na cafeteria, eu havia percebido que, assim como outros lugares, as pessoas que optavam por sentar em lugares específicos passavam por momentos semelhantes em sua vida ou em seu dia. Até aquele momento, eu pensava que os banquinhos perto da janela ou da vitrine eram para as pessoas solitárias que queriam pensar. Mas essa moça de moletom verde me mostrou mais uma possibilidade: pessoas que não queriam ser atrapalhadas. 

Assim que lhe entreguei o café, perguntei se queria adoçante, mas ela negou com a cabeça e segurou o copo quente com as duas mãos. Então, ela me fitou por um tempo desconfortante, se encolheu no banquinho e colocou o copo abaixo do nariz. Devo admitir que no café vendido por mim existe um toque especial, mas ela não sabe, pois sequer o provou.

Voltei para o balcão e passei a observá-la. A fumacinha que saída do copo era simplesmente inalada e, a cada respiração, a fisionomia da garota tornava-se mais serena e com pouco tempo já tinha relaxado todo o corpo e fechado os olhos, concentrando-se apenas no cheiro do café. Ela ficou algum tempo naquilo e a mania me fascinou, então peguei meu celular no bolso e a fotografei enquanto ainda estava de olhos fechados. Pouco depois, o café esfriou, ela deixou o copo cheio no balcão junto ao dinheiro para pagá-lo, desejou boa noite a mim e aos demais funcionários e, com um sorriso no rosto, se foi.

Naquela noite, meus colegas de trabalho - cujos nomes eu não havia decorado ainda - julgaram o comportamento da garota, por ter desperdiçado o café. Mas eu, bem, eu penso ter entendido os motivos dela. Sabe quando você gosta muito de uma coisa, mas parece que só você gosta e então você se fecha no seu mundo para apreciá-la e assim você se sente bem, mesmo que os outros achem estranho? Acredito que seja isso.

Eu nunca mais vi a menina do moletom verde e, sinceramente, nem quero ou preciso. Naquele dia ela me ensinou algo que eu tenho comigo até hoje e que desenvolvi bem com o passar do tempo. Existem pessoas diferentes de maneiras inimagináveis e como o ditado diz "Cada doido com sua mania". Seja isso um ditado ou não, pouco importa diante da verdade que traz consigo. Todos nós temos uma loucura interior, um Quixote inquieto por liberdade, e basta um lugar propício para que ela seja libertada. Não guarde o louco que há em você em uma sala cheia de livros, liberte-o e verás gigantes sendo derrotados. 

Você pode começar por aqui, na cafeteria.

Histórias de uma CafeteriaOnde histórias criam vida. Descubra agora