MEIO-DIA

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O Sol iniciava os seus trabalhos nas areias do deserto do que já foi a esplendorosa Babilônia, um lugar que as areias do deserto enterraram para o bem daqueles que ainda singram pelos caminhos existentes neste mundo. Apolônio terminava de encaixar uma pedra na parede e guardava seu precioso achado em sua bolsa no momento em que um trabalhador entrou às pressas no templo sagrado de Ishtar, gritando com grande desespero e fazendo com que o explorador se apressasse em subir ao acampamento. Ao sair das escavações do templo, Apolônio viu que todos os homens pararam de trabalhar e que estavam ajoelhados, com as cabeças reclinadas até o chão.

- Malki-Tzedek! Malki-Tzedek! Alguém apressava-se a explicar o que acontecia.

Apolônio olhou ao redor e percebeu que o vento tinha parado de soprar. Todos sabiam quem era Malki-Tzedek, e o arqueólogo ia mandar que seus homens voltassem ao trabalho, mas logo avistou um grande número de soldados montados em camelos se aproximando e por onde andavam não deixavam rastro nem se levantava a poeira. Um dos soldados adiantou-se ao grupo fazendo sinal para que todos parassem, e tocou seu shofar emitindo um som tão agudo que quase ensurdecia aos que ouviam, enquanto Apolônio olhava seus homens ainda de joelhos a fazerem orações, mas ele continuava ali, de pé, como se estivesse hipnotizado pelo que via.

Os soldados dividiram-se em duas fileiras e pelo centro deles vislumbrava-se a figura de um homem de grande estatura, tão alto que parecia um gigante, e que vinha montado num enorme camelo. Ele trajava finas vestes em branco e dourado, e o seu rosto era encoberto por um véu feito de correntes de ouro que ofuscavam a quem o via ao refletirem a luz do Sol. O grande homem seguia em direção a Apolônio desembaiando sua espada, e nisto o arqueólogo teve ímpeto de proteger seu achado segurando-o com maior firmeza, mas não teve tempo de fazer mais do que isto. Parando diante dele como que procurando olhar-lhe profundamente nos olhos, aquele gigante desferiu um ferino golpe de espada em Apolônio que foi ao chão de joelhos e tardiamente entendeu que devia entregar o que ele havia encontrado, estendendo seus braços para que o gigante tomasse o objeto para si e o levasse consigo. E assim foi feito.

Quando o gigante e todos os seus soldados partiram, o vento voltou a soprar de modo tão forte que enorme tempestade de areia assolou o acampamento onde eram feitas as escavações. Muitos homens correram desesperados para suas casas, outros continuavam a fazer orações e a agradecer aos céus por terem sobrevivido à passagem do Senhor do Mundo, enquanto Arthur, fiel amigo de Apolônio o encontrava ferido e ia ao seu socorro.

- Ajudem aqui! Ajudem aqui! Ele está ferido!

Alguns homens se aproximaram com uma maca e levaram Apolônio para a tenda. Ele não parava de sangrar e não iria sobreviver, mas antes pediu caneta e papel onde rascunhou alguns dizeres em código e pediu a Arthur que, por favor, entregasse aquele bilhete à sua filha, Eva Cristina, no Brasil. Arthur consentiu com a cabeça que sim, o faria, ao que o velho arqueólogo apertou-lhe a mão e num sorriso sofrível, mas feliz, falou-lhe com um brilho lacrimejante nos olhos: Eu o vi! Eu o vi!

O Pomo de OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora