III - E SE...

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Sete anos e mais se passaram.

O menino que outrora aprendia hermetismo na praça da cidade, havia se tornado um notável mestre da Arte Real, e levava uma vida de bastante sucesso e prestígio profissional, atuando agora como executivo do mercado financeiro no Bank of America's Corporate Center, na cidade de Charlotte, na Carolina do Norte, Estados Unidos. A dois meses distante de sua amada Jasmine, que por conta de uma promoção no trabalho foi morar em Manhattan, Henrique já não agüentava mais tanta saudade de sua namorada, então parou de assistir o vídeo no celular e telefonou para ela.

- Amor?...

- Oi, meu anjo! Eu já estava estranhando que você ainda não tinha ligado, hoje.

- Está mal acostumada, né? Eu até tinha pensado em não ligar pra você agora, mas não tem jeito: a saudade aperta e eu acabo ligando. Como você está, minha princesa? Teve um bom dia?

- Ah, o meu dia foi ótimo! Radiante!

- Radiante? E o que aconteceu de tão bom assim?

- Hum... Não sei se conto agora...

- Ei, nem vem fazer mistério. Diz logo o que é, amor...

- (...) Sabe aquele projeto do cartão em que a pessoa ganha bônus por material reciclável que ela recolhe em casa?

- Sim, você já me falou bastante a respeito.

- Pois ele foi muito bem recebido pela diretoria e agora eu vou coordenar uma equipe para desenvolvê-lo!

- Que show! Parabéns! Milhões de parabéns, mesmo, minha princesa! Mas, quer saber de uma coisa? Eu já sabia!

- Como assim?

- Claro que eu sabia que eles iriam gostar da ideia, afinal, eu tenho a namorada mais genial que existe!

- Ah, para, seu bobo.

- Mas é verdade. Agora... Olha... Como é que está a tua disponibilidade nos próximos dias? Você poderá vir passar uma semana comigo, aqui?

- Meu anjo... Você sabe que é tudo que eu mais quero. Mas agora tendo que coordenar o desenvolvimento do cartão... Fica tão difícil ir aí.

- Hum... Jasmine... Começo a não gostar deste cartão.

- Henrique, não fala assim. Já pensou se fosse você?

- Está bem... Está bem... Se fosse eu, se fosse aquilo, se fosse isso, se, se...

- Você não vai ficar chateado comigo, vai?

- Ok... Então imagina comigo. E se nos encontrássemos amanhã, e eu te levasse flores, e te convidasse pra sair?...

Jasmine suspirou um pouco, e respondeu com outra pergunta.

- E se terminássemos a noite num doce beijo, após uma maravilhosa noite de amor, e nos apaixonássemos cada vez mais após muitas outras noites maravilhosas de amor que viriam?...

- E se viajássemos juntos por aí, zoando e curtindo por todos os lugares, vivendo inúmeras aventuras, fazendo milhares de amigos, e colecionando histórias e mais histórias pra contar?... E se eu olhasse profundamente em teus olhos e pedisse a tua mão, e formássemos um lar com direito a filhos, gatos, cachorros, papagaios, um lindo jardim, e até sogras para nos visitar... Jasmine riu-se disto, mas emendou:

- E se a felicidade entrasse de tal forma em nossas vidas que não houvesse problema ou dificuldade capaz de nos entristecer ou de nos abalar?...

- E se todos os dias eu olhasse pra você e descobrisse sempre um novo motivo para eu me apaixonar?...

Os dois suspiraram por um momento, e parecia que Jasmine parava um pouco a vislumbrar tudo aquilo que estavam dizendo um para o outro, e que o tempo e a distância faziam parecer tão intangíveis naquele momento, por isto sentiu-se triste, e perguntou melancólica:

- E se o destino não nos reservasse nada disso, ou se amanhã eu nem estivesse aqui para te olhar?... E a isto Henrique ouviu com espanto, mas logo entendeu os sentimentos de sua amada e respondeu-lhe ternamente:

- Apenas por eu ter te conhecido e ter vislumbrado tudo isso já teria valido a pena viver, já teria valido a pena sonhar...

- Henrique... Você me fez chorar agora.

- Eu também fiquei com os olhos rasos d'água, aqui, minha princesa. Mas... Escuta: e se eu te dissesse que amanhã eu estou indo para Manhattan para acabar de vez com esta saudade e passar uma semana aí com você?

- Você está falando sério?...

- Aham. Já comprei minhas passagens. Saio daqui amanhã às 04:00h; Cedinho eu estarei aí.

- Seu malvado! Fazendo-me chorar. Por que não disse logo que você vinha?

- Eu não ia dizer. Era pra ser surpresa. E agora eu vou ter de desligar, pois vou dormir um pouquinho antes de pegar o vôo. Vejo-te amanhã.

- Eu estarei esperando você, amor.

- Eu sei. Eu vou voando! Tenha uma linda noite, minha paixão. Durma com os anjinhos. Mas só por hoje, porque amanhã você dorme comigo.

- Bobo!

- Um bobo que te ama.

- Eu também te amo.

- É, disso eu também sei, mas eu te amo mais - e nem adianta você discutir comigo, que você perde.

- Está bem, não vou discutir, mas amanhã eu te mostro quem ama mais, viu.

- Veremos.

- Beijo pra você, amor.

- Beijos e mais beijos pra você, minha princesa. Até

logo.

- Atézinho, meu anjo...

O Pomo de OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora