5 dias antes...
Segunda-feira
O dia de escola foi esquisito sem a Emily e com aquele sentimento de que algo estava mal. Realmente, tudo estava mal. Perdi a minha melhor amiga e, ao mesmo tempo, a confiança que tinha pelo meu pai. Passei a maior parte do tempo com o Dave, que também estava em baixo em relação à Emily.
Teria sido aquela simples refeição no McDonalds a última vez que a vira? E foi aí que eu me lembrei: nesse almoço ela estava muito estranha, não falava e quase não comia. E no dia seguinte desapareceu. Talvez alguém a andasse a ameaçar e ela estivesse com medo. E depois essa pessoa raptou-a ou ainda pior. E se calhar essa pessoa é o Valetes...?
-Ela vai voltar. -disse o Justin, quando viu que eu estava quase a chorar.
-Como é que tens tanta a certeza, hã? Ela desapareceu à três dias e ainda não há sinal dela. Peço desculpa dizer-te, mas ela não vai voltar.
Aí comecei mesmo a chorar e deitei a cabeça no colo dele, deixando-lhe uma mancha nas calças que parecia outra coisa...
...
Fui a pé para casa.
Quando cheguei, parecia demasiado silenciosa. Normalmente costuma ouvir-se o aspirador ou a máquina de lavar loiça. Larguei todas as minhas coisas ao pé do sofá.
-Mãe? -disse, rompendo o silêncio.- Mãe?
Aos poucos comecei a ouvir um choro vindo do andar de cima. O meu coração começou a bater mais depressa com o nervosismo.
Dirigi-me às escadas e comecei a subi-las. A cada degrau que eu dava, o som do choro era mais acentuado.
Quando já estava no topo das escadas reconheci o choro como sendo da minha mãe.
-Mãe?
Segui o som até ao quarto dos meus pais. Abri a porta muito devagar, deparando-me com um cenário devastador, digno de um filme dramático.
As persianas estavam abertas, mas os cortinados fechados, projetando pequenas e fracas faixas de luz no corpo da minha mãe sentada na cama, rodeada de lenços amarrotados e com uma garrafa de vinho vazia a manchar os lençóis. No seu colo estava o meu computador que passava no ecrã o vídeo em que o meu pai está com a ruiva.
Os soluços da minha mãe são altos e lágrimas caem compulsivamente dos seus olhos em cima do computador.
Quando levantou os olhos e me viu, fez algo que eu achei impossível ela fazer. Pôs o computador no chão, levantou-se, caminhou até mim e, sem dizer nada, fechou-me a porta na cara.
...
Passei o resto do serão fechada no meu quarto e não ouvi o meu pai a chegar.
Os meus sentimentos eram uma mistura de nervosismo e pânico. A minha vida estava a desabar de uma maneira incrível (no mau sentido, claro), para além de estar cheia de saudades do Justin. Mas a minha ansiedade de estar ou falar com ele era demasiada para esperar pelo encontro de amanhã, por isso agarrei no telemóvel e liguei ao Justin.
-Estou? -o seu tom de voz parecia nervoso.
-Sim, Justin. -fiz uma pausa, tentando perceber de onde vinha o nervosismo.- Estás bem?
-Claro... -continuava nervoso.- Porque é que não haveria de estar?
-O quê é que se passa, Justin?
-Car... ouve, não posso falar agora. -fez outra pausa- Mas o encontro continua em pé, certo?
-Hum, claro.
-Vamos depois das aulas, ok?
-Sim... Mas amanhã temos temos tarde livre.
-Pois.
-Pois?
-O encontro vai ser diferente. Vamos a um sítio especial. -sorri, esquecendo-me do nervosismo na sua voz.
-Ah, e outra coisa! -continuou ele- Traz fato-de-banho.
...
A chamada já tinha acabado há algum tempo e eu estava a tentar ler o "Cidades de Papel" mas a curiosidade em relação ao fato-de-banho era demasiada para me concentrar e cada vez que pensava nisso começava a sorrir.
Pelo menos tinha mais alguma coisa em do que nos meus pais.
Com o passar das páginas, os meus olhos começaram a ficar cada vez mais pesados e desisti da leitura para ir dormir. Abri a minha gaveta na mesa-de-cabeceira, porque era lá que eu guardava o meu marcador de livros.
Quando a abri encontrei-a vazia. Fui com o braço até ao fundo da gaveta e finalmente senti o marcador. Tirei-o para fora e reparei numa coisa que gelou todo o meu corpo.
O que eu agarrei não foi o meu marcador de livros.
Era uma carta de baralho.
Um Valetes.
Dizia:
Há 4 Valetes num baralho. Papás zangados. 2 por vir.
Olhei em volta, com o meu coração a correr mais depressa do que o Bolt, enquanto tentava absorver o que tinha apercebido.
O Valetes esteve na minha casa.
No meu quarto.
***
Aviso: Para a semana vou publicar dois capítulos seguidos. Para compensar, para a outra semana vou publicar apenas um NMDV.
Ok?
Ok.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Death Call #Wattys2016
Misterio / SuspensoCarrie Tucker sempre teve uma vida perfeita. Um pai e uma mãe unidos, um namorado giro e carinhoso. Tudo o que uma rapariga de 15 anos deseja. Mas tudo muda quando Carrie começa a receber mensagens e chamadas ameaçadoras de alguém que se esconde sob...