Experiências - II

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*Anne*

"- Já lavei os morangos. Eles são delicados, então se você apertar vai esmagá-los. Ah e eles soltam um líquido vermelho, isso é normal. Essa parte verde é a folha e não é comestível, então quando for morder cuidado pra não pegar ela.

Com isso seu olhar foi para a pequena vasilha. Está completamente concentrado nela. Ele é fácil de desviar a atenção, de certa forma é fofo, como uma criança.

- Gostou do cheiro?

- Sim. - diz sem tirar os olhos dos morangos.

E então, pro meu completo desgosto, ele lambe o lábio inferior (como se já pudesse sentir o sabor e achando uma delícia) me lembrando que ele não tem absolutamente nada de infantil.

- B-Bom, vou deixá-los em cima da mesa, quando terminar empurre a vasilha para a porta, ok? O técnico virá recolher. - fujo abalada pela visão.

- E aqui estão algumas fotos de flores do campo. - giro na direção dele e levanto as folhas, mas evito olhá-lo. Ele fica quieto enquanto passo lentamente as imagens.

- Agora só algumas perguntas e vou deixá-lo com seu almoço. Os técnicos continuam te incomodando?

- ... Não.

- Mesmo? - olho incisivamente pra ele. Não vejo nenhuma marca em seu corpo, mas eles curam rápido e o fato de não ver não significa que não haja algum machucado.

- Eles têm ficado longe. Provocam um pouco mas só.

- Hum.

- Por que?

- Como assim 'por que'? Eu te prometi que seria deixado em paz, por pelo menos três dias. Além do mais dei uma ordem direta a eles, preciso saber se me escutaram.

Ele definitivamente não é do tipo falador. Eu já deveria saber isso depois de três meses de silêncio, ainda assim tinha esperanças de ter uma relação mais leve e descontraída com ele, assim como com a 37 e o 78. Talvez que ele confiasse um pouco mais em mim... Com um suspiro deixo o assunto de lado.

- Que bom que está conseguindo se recuperar em paz. Espero que aproveite esses dias tranquilos. - 'porque não posso te dar mais do que isso'. Não disse, mas ficou claro que esses dias tem hora pra acabar. Ele fica tenso, entendendo a mensagem.

Recebo um aceno como resposta. A culpa arde dentro de mim. Tenho que pensar num jeito de mudar isso. De fazer algo por ele. Por todos eles."

Biiiiiiii

- Caramba! - Um motorista passa quase raspando em mim e me xinga. Piso no freio com tudo e o carro dá um solavanco. - Que susto... - Vejo a curva da minha rua e me toco o quanto andei sem prestar atenção. Que perigo, graças a Deus nada aconteceu!

- É só pensar no 177 que esqueço do mundo. Isso está começando a me irritar.

Me ajeito melhor e volto a dirigir. Estaciono com cuidado debaixo da árvore do outro lado da rua, de frente pra minha casa. Pego minha bolsa, as chaves, olho no retrovisor um minuto pra ver se é seguro e então saio. Atravesso a rua depois de olhar pros dois lados e corro pra porta. Entro e tranco com alívio.

- Ufa... - Finalmente me jogo no meu sofá maravilha com um sorriso satisfeito. Olho pros lados reparando nas minhas coisas. Minha casa é bem pequena, térrea e alugada. Uma cozinha com lavanderia, um banheiro, dois quartos e uma sala que tentei transformar em dois ambientes. Não deu muito certo. Ainda assim, é muito confortável. Tive certeza disso quando comprei os móveis, como meu grande e extremamente almofadado sofá. Outras coisas já vieram com a casa, como as camas dos quartos e as cadeiras com a mesa no canto da sala. Como eram muito duras e sem graça resolvi comprar aquelas almofadas quadradas super fofas e amarrar nas cadeiras. Já no quarto resolvi pedir pro Rick colocar as duas camas de solteiro lado a lado e amarrar de forma a não abrir e me engolir a qualquer movimento meu. Com isso pude comprar um colchão de casal e um monte de travesseiros, lençóis e cobertores macios e fofos. Apenas na cozinha eu não tenho almofadas, porque no resto da casa...

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