*Anne*
"- Já lavei os morangos. Eles são delicados, então se você apertar vai esmagá-los. Ah e eles soltam um líquido vermelho, isso é normal. Essa parte verde é a folha e não é comestível, então quando for morder cuidado pra não pegar ela.
Com isso seu olhar foi para a pequena vasilha. Está completamente concentrado nela. Ele é fácil de desviar a atenção, de certa forma é fofo, como uma criança.
- Gostou do cheiro?
- Sim. - diz sem tirar os olhos dos morangos.
E então, pro meu completo desgosto, ele lambe o lábio inferior (como se já pudesse sentir o sabor e achando uma delícia) me lembrando que ele não tem absolutamente nada de infantil.
- B-Bom, vou deixá-los em cima da mesa, quando terminar empurre a vasilha para a porta, ok? O técnico virá recolher. - fujo abalada pela visão.
- E aqui estão algumas fotos de flores do campo. - giro na direção dele e levanto as folhas, mas evito olhá-lo. Ele fica quieto enquanto passo lentamente as imagens.
- Agora só algumas perguntas e vou deixá-lo com seu almoço. Os técnicos continuam te incomodando?
- ... Não.
- Mesmo? - olho incisivamente pra ele. Não vejo nenhuma marca em seu corpo, mas eles curam rápido e o fato de não ver não significa que não haja algum machucado.
- Eles têm ficado longe. Provocam um pouco mas só.
- Hum.
- Por que?
- Como assim 'por que'? Eu te prometi que seria deixado em paz, por pelo menos três dias. Além do mais dei uma ordem direta a eles, preciso saber se me escutaram.
Ele definitivamente não é do tipo falador. Eu já deveria saber isso depois de três meses de silêncio, ainda assim tinha esperanças de ter uma relação mais leve e descontraída com ele, assim como com a 37 e o 78. Talvez que ele confiasse um pouco mais em mim... Com um suspiro deixo o assunto de lado.
- Que bom que está conseguindo se recuperar em paz. Espero que aproveite esses dias tranquilos. - 'porque não posso te dar mais do que isso'. Não disse, mas ficou claro que esses dias tem hora pra acabar. Ele fica tenso, entendendo a mensagem.
Recebo um aceno como resposta. A culpa arde dentro de mim. Tenho que pensar num jeito de mudar isso. De fazer algo por ele. Por todos eles."
Biiiiiiii
- Caramba! - Um motorista passa quase raspando em mim e me xinga. Piso no freio com tudo e o carro dá um solavanco. - Que susto... - Vejo a curva da minha rua e me toco o quanto andei sem prestar atenção. Que perigo, graças a Deus nada aconteceu!
- É só pensar no 177 que esqueço do mundo. Isso está começando a me irritar.
Me ajeito melhor e volto a dirigir. Estaciono com cuidado debaixo da árvore do outro lado da rua, de frente pra minha casa. Pego minha bolsa, as chaves, olho no retrovisor um minuto pra ver se é seguro e então saio. Atravesso a rua depois de olhar pros dois lados e corro pra porta. Entro e tranco com alívio.
- Ufa... - Finalmente me jogo no meu sofá maravilha com um sorriso satisfeito. Olho pros lados reparando nas minhas coisas. Minha casa é bem pequena, térrea e alugada. Uma cozinha com lavanderia, um banheiro, dois quartos e uma sala que tentei transformar em dois ambientes. Não deu muito certo. Ainda assim, é muito confortável. Tive certeza disso quando comprei os móveis, como meu grande e extremamente almofadado sofá. Outras coisas já vieram com a casa, como as camas dos quartos e as cadeiras com a mesa no canto da sala. Como eram muito duras e sem graça resolvi comprar aquelas almofadas quadradas super fofas e amarrar nas cadeiras. Já no quarto resolvi pedir pro Rick colocar as duas camas de solteiro lado a lado e amarrar de forma a não abrir e me engolir a qualquer movimento meu. Com isso pude comprar um colchão de casal e um monte de travesseiros, lençóis e cobertores macios e fofos. Apenas na cozinha eu não tenho almofadas, porque no resto da casa...
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The Love
FanfictionUm Nova Espécie antes e depois do cativeiro. Um considerado uma falha. Um amor conquistado aos poucos dentro das paredes das Indústrias Mercille. Um muito improvável... "Eles me chamam de Louco, ela me chama de Amor..." Essa história se passa no mun...