A linha que separa o amor do ódio é tão fina quanto um corte de diamante. E tão precisa também.
❤
Eu segurava minha respiração como se o barulho dela fosse alto demais para coexistir com a minha concentração. E era. Até as batidas do meu coração me atrapalhavam, às vezes ficando altas demais, pesadas demais em meus ouvidos, quase as sentindo nas pontas dos meus dedos.
Só mais um, pensei, tentando bloquear todo o nervosismo que vinha com o resto do mundo lá fora. Tantos jeitos para aquilo dar errado, tantas falhas que poderia cometer e acabar estragando minha vida para sempre.
Mas precisava me esquecer disso. Nenhum passo que tive que dar para chegar ali importava agora. Não é assim que se ganha a guerra.
Não. É colocando todas as suas forças e seus esforços na batalha em que está, é deixando as anteriores para trás, nem considerando as do futuro. O momento de planejar já tinha passado, e eu só precisava bloquear todos os barulhos da festa, dos meus pensamentos e do meu nervosismo para ouvir aquele. Último. Toque.
Tão pequeno quanto um alfinete caindo no chão, eu o escutei. Junto dele, talvez tão breve quanto, veio a pequena tremida na água da minha taça.
Eu a tirei de cima na hora, respirando fundo pela primeira vez em muito tempo, e a coloquei no chão, em qualquer lugar. Depois de me endireitar outra vez, segurei as alavancas com as duas mãos, sentindo só um toque do gelado de seu metal através das minhas luvas. E então, usando mais força do que era necessário, a girei.
Era como imaginava. O mesmo pedestal que tinham usado na festa estava agora no meio do cofre, a pequena e poderosa caixa de vidro em volta do anel, acomodado confortavelmente em uma almofada rígida azul escura.
Tive que parar para recuperar meu fôlego, pensando talvez pela milésima vez que aquele era, de longe, o anel mais maravilhoso que já tinha visto na vida. Por um segundo, me questionei se ao menos merecia roubá-lo.
Bom, eu já estava ali, certo? Não era minha culpa se os guardas eram tão fáceis de derrubar, se o sistema de câmeras era tão obsoleto e que eu tinha nascido com a habilidade invejável de conseguir decifrar cofres até mesmo em meio a uma festa.
Eles estavam praticamente pedindo para serem roubados!
Olhei no relógio. Mais cinco minutos, se tivesse sorte.
No instante em que endireitei o rosto para olhar novamente o cofre, senti o formato de um silenciador no meu pescoço.
A raiva me encobriu como uma onda, me deixando imóvel.
Agora, podia ouvir a respiração de quem segurava a arma. Agora, que já estava em sua mira, eu conseguia percebê-lo ali.
Parabéns, Sienna, pensei. Tarde demais.
Ele chegou mais perto de mim, deixando sua respiração perto do meu ouvido. Não atrevi a me mexer, nem mesmo quando senti sua outra mão tocando meu ombro desnudo pelo vestido. Ele deixou seus dedos escorregarem de leve, um traço de arrepio chegando até meu pulso, e então senti seus dedos em minha coxa, à mostra somente pela fenda na saia. Ele a levantou de leve, devagar, enquanto seu nariz mal encostava na minha nuca. Quando encontrou a arma que eu tinha escondida ali, a tirou com cuidado e a jogou no chão.
Sem conseguir impedir minha própria reação, bufei baixo e irritado.
Pude jurar ouvi-lo rir atrás de mim, sua respiração arrepiando minha pele.
A mesma mão que tinha jogado a arma longe encontrou minha barriga, e ele levou o tempo que precisava para passar por ela com calma, chegar ao outro lado da minha cintura e encontrar, escondida logo no começo da frente única do vestido, uma pequena e afiada faca.
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Como Conquistar um Vigarista [Completo]
ContoNem todo mundo nasceu para ser herói. Mesmo depois de entrar para a agência de inteligência mais famosa do mundo, a única certeza de Sienna era que ela nunca seria um dos mocinhos. Era só uma questão de tempo até que ela a abandonasse e entrasse de...