03. Pain

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Sabe quando você está lendo um livro literário — seja escrito por alguém amador ou não — e chega em um momento no qual o personagem sente dor? O momento no qual há a descrição integra de sofrer?

A narração desse tipo de história tenta fazer você, leitor, imaginar as sensações de tristeza, desilusão, mágoa, ressentimento. O personagem desafortunado da vez reflete intimamente — sem permissão alguma — em seu interior tal tristeza e provoca lágrimas. Lágrimas e mais lágrimas associadas a uma vontade incrível de estar morto.

Harry é um amante de literatura, principalmente romances. Masoquista nato quando se trata de amores poéticos e finais tão inundáveis quanto o Titanic. Nunca vi ninguém debruçar-se tanto em soluços ao ler o clássico shakespeariano Romeu e Julieta.

O homem já viveu imerso as páginas tantas personalidades, tantos conflitos e tantas aflições. Contudo, nenhuma delas são comparáveis a angústia sentida agora. Talvez seja castigo por ter se maravilhado com o desgosto de tantos outros, talvez não seja.

Não quer começar a encher a cabeça com tantos "talvez" já que supor possibilidades não vai contribuir em absolutamente nada. A realidade é que tudo está confuso. Uma desordem de interrogações cambaleiam na mente agitada de Styles.

Por quê?

Por quê Louis o traiu?

Essa é uma questão na qual nem mesmo o inimaginável pensaria propiciar a indagar. Qual é?! Quem um dia pensaria em Louis William Tomlinson traindo a pessoa na qual ele sempre demonstrou ser o amor de sua vida?

Confuso, não?! É... Apresento a vocês a cruel-real fábula da terra de gente grande. Onde conto de fadas só existe nas produções hollywoodianas e nas legendas falsas acompanhadas por fotos. Onde não importa quem você seja, a vida é calculista quando se trata de pregar peças e dilacerar corações.

Agora, Harry vive em um planeta dolorido, transparente como o gelo. É como aprender tudo de uma vez, numa fração de segundos, a antiutopia da realidade. As fotografias e lembranças tornam-se uma verdade hipócrita lentamente. Styles desmorona a cada instantes e gradativamente tudo transfigura-se desbotado, infeliz.

Definitivamente, nesta hora, Harry sabe.

Sabe que não há nada escondido; e que se ainda houvesse, ele veria. O trauma o faria ver. O choque de veracidade também.

Tudo o faz lembrar daquela noite. Por mais que o subconsciente queira fugir, os flashs de tal descoberta sempre fazem-se presentes na sua mente.



"O que?" É apenas o que Harry consegue dizer depois de um vasto e inflamável silêncio.

Os soluços de Louis são engasgados e a respiração descompassada impede o pronunciamento do mesmo. Hiperventilar é a única opção para tentar controlar os nervos à flor da pele.

"E-eu traí você, Harry. Eu só... Eu venho traindo você há alguns meses."

O olhar de Louis busca o do outro e ele encontra. O verde está arregalado e com brilho exaustivo por lágrimas.

"Eu sinto muito. Eu sinto muito..." E repara no restante das feições angelicais do seu Harry.

Os lábios carnudos comprimidos em uma linha tênue formam — junto ao maxilar trincado com uma barba rala recém-feita — a imagem de descrição nítida do que é decepção.

"Eu não queria te machucar, Harry. Eu sinto muito. Sinto muito..."

Observa, por fim, o nariz. O belo nariz de Harry Styles no qual ele sempre adorou dar singelos beijos e dizer 'Eu amo seu narizinho mais que você, Hazz'.

twenty three | l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora