01| Juliana

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Sabe aquele momento que você está com uma raiva tão grande e tudo o que deseja é socar alguém?! Era assim que eu estava e foi isso que eu fiz quando Caio se aproximou.

— Ai, isso dói. — reclamei, balançando minha mão, enquanto Caio me encarava massageando seu maxilar.

Eu queria ter acertado o nariz, mas desisti no último instante, eu só queria bater nele, não quebrar alguma parte do seu corpo. Se bem que pelo jeito que eu o soquei, seria mais fácil quebrar a minha mão.

— Eu não esperava por isso. — resmungou, fazendo uma careta.

Que reação ele esperava que eu tivesse? Que eu corresse para os seus braços e dissesse como eu senti sua falta? Que eu simplesmente o beijasse e fingisse que tudo estava como antes, que ele nunca ficou fora por quase dois anos?

— O que você está fazendo aqui? — perguntei irritada.

— Eu vim te buscar, a Isabela disse que você iria sozinha, então vim te oferecer minha companhia e uma carona. — ele tentou pegar minha mão machucada, mas a puxei rapidamente, me livrando do seu toque.

Assim que ele falou o nome da minha irmã, eu me visualizei apertando aquele pescoço de girafa que ela tem, até a morte. Já podia até imaginar qual seria a manchete no dia seguinte:

Jovem mata irmã mais velha, por ter dado uma de cupido e se intrometido em vida alheia.

— Eu não preciso de carona, posso muito bem ir de ônibus. São apenas cinco horas de viagem. — peguei minha mala, com a mão que não estava doendo, e tentei passar por ele.

Mas ele tinha que ser clichê e me puxar de volta.

— De carro é muito mais rápido, Ju. Vamos, eu prometo que não vou te irritar. — isso era um pouco impossível, já que ele estava me irritando só por estar respirando. — E você vai mesmo querer ir de ônibus? Você sabe o que acontece quando soma você, uma viagem longa e aqueles ônibus.

Ele não precisava me lembrar que toda vez que eu faço uma viagem longa naqueles ônibus com ar-condicionado, eu chego no meu destino mais verde que a Gamora, a mesma coisa acontece quando estou em alto mar.

Respirei fundo e me preparei para fazer uma das maiores burradas da minha vida.

— Tudo bem. — concordei e Caio abriu um sorriso brilhante, digno de comercial de pasta de dente.

• • •

Amanhã é o grande dia da minha irmã, o casamento será realizado na chácara que nossa família mantém no interior, meus pais e Isabela foram ontem porque queriam acompanhar toda a arrumação de perto para terem certeza de que o casamento será perfeito, como hoje eu tinha uma prova importante na faculdade e não poderia faltar, tive que ficar.
Eu já havia combinado com Lucas, irmão do noivo, que iríamos juntos já que eu não tenho carteira de motorista e muito menos um carro, por isso dependo da boa vontade das pessoas em me dar uma carona. Mas ele acabou indo mais cedo, e agora com essa aparição surpresa do Caio, eu não tenho dúvidas que tudo foi armação da minha querida irmã.

Será que ela não podia se preocupar com seu casamento e parar de se intrometer na minha vida?! Eu agradeceria.

Eu estava com raiva, muita raiva, e talvez o fato de estar na TPM tenha aumentado essa raiva em níveis estratosféricos.

Eu sabia que Caio havia voltado de Boston nessa semana, mas não imaginei que ele viesse me procurar, ver Caio na minha frente depois de quase dois anos, ao mesmo tempo em que me trazia mágoa, também fazia borboletas voarem no meu estômago. Não era justo ele ter ficado longe por tanto tempo e ainda conseguir mexer comigo desse jeito.

— Eu soube do Snoopy, sinto muito. — Caio falou, quebrando o silêncio desconfortável que pairava no carro desde que ele havia o ligado.

Ele realmente achava que falar sobre o meu falecido cachorro seria um bom assunto para iniciar uma conversa?!

— Isabela fez um bom trabalho, te mantendo informado sobre a minha vida, enquanto você estava fora. — ironizei e ele suspirou.

— Juliana, eu... — ele tentou falar mas eu o cortei.

— Você disse que não iria me irritar. — lembrei e ele bufou.

— Uma hora ou outra nós vamos ter que conversar sobre Boston. — reclamou e eu soltei uma risada irônica.

— Agora você quer conversar? Você deveria ter feito isso antes de terminar comigo e ir para Boston uma semana depois. Sabe o quanto doeu saber que você já estava planejando essa viagem a semanas e que ao invés de me contar, você preferiu terminar? — meus olhos já estavam lacrimejando, mas eu não iria chorar, não mais. — Acho que você está um pouco atrasado para essa conversa.

— Ju, eu fiz isso pensando no melhor para você. Eu não queria que você sofresse. — ele soltou uma das mãos do volante e passou pelo cabelo.

Então eu me lembrei de como adorava passar as mãos por ali quando nos beijávamos, de como me sentia amada e protegida em seus braços. Mas também me lembrei de quando ele apareceu na minha casa dizendo que nós não estávamos dando certo e que queria terminar, uma semana depois eu soube que ele tinha ido para Boston, sem previsão de volta.

— Não, Caio. Você fez isso pensando apenas em si mesmo, você não queria nada que te prendesse aqui no Brasil, você queria curtir e aproveitar sua vida em outro país.

— Eu fui à trabalho, Juliana. — passou mais uma vez a mão pelo cabelo, sinal de que estava nervoso.

— Tenho certeza absoluta de que você não ficou trancado em um escritório durante toda sua estadia por lá.

— Juliana...

— Eu não quero falar sobre isso, a viagem vai ser longa e eu não quero que o clima entre nós fique pior do que já está. — pedi, encarando o trânsito à nossa frente.

Durante todo o trajeto até a chácara eu fiquei em silêncio, ele até tentou puxar assunto algumas vezes, mas eu o ignorei. Assim que Caio estacionou, me apressei em sair do carro, ficar naquele espaço tão pequeno com ele estava me deixando sufocada, ignorei os gritos de Isabela e corri para o quarto que eu sempre fico quando venho passar um tempo aqui.

Eu só queria ficar sozinha.

Sei que já haviam se passado quase dois anos e eu deveria ter esquecido isso. Eu até tentei, tentei esquecer tudo que vivi ao lado de Caio enquanto namoravamos, tentei esquecer do quanto ele era lindo e ficava ainda mais quando sorria, tentei esquecer das suas juras de amor e de como eu era feliz ao lado dele, eu tentei esquecê-lo. Mas eu não consegui e acabei entendendo que mesmo tendo me magoado, ele sempre vai ser o meu primeiro amor de verdade, muito mais que uma paixão de adolescente, muito mais do que eu já senti por outra pessoa.

Mesmo que eu sinta raiva e tente fingir que não o amo, apenas ele tem acesso direto ao meu coração.

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