Capítulo 1: Sonhos ou pesadelos.

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    Amber me chamou para sentar-me no sofá, ficamos algum tempo em silêncio talvez por conta da timidez. Aí que eu me toquei, que teria que ser eu à puxar assunto.

—E então, você tem quantos anos?

—Tenho 17. —ela deu um sorriso no canto do rosto. —E você?

—Idem.

   E novamente o silêncio reinava, não entendo porque não conheci ela antes. E ela parecia que não fazia a menor questão de saber.
   Algum tempo depois minha avó anunciou que o almoço estava pronto, Amber foi rapidamente na frente. Cheguei à me assustar.

—E então, George...—disse Amber com a boca cheia. —O que faz aqui?

   A timidez dela era fome?

—Meus tios foram viajar, por isso tive que vir. —eu disse dando a primeira garfada na costela. —E você?

  Ela sorriu ironicamente.

—Eu moro aqui.

Fiquei em choque, como ela mora aqui?

—Amber mora aqui há 2 anos. —disse minha vó respondendo minha pergunta mental. —Ela perdeu os pais com 15. Eu precisava de companhia, então, por quê não?

Quando a minha mãe morreu você não me aceitou.

—Verdade. —eu disse frustrado. —Vou deitar um pouco.

—Não vai terminar de comer? —disse Amber. —A comida tá tão boa, fizemos especialmente pra você.

—Não, perdi o apetite. —eu disse limpando a boca com o guardanapo. —Mesmo assim, obrigado.

Que decepção, minha vó há 20 minutos parecia uma pessoa tão legal. Mas agora não se ela parece tão legal assim.

Quando subi um andar, não pude deixar de reparar um outro andar. O sótão. Nas épocas que eu perambulava por aqui, não tinha. Aí eu pensei, por quê não bisbilhotar? Assim que abri a porta do sótão, uma mão gelada tocou o meu ombro.

—Não pode entrar aí.

Me virei rapidamente com o coração na mão, era a Amber.

—Por que não? —questionei. —O que tem lá dentro.

—Coisas da vovó, também não sei o que é. —ela disse se virando. —Vem.

Eu a acompanhei.

—Esse aqui é o seu quarto, o de hóspedes. —ela disse abrindo a porta. —Fica à vontade para mudar os móveis de lugar, já não fazemos isso há um bom tempo.

—Amber. —eu disse chamando-a.

Ela se virou.

—Como sabia que eu ia pro sótão? —eu perguntei.

—Eu não sabia. —ela disse fechando a porta.

O que minha vó guarda tanto naquele porão? Enquanto repousei na cama, fiquei pensando nisso.
Quando anoiteceu, Amber foi me chamar no quarto.

—George. —ela bateu na porta. —Posso entrar?

—Pode sim.

—A janta está pronta. —ela disse sorrindo. —Você não vem?

—Vou. —eu disse me levantando.

Jantar às 18:00?

—Vocês jantam cedo mesmo? —perguntei.

—Jantamos cedo, dormimos cedo, acordamos cedo. —ela disse listando as coisas que faziam.

Eu desci e minha vó já estava sentada à mesa, comendo. Havia algo de estranho naquela casa, e com a minha vó também, ela estava estranha...não era a Jenna que eu conhecia. Algo naquele momento me dizia que não estava certo.
Assim que terminei de comer, subi pro meu quarto. Esperei tardar um pouco e fui pro sótão.

Ele estava aberto, e estava iluminado por uma vela apenas. Encontrei a Amber lá, no celular...sozinha. Fui entrando aos poucos.

—Mãe, fica calma. —ela disse falando baixo. —Eu já estava na reta final, até esse idiota chegar. Espertinho ele.

—Pensei que tivesse dito que não podíamos entrar aqui. —eu disse.

—Hã? —ela disse assustada. —Tenho que desligar, depois retorno. O que você quer, George? Tá perdido?

—Pensei que você tivesse dito que não podíamos entrar aqui. —repeti a pergunta.

—E não podemos. —ela disse. —Eu estou aqui porque eu quero privacidade, o meu quarto fica muito perto do dela.

Eu fui entrando mais no sótão...

—O que tem aqui que não podemos ver? —perguntei bisbilhotando. —Você deve saber, não deve ser a primeira vez que você vem aqui.

Amber me virou pro rosto dela e me fez reparar uma característica que eu não havia reparado, seu olhos estavam bem pretos, quase todo preto.

—Seu...olho. —eu disse chegando mais perto do rosto dela. —Tá preto...

—Não, não está. —ela disse mostrando nervosismo. —Vamos, saia daqui.

Descobri então, que o segredo não era com a minha avó...e sim com a Amber. Pude perceber que ela falou na ligação "Mãe, fica calma...", mas os pais dela não tinham morrido quando ela tinha 15?
Eu estava no último degrau quando me virei rapidamente.

—Seus pais não tinham morrido? —eu perguntei.

—Você já mais entenderia, George. —ela disse sentando em um dos degraus. —Às vezes temos que pagar certos ônus, para ter algum bônus. Entende?

—Não. —balancei a cabeça. —Se você explicasse diretamente, talvez eu entendesse.

—Você veio em momento errado, George. —ela disse ficando com o olho totalmente preto e uma voz extremamente fina.

Eu me levantei rapidamente por extinto.

—Amber? —eu disse. —O que foi?

Os olhos dela ficaram castanhos novamente...

—George, não consigo mais controlar. —ela disse subindo rapidamente e fechando a porta do porão.

O que está acontecendo com a Amber?

À um passo do inferno (temporariamente parada) Onde histórias criam vida. Descubra agora