O Começo

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MAJO

— Ela vai vir comigo e ponto final! - disse o homem alto e loiro, coberto do pescoço aos pés por uma armadura de metal, escura como a noite.

"Daniel?" - pensou Majo, tendo a sensação de que aquele homem e o seu amigo Daniel eram a mesma pessoa, apesar de serem dois seres completamente diferentes.

— Nada disso. O lugar dela é aqui, protegendo as pessoas que precisam - falou uma segunda voz, tão cheia de autoridade quanto a primeira.

Mais uma vez teve a sensação de que conhecia aquelas pessoas.

"Jaime?" - pensou, perplexa - "Não pode ser..."

— Então vai ser assim? - continuou Daniel, com os cabelos loiros balançando ao vento.

"O que tá acontecendo? O Dani nem é loiro. Por que eu tô sentindo que esse cara e ele são a mesma pessoa? Será que eu tô ficando maluca?"

— Eu não posso permitir que você leve a Majo daqui - Jaime elevou a voz ao máximo para que todos pudessem escutá-lo - Nem que eu precise passar por cima de todos os seus homens!

A multidão começou a gritar, se preparando para o combate.

"Onde é que eu tô? Quem são essas pessoas? Por que o Jaime tá com o cabelo longo e vermelho? Ai meu Deus, será que eles tão brigando por mim?"

Os estandartes escuro-arrouxeados, ao lado de Daniel, e os branco-avermelhados, ao lado de Jaime, começaram a se movimentar, indo de encontro uns aos outros. Dava pra ver no rosto de cada um daqueles milhares de guerreiros que a guerra seria tão violenta quanto nos filmes de fantasia.

"Eu não posso permitir que isso aconteça. Eu não posso..."

Foi só o que conseguiu pensar antes da escuridão tomar conta de tudo. De repente, estava diante de uma armadura enferrujada, com diversas espadas, escudos e outras armas dispostas numa parede branca e sem fim.

— Maria Joaquina?

Diante dos seus olhos surgiu Cirilo, cutucando seu braço e fazendo com que ela despertasse do transe.

— O que foi, Cirilo? Eu já disse que não gosto que me toquem - sua voz saiu tremida como se estivesse com medo de alguma coisa.

— Desculpa, Maria Joaquina. É que você tava aí com cara de boba. Parecia até que tava sonhando acordada.

De todas as vezes que fora incomodada por Cirilo, aquela definitivamente era a melhor delas.

— Sabe de uma coisa, Cirilinho. Vamo sair dessa sala né. Eu odeio essa coisa toda de Idade Média.

Estavam no Museu de Antiguidades, em mais uma das aulas de campo que os alunos do nono ano tanto gostavam. Dessa vez, porém, a animação tinha tomado conta de todos, exceto de Majo, que não estava se sentindo muito bem naquele dia.

Do nada, Paulo apareceu diante dos dois.

— Olha só isso, Cirilo!

Em suas mãos estava um arco brilhante, provavelmente feito com os ossos de algum animal selvagem.

— Ual, que maneiro! - exclamou Cirilo, completamente admirado.

— Larga isso, Paulo. A professora Helena disse que não era pra gente mexer em nada - disse Majo, com cuidado para não encostar nas peças.

Quando a menina se deu por conta, todos ao seu redor estavam segurando alguma arma medieval, aproveitando que não tinha mais ninguém na sala além deles.

Sua cabeça começou a doer, como se uma voz gritasse das profundezas de sua mente, alertando que aquilo era muito perigoso. Infelizmente, ninguém parecia ouvir os seus conselhos. Nem mesmo Daniel, o aluno mais comportado da turma.

— Você já viu como essas coisas são pesadas? - ele perguntou para ela, erguendo uma espada maior que os seus braços e tão pesada quanto um bloco de chumbo.

— Nossa, Dani. Até você - ela comentou, em ar de desaprovação.

Ele, ao invés de devolver a espada para o lugar de onde havia tirado, passou a caminhar pelas prateleiras, como se estivesse à procura de algo específico.

— Você não vai experimentar nada? - perguntou alguém, pelas suas costas.

Era Jaime, erguendo uma outra espada, tão longa quanto a de Daniel, porém com a lâmina um pouco mais fina e com alguns ornamentos a mais.

— Ai, Jaime. Tira essa coisa de perto de mim, por favor - ela disse, dando alguns passos para trás.

— Desculpa... Eu achei que você ia gostar...

De repente, o rosto de Jaime corou feito a parte de dentro de uma melancia. Ela nunca tinha visto ele daquele jeito.

— O que foi? - ela perguntou, vendo que ele tinha permanecido ali, parado.

— É que eu... Quero te dizer uma coisa...

Suas bochechas continuaram cor de rosa, enquanto rios de suor caíam da sua testa. Daniel voltou em seguida, interrompendo a conversa.

— Olha o que eu achei. É a sua cara - ele ergueu um colar em sua direção e o colocou em volta do seu pescoço.

Jaime pareceu não ter gostado da cena.

— Daniel... Eu... Eu prefiro não mexer nessas coisas...

Ela tentou se afastar, mas Daniel foi mais rápido e terminou de colocar o colar, fazendo com que ela ficasse ainda mais bonita.

O colar tinha uma pedra azul na ponta. Algo nunca visto antes pelos olhos de Majo. Um azul cor do céu, encantador e ao mesmo tempo misterioso. Como se dentro dele estivessem escondidos segredos ocultos.

— Você não ouviu o que ela disse? Ela não quer essa porcaria de colar - disse Jaime, apontando a espada que estava segurando na direção de Daniel.

— Nossa, Jaime. Pra que essa raiva toda? É só um colar...

Daniel ficou sem jeito. Ao seu lado, todos os outros se aproximaram, cercando os três em um círculo improvisado.

Imediatamente, Majo se lembrou do sonho onde Daniel e Jaime estavam mudados e pareciam lutar por ela. Aquilo encheu seu coração de aflição, como se a partir dali nada mais fosse ser o mesmo de antes.

— Gente, para com isso agora - ela ordenou, sentindo um calafrio lhe subir pela espinha.

— O que foi, Daniel? Tá com medinho? - perguntou Jaime, mantendo a espada apontada para o amigo.

— Medo? Só se for dessa sua cara medonha.

Ao proferir suas palavras, Daniel fez com que todos caíssem na gargalhada, aumentando ainda mais a ira de Jaime.

— Ah é...

Majo viu que os dois estavam dispostos a lutar, assim como no sonho, e resolveu tentar mais uma vez fazer com que eles parassem com aquilo.

— Gente, eu não tô gostando dessa brincadeira.

A situação ficou ainda pior quando ela viu que todos estavam tomando partido na discussão.

— Vai Jaime, mostra pra ele o poder da sua cara medonha - disse Paulo, incentivando a briga.

— É isso aí Dani, esse Jaime tá cheio de marra - falou Valéria, com um sorriso no rosto.

— Não gente. Pelo amor de Deus, parem com isso!

As palavras dela mais uma vez foram em vão.

Ao desejar profundamente que os seus amigos não se machucassem, Majo sentiu o colar pulsando próximo ao peito. Nesse instante, seu coração começou a bater em sintonia com a pedra azul, fazendo com que uma luz branca surgisse diante de todos, tomando conta da sala como um verdadeiro milagre.

Mas todo milagre vem acompanhado de grandes consequências.

Carrossel e as Relíquias do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora