PAULO
Quando Paulo entrou na tenda onde seria realizada a reunião do conselho, só haviam duas pessoas lá dentro, sentados em uma mesa com lugar para mais três. Uma delas era um rapaz alto, forte e espaçoso, que devorava o banquete como se fosse seu inimigo mortal. A outra era uma moça de cabelos curtos e avermelhados, reservada e fria, como deveria se comportar a Mestra de Armas da Colônica Antiga.
Paulo decidiu que aquilo não iria intimidá-lo de jeito algum. Eram duas pessoas aparentemente fortes, mas que provavelmente o respeitavam por ser o conselheiro do príncipe. Sentou o mais longe possível dos dois e esperou em silêncio até que alguém dissesse alguma coisa.
- Pelo amor de Deus, Jaime. Assim você vai acabar com toda a comida antes de todo mundo chegar - sussurrou a moça, puxando levemente o prato de comida da frente do rapaz.
- Dá pra parar de ser chata, Alícia? Eu sou o membro principal desse conselho e preciso me alimentar devidamente - o rapaz respondeu, sem tirar os olhos da enorme coxa de frango, suculenta e coberta por um molho denso e escuro.
O coração de Paulo quase saiu pela boca.
- Jaime? Alícia? - suas palavras pareciam uma verdadeira explosão dentro da pequena tenda.
- Oi, Guerra - disse Alícia, com cara de quem não estava nem aí para ele - Há quanto tempo.
Os três tinham mudado bastante. A começar pelas roupas, que definitivamente não eram nada parecidas com as que costumavam usar no lugar de onde vieram. Jaime parecia um guerreiro Samurai, enfiado numa armadura vermelha, bem mais elegante do que o seu uniforme amarrotado, e coberto por uma túnica branca, digna de alguém da realeza. Já Alícia usava um vestido curto e botas de couro até o meio da coxa, ambos vermelhos, e tinha os braços cobertos por uma armadura branca e dourada.
- Ué, o que deu em vocês dois pra estarem com essa cara? Não gostaram de me ver?
- Foi mal, Paulo - disse Jaime, estendendo a mão coberta de molho na direção de Paulo - É que o clima por aqui não tá dos melhores, sabe?
Paulo até tentou cumprimentá-lo, mas preferiu não encostar suas mãos limpas naquela gororoba toda escorrendo dos dedos do amigo.
- Mal chegou e já quer atenção? - comentou Alícia, reparando discretamente no novo visual de Paulo.
O menino sentiu vontade de retornar a grosseria mas antes de abrir a boca, Jaime continuou a falar.
- Agora que você tá aqui eu me sinto um pouco mais seguro. Essa daí tá parecendo a Diretora Olívia, de tão chata - apontou com olhos na direção de Alícia.
Ao dizer isso, Jaime soltou um longo arroto, fazendo com que Paulo caísse na gargalhada. Em seguida, moveu o braço em direção à bandeja de frango, porém foi impedido pela garota no meio do caminho.
- Se você mexer mais um dedo, eu juro que arranco o seu braço e dou de comida aos porcos - pela força com que segurava o braço dele, Alícia parecia estar falando bastante sério.
Paulo parou de rir na mesma hora.
"Por que será que ela tá agindo dessa forma, toda irritadinha?" - ele se perguntou - "Até que ela fica bem gata com essa cara de malvada..."
- E você? - Alícia olhou na direção de Paulo - Tá olhando o quê?
Felizmente, ele tinha uma resposta na ponta da língua.
- Nada... Só achei que você ia ficar mais feliz em me ver.
De alguma forma, aquilo conseguiu quebrar um pouco o gelo que mantinha Alícia distante de tudo e de todos.
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Carrossel e as Relíquias do Destino
Hayran KurguQuando as duas maiores cidades do reino entram em uma guerra sem fim, somente as Relíquias do Destino poderão salvar a humanidade da destruição. De um lado, aqueles que querem voltar para casa. Do outro, os que decidiram ficar. Romances, traições...