O Despertar

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PAULO

Paulo acordou em meio ao som de carroças sendo puxadas e feirantes anunciando seus produtos.

Aquela definitivamente não era sua terra natal.

— Onde é que eu tô? - ele perguntou, esfregando as mãos nos olhos, após o que parecia ter sido uma longa noite de sono.

O homem à sua frente, sentado próximo a entrada da tenda se aproximou lentamente. Suas vestes lembravam um cavaleiro da Era Feudal, em uma mistura de branco e vermelho.

— Nós estamos no caminho para a Cidade Livre de Crimea, senhor. Este é o quinto dia de viagem.

Os dois ficaram se olhando por algum tempo.

"Crimea? Quinto dia de viagem? Que loucura é essa que esse cara tá falando?" - Paulo se perguntou, na medida em que tomava coragem para levantar da cama improvisada, feita de palha e algumas cobertas de algodão e seda.

Não pôde deixar de notar a espada presa à cintura do homem. Era bem parecida com as que estavam exibidas nas paredes do museu e isso fez com que fosse se lembrando aos poucos do ocorrido.

— O senhor tá precisando de alguma coisa? - perguntou o homem, sem tirar os olhos da entrada da tenda.

— Cadê todo mundo? E por que você tá me chamando de senhor?

O medo foi se instalando em seu interior. Primeiro, um barulho infernal como se estivesse no meio de uma feira, e depois aquele homem misterioso, vestido como se estivesse preparado para guerra. De repente, um grito de menina irrompeu no ar.

— Marcelina?

Paulo saltou da cama de uma vez e caminhou calmamente até a entrada da tenda.

— Você ouviu esse grito? Parecia a voz da minha irmã - disse, enquanto espreitava entre as cortinas que cobriam a entrada.

Lá fora, todos pareciam estar numa grande correria. Crianças brincavam de caçar borboletas, jovens desfilavam com todo tipo de arma, embainhadas por uma camada de couro ou soltas ao vento, cortando o ar gélido que caía sobre o vilarejo improvisado.

O grito se repetiu, dessa vez com o dobro de intensidade.

— É ela! - disse Paulo, preocupado - Onde tá a minha irmã? O que vocês fizeram com ela?

O tom de acusação pegou o homem de surpresa.

— Ela está descansando na tenda ao lado, senhor. Algum problema?

— Problema? Como assim algum problema? Eu acordo em um lugar esquisito, cheio de gente vestida... Assim, que nem você...

Ao perceber que o homem não estava entendendo o motivo do alvoroço, Paulo olhou para as próprias roupas e viu que estava vestido como se pertencesse àquele lugar. Também notou que estava mais alto e com um tom de pele mais claro.

— Alguém pode me explicar o que diabos tá acontecendo?

Uma dor insuportável invadiu a sua cabeça. Memórias vagas de uma outra vida, mais agitada e violenta que a sua, surgiram de repente, fazendo com que ele ficasse ainda mais confuso.

— O senhor tá se sentindo bem? Quer que eu chame algum curandeiro? - o homem perguntou, aflito.

— Me deixa sozinho. Eu preciso descansar.

Ainda com as mãos na cabeça, Paulo sentou de volta na cama e encolheu os joelhos, pensativo. O homem ficou um tempo observando a sua dor e, somente após uma encarada hostil, resolveu deixar o garoto à vontade.

Carrossel e as Relíquias do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora